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Todo poderoso Ney

, por Alexandre Matias

A última vez que havia visto Ney Matogrosso ao vivo foi em novembro de 2023 quando, ao lado do pianista Leandro Braga, ele realizou uma apresentação deslumbrante no palco do Sesc Pinheiros. E por mais comedido que o formato voz e piano poderia parecer, ele ultrapassou o recato da formação e facilmente dominou o público, conquistando, mestre que é, a plateia apenas com sua presença formidável e sua impactante e encantadora voz. Dois anos depois e novamente o reencontro num ambiente completamente diferente, quando encerrou o ano memorável – puxado pelo filme Homem com H, de Esmir Filho – hipnotizando uma multidão gigantesca com seu corpo e voz no estádio do Palmeiras. O repertório é o mesmo que ele vem tocando nos shows mais recentes, passeando por clássicos da música brasileira fora do cânone tradicional e só o trio de canções na abertura (a arrebatadora “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua” de Sérgio Sampaio, que batiza o novo show; a empolgante “Jardins da Babilônia” de Rita Lee e o groove latino dos Palaramas em “O Beco”) já deixou o público aceso. A partir daí pode visitar canções menos manjadas (como duas de Itamar Assumpção – “Já Sei” e “Já Que Tem Que” -, “Tua Cantiga” de Chico Buarque, a parceria de Chico com Fagner em “Postal de Amor”, “Estranha Toada” de Martins e “A Maçã” de Raul Seixas) temperada com outras bem conhecidas da plateia (como “Yolanda” de Pablo Milanés, “Pavão Mysteriozo” de Ednardo, “Mesmo Que Seja Eu” de Erasmo Carlos, “O Último Dia” de Paulinho Moska e “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” de Hyldon), sempre seduzindo a massa com os movimentos de seu corpo, seu olhar penetrante e sorriso sincero. Sem contar a voz: como canta esse Ney! E seu timbre parece não ter envelhecido um milímetro desde que entrou na história da cultura brasileira há mais de meio século. A partir daí, este senhor de 84 anos voltou-se para as canções que lhe deram fama, emendando três dos Secos e Molhados (“Fala”, “O Vira” e uma versão roqueira demais pra “Sangue Latino”), “Pro Dia Nascer Feliz”, que ele tornou famosa para o Barão Vermelho e “Homem Com H”, que encerrou a noite, que ele ainda embrenhou “Como Dois e Dois” de Caetano Veloso, “Poema” também do Barão, “A Balada do Louco” dos Mutantes e uma irresistível versão para “Roendo as Unhas”, do Paulinho da Viola. Falando pouquíssimo com a audiência, ele soltou o verbo mais pro final do show, quando, emocionado, disse que não iria fazer o mis-en-scene do bis e ficou direto no palco, eletrizando a todos em quase duas horas de show. Um momento mágico para encerrar um ano intenso. Obrigado, Ney!

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