Um outra realidade sexagenária
O senhor Fabio Massari comemorou tornou-se oficialmente sexagenário nesta sexta-feira num evento em que redefiniu o conceito ligado à nova idade, afinal o Fabrique recebeu uma tríade de apresentações ao vivo que reuniu velhos roqueiros que vão para muito além do estereótipo ligado à vertente clássica do gênero, que quase sempre resvala num conservadorismo estético e, portanto, político. A bordoada sonora à qual o público que encheu a casa de shows na Barra Funda foi submetido a anticlichês que superaram probabilidades sonoras neste que esperamos que seja apenas a primeira edição do Massarifest, que poderá se tornar um encontro anual de cabeças abertas esperando por doses cavalares de ruído experimental, um recorte caro à audição do aniversariante. Perdi o show de abertura dos pernambucanos dos Devotos, mas cheguei a tempo de ver Paulo Barnabé desvirtuando andamentos e expectativas enquanto contrapunha vocais e letras tensas à frente de sua Patife Band, que além de engalfinhar-se em solos e mudanças de tempos entre a erudição e o jazz de vanguarda, ainda desfilou pérolas de seu disco de formação – o Corredor Polonês, de 1987, que inaugurou o que chamamos hoje de math rock -, fazendo o público cantar músicas como a faixa-título, “Tô Tenso” e a adaptação do “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa, tocado logo após o pianista Paulo Braga entortar um improvável “Parabéns a Você”.
Mas as coisas ficaram pesadas mesmo quando o quinteto japonês Acid Mothers Temple subiu ao palco. Liderados pelo inacreditável guitarrista Kawabata Makoto e por seu comparsa Higashi Hiroshi, impávido nos synths apocalípticos, a instituição psicodélica do outro lado do mundo veio ao Brasil pela segunda vez com o novato Jyonson Tsu, que, além de cantar também alterna entre um alaúde grego chamado bouzouki e uma guitarra Telecaster japonesa dos anos 70, e uma cozinha inacreditável formada pelo baterista Satoshima Nani e pelo baixista Wolf. E apesar de Makoto ter o holofote sempre que começa a solar, é impressionante o que o baixista e o baterista fazem quando passam a conduzir as bases para o improviso sonoro, fundindo elementos de rock progressivo alemão a doses cavalares de noise e protopunk, transformando o grupo em uma usina de ruído rítmico de tirar o fôlego. Mas não há como desviar o olhar do guitarrista fundador da banda, que encarna um Jimi Hendrix alienígena, que empilha camadas de microfonia enquanto transforma seu instrumento em uma antena elétrica que capta ruídos do espaço sideral em músicas que ultrapassam os dez minutos. A apresentação culimou com uma tour de force de Makoto, quando este entregou seu instrumento para o público tocar antes de pendurá-lo no teto do palco, deixando-a sozinha ressoando ecos do cosmo. E quem ficou até o final ainda ouviu, sem saber, uma música nova dos Boogarins que o Mancha, que estava discotecando entre as bandas, tocou logo que a banda japonesa terminou.
Assista abaixo:
https://youtu.be/jIQRRmH3lZI
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