Yo La Tengo é tradição

, por Alexandre Matias

O Yo La Tengo também fez bonito festival da Balaclava neste domingo, sempre imprevisível, mas sempre com deixando aquelas brechas pro Ira Kaplan desossar a guitarra, como essa versão de quinze minutos de “I Heard You Looking”, que ainda teve o Tim Gane do Stereolab nos teclados. Também escrevi sobre esse show pro Toca UOL.

Banda emblemática do indie rock, Yo La Tengo saúda fãs com delírio elétrico

Em sua quarta vinda ao Brasil, o ícone indie Yo La Tengo marcou duas apresentações distintas em São Paulo. A primeira delas aconteceu neste domingo (9), quando o grupo esteve na programação do Balaclava Festival deste ano, que ainda reuniu artistas nacionais (Gab Ferreira, Walfredo em Busca da Simbiose e Jovens Ateus) e internacionais (Geordie Greep,Horse Jumper of Love e Stereolab) no Tokio Marine Hall.

A segunda apresentação do trio acontece nesta segunda-feira (10) no Cine Joia e o fato de ser um show dedicado a seu formato acústico, fez a performance do domingo inevitavelmente pender seu prumo para a eletricidade, o que, em se tratando de Yo La Tengo, quer dizer noise, microfonia e um volume colossal vindo da guitarra de um de seus fundadores, Ira Kaplan, cara-metade da baterista Georgia Hubley, com quem mantém o grupo desde o meio dos anos 80.

Discípulos de uma linhagem nova-iorquina que nasce no Velvet Underground, passa pelo Modern Lovers, atravessa o punk da turma do CBGB’s (Ramones, Patti Smith, Television) e descamba no noise do Sonic Youth, o grupo ainda conta com o baixista James McNew como terceiro elemento de equilíbrio sonoro desde o início dos anos 90 e foi essa tríade mínima e precisa que arrebatou até os mais incautos em sua apresentação de domingo.

Isso não quer dizer que o show tenha sido pautado apenas pelas incursões instrumentais de Kaplan (com sua indefectível camiseta listrada) em seu instrumento, quando é arrebatado pela eletricidade em longas odes ao ruído elétrico que fazem parte do cerne musical do trio. Ao contrário disso, a apresentação começou melancólica e delicada, com o guitarrista conduzindo a primeira versão de “Big Day Coming” tocando teclado enquanto seu instrumento ficou nas mãos de sua companheira, que desenhava arcos de microfonia “neilyoungiana” para acompanhar a insistente progressão de acordes que Ira conduzia às teclas.

Mas foi só a introdução daquela noite. Fazendo jus à expectativa de uma apresentação elétrica do Yo La Tengo, Ira abriu a segunda música com sua guitarra estridente que abriu caminho para apresentar “Sinatra Drive Breakdown”, faixa abertura de seu disco mais recente, “This Stupid World” (2023), numa versão de dez minutos.

Dadas as duas cartas distintas que pautaram o show, o grupo abriu uma terceira via e foi em um de seus hits, quando James assumiu os vocais da doce “Stockholm Syndrome” — que também contou solo hiperbólico de Ira.

A partir daí o jogo estava ganho e depois da delicada “Aselestine”, o guitarrista cumprimentou o público e emendou “The Summer”, do disco Fakebook (“lançado em 1990, antes de muitos de vocês nascerem”, brincou ao perceber a jovem idade do público), com “The Crying of Lot G” (lançada dez anos depois, no disco And Then Nothing Turned Itself Inside-Out). E assim seguiram a noite, perambulando pelo andamento simpático de “Mr. Tough”, pela agridoce “Ashes” (com Georgia no teclado e vocais), pelo noise da recente “Fallout” e pela hipnose de “Autumn Sweater”.

Tudo isso antes de entrarmos no capítulo final da noite, quando expandem um riff de guitarra a um dos momentos mais catárticos da banda, numa versão maravilhosa para o épico “I Heard You Looking” com 15 minutos em que, além de assistirmos Ira esbugalhar seu instrumento, ainda contou com o stereolab Tim Gane nos teclados.

O público saiu em êxtase ao deliciar-se com uma das bandas indies mais emblemáticas da história. Missão cumprida.

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