A Charanga vai à Europa!
A Charanga do França cruza o Atlântico e começa sua primeira turnê internacional neste fim de semana, quando levam o clima do carnaval paulistano para a Europa. Conversei com o fundador da banda, o maestro e manda-chuva Thiago França, em uma matéria que fiz sobre a viagem para o Toca UOL e ele comenta a possibilidade da viagem, que passa pela Inglaterra, Dinamarca e Holanda, faça as pessoas perceberem que o grupo não é uma atração de carnaval. “Assim os programadores talvez percam a resistência de achar que é muito nichado por ser instrumental ou muito sazonal, por ser carnavalesco”, me explicou na entrevista.
‘Prontos pra fazer dançar’: Charanga do França leva Carnaval para a Europa
Com mais de uma década de desfiles cada vez mais lotados no Carnaval de rua do bairro de Santa Cecília, em São Paulo, a Charanga do França expande suas fronteiras para além do território brasileiro neste semestre. O grupo embarca nesta quinta-feira para a Europa, quando realiza sua primeira turnê internacional, com datas na Dinamarca, Reino Unido e Holanda, disposto a levar o clima do Carnaval de rua paulistano para o velho continente.
Serão seis datas em formatos diferentes. O primeiro é sábado (5) no festival Roskilde, na Dinamarca. “Faremos uma apresentação de palco e depois vamos em cortejo”, explica o maestro fundador do grupo, o saxofonista Thiago França.
Além da Charanga, ele também é um terço do fantástico grupo Metá Metá (ao lado de Juçara Marçal e Kiko Dinucci) e já tocou com quase todo mundo da nova música brasileira, de Criolo a Don L, passando por Céu, Tulipa Ruiz, Marcelo D2, Rômulo Froes e Negro Leo, além de ter tocado com titãs do naipe de Tony Allen, Elza Soares, Ney Lopes, João Donato e Sun Ra Arkestra.
“Em Londres vai ser palco e no festival de North Sea, em Roterdã, na Holanda, onde faremos uma residência de quatro dias, vamos fazer cortejo no meio do festival, tocar na rua e também em palco”, continua o maestro.
“Nos cortejos a gente valoriza bastante os temas e tem muito espaço pra percussão, já no North Sea, que é um festival de jazz, a gente aumenta o tempo dos solos, mas no geral, os shows da Charanga são sempre muito rítmicos, muito dançantes e estamos curiosos pra ver como os gringos vão dançar.”
A ida do grupo para o exterior é uma conversa que acontece desde antes da pandemia, mas que só conseguiu consolidar-se agora, que Thiago espera ser a primeira de muitas. “Já tivemos uma coletânea em vinil lançada pela Mais Um Discos, selo inglês que também lançou os discos do Metá Metá lá fora e algumas pessoas já estão ligadas no som, como o (DJ e produtor) Gilles Peterson, que já tocou música da Charanga no programa dele e já emplacamos música até na rádio do The Sims 4, agora tá na hora de ir trabalhar presencial.”
Além de Thiago no sax e na regência, o grupo ainda conta com Amilcar Rodrigues (trompete), Allan Abbadia (trombone), Anderson Quevedo (sax barítono), Filipe Nader (sousafone) e Sthe Araújo, Samba Sam e Mestre Pimpa (percussões) em sua formação. Esse núcleo aumenta consideravelmente na apresentação da segunda-feira de Carnaval, quando a Charanga sai em bloco, mas são esses os músicos que orientam a folia paulistana por todo o Brasil, mesmo fora do carnaval.
Pois embora esteja no centro de um bloco, a Charanga é um grupo que não depende apenas das folias mominas para existir, o que ainda é uma barreira para o grupo aqui no Brasil, que é escanteado de programações musicais primeiro por ser instrumental e depois por estar ligado ao bloco carnavalesco.
Thiago torce pra que essa percepção brasileira sobre o grupo mude com essa ida do grupo para a Europa. “Assim os programadores talvez percam a resistência de achar que é muito nichado por ser instrumental ou muito sazonal, por ser carnavalesco. Estamos prontos pra botar o público pra dançar em qualquer festival, em qualquer época do ano.”
Isso acaba resvalando também na percepção que o grupo tem também na produção fonográfica. “A banda começou e lançou disco antes mesmo de ter ido pra rua pela primeira vez e ainda tem muita gente com a percepção de que a Charanga é um som só de carnaval”, continua França. “Assim como aconteceu com o Metá Metá, lá fora a gente toca em festival pop, de jazz, de world music, e aqui, apesar dos quase dez discos lançados, ainda estamos lutando pra quebrar essa resistência.”
O posicionamento político também é uma marca registrada do grupo, que não fará diferente nas apresentações pela Europa. “A gente sempre fala sobre o Brasil lá fora, em 2016 o Metá levou uma faixa denunciando o golpe do Temer”, lembra Thiago, arrematando que “dessa vez tô com meu keffiyeh (lenço tradicionalmente usado no contexto Palestino) e uma bandeira do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) na mochila.”
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