Balaclava no centro do indie brasileiro

Além de falar sobre os shows do Stereolab e do Yo La Tengo também fiz um balanço sobre esta edição do Balaclava Festival em mais uma colaboração para o Toca UOL, quando aproveitei para reforçar que a produtora por trás do evento vive seus melhores dias e está no epicentro do indie brasileiro, seguindo uma tradição que remonta tanto aos primeiros shows de rock alternativo em grandes festivais como Hollywood Rock e Free Jazz quanto às primeiras vindas de artistas internacionais independentes para o Brasil por culpa da Motor Music, ainda nos anos 90.
Balaclava Fest consolida sua produtora como centro do indie rock no Brasil
A 15ª edição do Balaclava Festival, que reuniu os veteranos Stereolab e Yo La Tengo neste domingo no Tokio Marine Hall, em São Paulo, como cabeças da apresentação, consolida o evento como o principal festival indie do Brasil atualmente e coloca a produtora que o realiza, criada pelos ex-integrantes do grupo Single Parents, Fernando Dotta e Rafael Farah, no epicentro dessa cena no Brasil.
Com shows memoráveis —um impecável Stereolab, um inspirado Yo La Tengo e uma apresentação incendiária de Geordie Greep com de músicos brasileiros—, ao lado de atrações brasileiras lançadas pelo selo (como Gab Ferreira, Walfredo em Busca da Simbiose e Jovens Ateus), o festival consagra o trabalho da dupla como agentes de uma comunidade que persegue fielmente os artistas lançados pelo selo, seja em shows internacionais no Brasil, seja em discos de artistas nacionais. A edição deste domingo marcou o ápice dessa fase atual da banda, em que, mesmo com o som embolado como característica marcante do palco secundário, tornou o festival pequeno para o Tokio Marine Hall.
Dotta e Farah seguem duas tradições que começaram ainda nos anos 90 e reúnem estas duas pontas em seu trabalho atual. A primeira delas acontece com a explosão do rock alternativo no início daquela década, quando festivais com grandes patrocinadores passaram a dar atenção a uma cena independente de artistas que não tocavam no rádio nem vendiam tantos discos. Neste mesmo período, iniciativas independentes brasileiras começaram a trazer outros artistas desta mesma cena para shows esporádicos, o que aconteceu justamente nas primeiras vindas dos próprios Yo La Tengo e Stereolab ao país, na virada do século.
O festival Hollywood Rock, que surgiu nos anos 80 como contraponto ao novíssimo Rock in Rio, a partir dos anos de sua edição de 1993 (que trouxe Nirvana, Red Hot Chili Peppers, L7 e Alice in Chains), começou a focar em artistas alternativos e, em um único dia de sua edição de 1995, reuniu Supergrass, White Zombie, Smashing Pumpkins e The Cure. Ao mesmo tempo, a pioneira produtora indie de Belo Horizonte Motor Music, fundada a partir da primeira vinda do grupo Fugazi ao Brasil, fazia os primeiros shows de artistas independentes norte-americanos como Superchunk, Man or Astroman? e Seaweed por aqui.
Essa mesma produtora trouxe Stereolab e Yo La Tengo (e depois Tortoise, que tocou com Tom Zé; Cat Power, Jon Spencer Blues Explosion e Mogwai) para apresentações históricas em unidades paulistanas do Sesc. Neste mesmo período, a lacuna indie aberta no grande escalão do mercado brasileiro pelo Hollywood Rock (que terminou em 1995) seguiu nas mãos de outro festival, o Free Jazz, que trouxe pela primeira vez ao país nomes como Massive Attack, Sonic Youth e Belle & Sebastian.
O fim do Free Jazz em 2001 fez sua produtora montar outro festival no ano seguinte, o Tim Festival, que, logo no início do século, seguiu a ponta passada pelo evento anterior, trazendo para o Brasil pela primeira vez nomes como Beth Gibbons, Kings of Leon, The National, The Strokes, Wilco e Lambchop. Patti Smith, The Rapture, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs, The Killers, PJ Harvey, Primal Scream, Libertines, The Mars Volta, Arcade Fire e Arctic Monkeys também passaram pelo festival.
No mesmo período, o festival curitibano CPF fez três edições trazendo pela primeira vez ao país nomes como Breeders, Pixies, Teenage Fanclub, Weezer e Mercury Rev, entre outros, enquanto um dos produtores da Motor Music, Marcos Boffa, assumiu a curadoria de um novo festival, o Planeta Terra, que também trouxe pela primeira vez ao país nomes como Bloc Party, Spoon, Pavement, Suede, Gossip, Garbage, Interpol, Blur e Lana Del Rey, além de trazer novos shows do Sonic Youth, Beck, Smashing Pumpkins, The Strokes e Primal Scream.
Estes festivais terminaram ao entrar a nova década e encerraram uma das tradições dos anos 90, quando grandes marcas pararam de patrocinar festivais que traziam tais bandas. No início dos anos 2010, coube principalmente a duas produtoras independentes, a Popload, do jornalista Lúcio Ribeiro ao lado da produtora do CPF Paola Wescher, e a Balaclava, a começarem a fazer suas primeiras edições, tanto trazendo shows de artistas solo quanto realizando seus festivais.
A princípio a Popload saiu na frente trazendo nomes como The xx, Tame Impala, Wilco, Phoenix, PJ Harvey, Lorde, Patti Smith e Pixies, mas logo a Balaclava foi tomando terreno e, aos poucos, foi montando um invejável time de artistas gringos que trouxeram para o país, muitos pela primeira vez: Slowdive, Fleet Foxes, Warpaint, Dinosaur Jr., BadBadNotGood, Unknown Mortal Orchestra, American Football, King Krule, Whitney, Alvvays, Mac DeMarco, Ride, Deerhunter e Mercury Rev.
O período pós-pandemia ajudou ainda mais a Balaclava a consolidar-se como produtora de música ao vivo e só nesta virada entre outubro e novembro fizeram vários outros shows, quase todos lotados, além de seu próprio festival, fazendo shows com Helado Negro, Whitest Boy Alive, Cap’n Jazz e Refused, sem contar o show extra do Yo La Tengo (que acontece nesta segunda) e o show do Primal Scream na Áudio (na terça). O próximo desafio dos dois é manter o crescimento desta comunidade sem transformar o festival em um evento gigante ou que precise de marcas para sobreviver.
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