25 anos de Trabalho Sujo
Reli há pouco o texto que escrevi há um ano sobre o 24° aniversário do Trabalho Sujo e sorri. Mesmo sem poder comemorar o aniversário de um quarto de século deste meu sacerdócio diário como havia planejado (presencialmente, ampliando o espectro para além do que chamamos de cultura). Bom saber que a capacidade de me adaptar às diversas situações que narrei ano passado me ajudaram a atravessar – e bem – este 2020. Entrei em janeiro já sabendo que seria um ano difícil: demitido do Centro Cultural São Paulo, resolvi investir no trabalho de direção artística que venho desenvolvendo há dois anos e a fugir do emprego em escritório, essa bola de ferro que parece amarrar a alma à apatia sob a desculpa da remuneração mensal que vem quase como uma dose de um veneno chamando dinheiro. Além da disposição para abandonar outro vício: o das redes sociais.
Entrar em 2020 com o cenho franzido não foi difícil, especialmente ao lembrarmos do mar de merda que é o Brasil nesta virada de década. Mas encará-lo como um desafio mais que um incômodo foi o que me ajudou a, mais uma vez, me reinventar frente à intempérie. Veio o coronavírus e em vez de lamentar a completa seca de todas as minhas fontes de renda (shows, festas e cursos, uma vez que a vida de frila no jornalismo está cada vez mais difícil), inventei algo para pensar todos os dias, transformei uma hashtag no Instagram (que havia sacrificado no início do ano como símbolo da saída das redes sociais) em um programa em vídeo diário e passei a desbravar esse terreno do audiovisual, fazendo um fanzine no YouTube, reconectando com velhos compadres e novos camaradas com a desculpa de pedir dicas para o que fazer nesta quarentena eterna que começou a abrir minha cabeça para o texto falado, a expressão corporal, o olhar para a câmera, o improviso de uma vez só. Características que passam longe do meu trabalho em texto, minha primeira e grande paixão, mas que dedico uma disposição impossível de manter como aprendi a manter no vídeo.
E no meu novo canal (não assinou ainda? Pô…) inventei vários programas: o Cine Ensaio, o Bom Saber e o DM, o Altos Massa, o Polimatias e o Jornalismo-Arte. Cada um deles com uma pessoa de uma época diferente da minha vida, lidando com uma nova forma de abordar o tema cultura para além das prateleiras das megastores. Enquanto dou dicas de filmes, discos, séries, sites e outras coisas no dia a dia, vou me aprofundando para mostrar como estes produtos são apenas conclusões de processos que cada um de nós enfrenta no dia a dia – mesmo aqueles que não se consideram artistas. Nesse sentido, me assumi artista como um escritor de não-ficção, elevando o jornalismo para além de uma mera função. Jornalismo não é só arte, mas é sua expressão artística que conquista o público. Não é de hoje que repito que a crise do jornalismo mundial (e especificamente o brasileiro) não tem nada a ver com internet – e sim com a chatice. E a partir deste ano começo a repensar este conceito de cultura (e como ele é central em nossas vidas, mesmo que pareça ficar sempre em segundo plano), além de lançar ainda outros novos programas no decorrer dos próximos meses.
E neste processo deixei de estar sozinho. Eu que sempre carreguei o Trabalho Sujo todo nas costas, que editava no PageMaker a versão impressa, que fazia os logotipos no CorelDraw, que diagramava para o Geocities no FrontPage, que negociava entrevistas, notícias, promoções e todo o resto, percebi que era hora de dividir este trabalho. Por isso agradeço especialmente aos meus amigos que dividem a tela periodicamente (André, Polly, Dodô, Pablo, Mini, Bruno e Arnaldo), além de todos os entrevistados do Bom Saber e do Jornalismo-Arte e todo mundo que mandou dicas para o CliMatias, compadres e comadres que me ajudaram a entender como atravessar os próximos 25 anos. E um agradecimento especial ao chapa Bruno Torturra, que há anos me instigava para assumir o YouTube e que me inspirou ainda mais durante a quarentena.
E, para isso, dou um passo ainda mais ousado (para mim, mas óbvio para todos): apoia.se/trabalhosujo, o link para meu financiamento contínuo. Quero estender a colaboração a você que está lendo esse texto e gosta do meu trabalho. Tenho um público que me acompanha há literalmente décadas que sei que pagaria para que eu seguisse fazendo este trabalho. Por isso, peço que você me ajude a fazer o Trabalho Sujo colaborando como puder.
Mais uma vez reciclo a trilha sonora do aniversário de 23 anos (num Vida Fodona de quase seis horas que recapitula o tempo entre 1995 e 2018 sob minha ótica editorial) e pela primeira vez em anos não vou poder comemorar este aniversário presencialmente. Mas, claro, teremos Festa-Solo mais uma vez no twitch.tv/trabalhosujo.
Cola lá, que só melhora 😉
PS – Isso sem contar os desenhos, que também anunciei há um ano. Mas isso você já tá sacando, né…
PS – O trombone ainda não foi, mas vai rolar.