Francisca Barreto no próprio palco
Se há uma coisa que gosto de fazer é ver a evolução dos artistas, vê-los tomando consciência de experimentos estéticos e políticos ao traduzir suas vontades e aspirações em arte, não importa de qual natureza. E há muito tempo acompanho artistas em início de carreira, gente que, mesmo que não seja propriamente jovem, está começando a entender a natureza da própria linguagem e o impacto que ela tem no público, no inconsciente coletivo e em si mesmo. Quando falamos sobre música há dois palcos já estabelecidos que ajudam a forjar a identidade destes operários do som: um deles, o disco, tem pouco mais de um século de tradição e bem menos que isso como seu formato mais clássico, o álbum; enquanto o outro, o palco, é milenar e segue como principal veículo para a arte de qualquer músico (um terceiro, pós-moderno e recente, o palco online, aos poucos vem se impondo como novo escape para a produção artística). Desde que comecei a trabalhar como curador de apresentações ao vivo, há quase dez anos, percebi a centralidade do show como coração pulsante do organismo artístico, algo que o disco só consegue calcificar, engessar. E entre as centenas de artistas com quem trabalhei neste período, uma das carreiras que mais tenho gostado de ver desabrochar é a da violoncelista Francisca Barreto, que conheci em 2022 quando ainda fazia com a amiga Nina Maia (outra que acompanhei desde o começo e já estabeleceu-se como uma das revelações da música paulistana da década), e que aos poucos foi descobrindo sua própria identidade. No começo do ano passado, ela veio me propor fazer um primeiro show solo no Centro da Terra e desde então tenho a acompanhado na lapidação dessa primeira fase de sua vida artística em diferentes palcos, até que ela me chamou para dirigir sua primeira apresentação num Sesc, que acontece neste domingo, às 18h, no Sesc Belenzinho. E conhecendo-a como já conheço, não foi difícil tecer seu repertório num fio condutor coeso e crescente, sem perder a delicadeza, a intensidade e a carga dramática – e um tanto melancólica – que ela traz para o show. E o fato de ela ter reunido um time de músicos que elevam o nível musical à medida em que aumentam o astral do convívio em grupo (Bianca na bateria, Thales na viola, Valentim nos baixos, Kroner na guitarra, participação de Yann Dardenne e Nina Maia e a estreia dos sopros de Lucas Melifona) não só facilitou bastante meu trabalho como reforça a consciência que Chica tem do que quer fazer artisticamente. Unindo isso ao som tocado por Yann e por Anna Vis e com as luzes e elementos cênicos trabalhados ao lado de Ana Zumpano e Beeau Gomez, tenho certeza que quem for ao teatro do Belenzinho nesse domingo vai sair extasiado e com a certeza de ter visto um momento mágico na carreira de um artista. Ainda há ingressos disponíveis. Vamos lá?
Assista abaixo:
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