Cinco Perguntas Simples: Felippe Llerena

, por Alexandre Matias

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Na verdade, a partir do momento que a música se tornou um bem intangível ela já perdeu o suporte, pois o CD era o “armazenador” de música oficial, e os walkmans da vida, e o CD player era o “reprodutor” de áudio. Na medida que os “reprodutores” e os “armazenadores” se tornaram o mesmo, o suporte físico, tal qual conhecemos, deixar de existir. De certa maneira, música sempre vai precisar de algum hardware para ser reproduzido, ainda que a música em si possa ser transportada por vias eletrônicas, portanto de certa maneira o suporte físico continua existindo na media que necessitamos de um local para armazenar a musica, o que se traduz no HD do computador que tem um player virtual ou o MP3 Player – pois jamais teremos como fugir da armazenagem – portanto o CD ainda será um otimo armazenador de música e ainda deverá ser por muitos anos, mesmo que seja para fazer backup – mas o modelo CD ->fabrica -> loja -> consumidor -este está com os dias contados sim…

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
A música já é consumida hoje atraves de outros meios que não são levados ao consumidor através do CD e sim através do cinema, do videogame, da televisão, pela internet por meios digitais atraves de serviços de venda a la carte – como o iMusica e o iTunes – ou por assinatura via “all you can eat” – este modelo já existe – se deixar de pagar o mês seguinte, as músicas caducam e deixam de ser reproduzidas – mas temos é que fazer os jurídicos, autores, artistas e tecnologistas se falarem mais pragmaticamente para encontrarem um modelo comercial que agrade a todos, pois acredito que música deveria passar a ser considerado que nem sistema de encanamento de água de casa – você paga uma conta mensal e tem água à vontade, quase de graça. Mas se quiser uma Evian, vais pagar mais por isto.
Existem outras suposições e possibilidades, que a música poderá ser paga por algum patrocinador, mas no fim das contas o que vale é a música sob demanda. O perigo é que se a conta não for paga, o artista vai deixar de ter alguém para pagar a inspiração, uma vez que para gerar demanda, ainda necessitamos da oferta e isto é gerado a partir do marketing e nisto as gravadoras ainda detém este know how melhor que ninguém. Direção artística, por mais que artistas dizem que gravadora não serve mais para nada, quem melhor sabe adequar um artista a repertório é quem sempre fez isto no dia-a dia – e se matarmos este modelos, tal qual se desenha hoje, vamos ter que pensar em novas fórmulas de criar demanda de novas obras.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
De passar por todos os barracos e saber o que não queremos e escolher o que queremos a partir do esvaziamento da mídia de massa para mídia individual. O acesso à informação e tecnologia mudou o modelo econômico. O ser humano mudou seu comportamento de acordo com as evoluções tecnológicas, nada do que está acontecendo é novidade, mas o difícil esta sendo assimilar.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Praticamente todos desconhecidos maravilhosos. Não recebemos mais demo tapes pelo correio e sim um link. Também ao mesmo tempo passamos a conhecer um universo de musicas muito ruins devido a facilidade de acesso a gravação e não-dicernimento artístico. A incógnita: como fazer isto gerar receitas?
Outro fator muito interessante é que passei a conhecer melhor artistas de antigamente através destas tecnologias novas também. Acho mais fácil eu vir a me interessar por projetos gravados em outrora do que assimilar as novidades atuais, pois hoje para se criar referência é muito complicado e quando ela se realiza a gente passa batido, sabendo que foi gerada a partir de sonoridades e musicas de outros tempos, porque são referências de vida. Hoje fazer estourar um artista parecer ser muito mais fácil, mas já que a massificação na rádio não fortalece mais do jeito que era antes. Ou seja, antigamente mesmo que a música nao fosse tão boa ela era assimilada e consumida pela carência de vários canais de divulgação e pela maciça quantidade de inserções, mas hoje o que é bom, é bom na hora e isto se propaga rápid. Novamente, mudança de comportamento.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Sim, com a facilidade de acesso a tecnologia e gravação, podemos focar em música ao mesmo tempo em que você vira parceiro do artista. Antigamente isto não existiria, pois todo o custo era somente da gravadora. Sonho mesmo será conseguir usufruir destas tecnologias e fazer a música brasileira bombar no resto do mundo.

Felippe Llerena é fundador do iMúsica.