Jards Macalé no Picles!

, por Alexandre Matias

Esta quarta-feira assistiu a um acontecimento ímpar e insólito: Jards Macalé tocando no palco do Picles! Não pelo fato do Macalé ser um gigante da MPB que só toca em casas de grande porte ou que o Picles nunca tenha recebido artistas maiores que o underground, mas pelo fato de conectar duas histórias contraculturais ainda em curso. Por toda sua vida Jards tocou para milhares ou dezenas de pessoas, com banda ou só com seu violão, então o palco do Picles em si não era uma novidade, mas pelo fato de sua presença dar uma espécie de bênção ao sobrado mais agitado do bairro de Pinheiros, chancelando a trajetória do Picles a uma história de cultura marginal que atravessa a história do Brasil. Sentado em uma poltrona de hotel cinco estrelas (especialistas em cadeiras devem reconhecer melhor o trono dado ao mestre), Jards subiu com seu violãozinho e contando causos entre as várias pérolas que trouxe para a noite, premiou o público da noite com uma apresentação de mais de uma hora, feliz e falante. No repertório, clássicos de seu primeiro álbum (“Farinha do Desprezo”, “Revendo Amigos”, “Mal Secreto” “Movimento dos Barcos” e “Let’s Play That”), vários hinos dos anos 70 (como “Negra Melodia”, “Boneca Semiótica”, “Anjo Exterminado”, “Soluços”, “Só Morto” e “Sem Essa”), duas bossas-novas (“Corcovado” e “O Pato”, em que fez um scat como se fosse uma dessas aves – ou seria um squack?) e músicas mais recentes (como “Falam de Mim”, “Meu Amor Meu Cansaço”, “Coração Bifurcado” e a novíssima instrumental “Um Abraço do João”, quando contou a história já clássica de seu telefonema para João Gilberto), boa parte delas cantada em uníssono pelo público fanático que lotava o Picles. A emoção era recíproca e Jards chegou a esquecer como se começava uma de suas músicas mais emblemáticas, “Vapor Barato”, que emendou com “Hotel das Estrelas” quase no final. Quando o encontrei depois do show, ele me explicou que sempre confunde o começo de “Vapor Barato” com “Movimento dos Barcos”, porque as duas começam com o autor falando em estar cansado. “Os anos 70 eram muito cansativos”, confessou, tirando todo o glamour que damos àquela década. E Jards repete o feito nesta quinta, quando toca pela segunda vez no Picles – também com ingressos esgotados.

Assista abaixo:

https://youtu.be/ecmqqLnL1AA

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