Num ano em que uma das principais protagonista foi uma menina de 15/16 anos, quatro moleques um pouco mais velhos que isso (mas com menos de 20 anos) surgiam de Colatina, no interior do Espírito Santo, cantando a seguinte canção:
“I was born in the 90s and asked my mom
“Why did i came so late?”
Cause all my friends born in 80s
And i’m still lost in 90s
Oh my god, something isn’t OKWhen i go to the club
Waiting DJ play J-Lo
The only thing i hear is another Devo song
I wish Spice Girls were younger
So they could save the worldI was born in the 90s
(91 or 92 or 93 or 94)
We were all born silly guys
Now all we think is about fuck(I’d say I love Prince if you stay
Come and wash my “Purple Rain”)I still love my walkman
Cause these ipods are only trendsCome to my house
Spend the afternoon watching friends
Then we could go my room
Do the “Macarena” dance
Can’t touch this?
Can’t touch this?
Don’t go on baby cause it’s not working
I’m horny but I’m not a slut
I was born in the 90sSave my posters of Backstreet Boys
My Nintendo and Lion King box
Hold on mother I’m coming home tonight”
Toda “I Was Born in the 90s” é noventista: irônica, cospe referências como se precisasse delas para parar em pé, transformando pós-punk inglês em hit de rádio, enquanto finge apatia e casa riffs secos com bateria crua e camas de teclado que resvalam no gótico. E a música é uma demo. Forma e conteúdo não se distinguem e faz com que a Gangue do Mickey soe moderna e retrô ao mesmo tempo – algo como se o tema dos anos 00 fossem a volta dos anos 00.
Não se deixe enganar pelo visual street e pela voz gemida: Santogold tem tanto a ver com a M.I.A. ou Missy Elliott, quanto com os Strokes ou os Yeah Yeah Yeahs. E onde melhor que “L.E.S. Artistes” para perceber a indie chorona que se esconde por trás de seus bonés, perucas e óculos escuros? Da guitarrinha cata-milho da introdução ao refrão pop anos 80 (new wave de arena anyone?) passando por uma letra que poderia ser assinada por Kurt Cobain, o hit de Santogold é mais uma prova de que o melhor rock de hoje é encontrado onde menos se espera.
33) Santogold – “L.E.S. Artistes“
Diplo pode ser o picareta que conhecemos, mas seu faro para perceber quando algo está esquentando é invejável – e logo que Santogold começou a aparecer no sismógrafo da música pop mundial, ele já deu um jeito de chamá-la para seu lado e, como fez com a M.I.A. em 2004, apresentá-la como estrela de uma mixtape. E, usando a compilação como uma tela, fez questão de exibir tons que tivessem a ver com as faixas da cantora que ele queria usar – assim, “L.E.S. Artistes” emenda com o Cutty Ranks, seu remix para “Lights Out” do Panda Bear (com Santogold no vocal) é seguido por Aretha Franklin, Devo e B-52’s, a versão para “Guns of Brixton” do Clash (que vira “Guns of Brooklyn” com novo vocal) fica entre uma instrumental do trombonista Desmond Dekker e uma versão para “Iko Iko”. Mais um passeio pelo terceiro mundo, desta vez com a cabeça na Jamaica. É só acender.
34) Diplo & Santogold – Top Ranking
Diplo & Santogold – “Guns of Brooklyn”
“Baunilha, morango…”, parece ser um jeito estranho de assumir uma guinada, mas é assim que o Fujiya & Miyagi caminham aos poucos rumo à uma popularidade maior – para frustração dos indies e felicidade da pista de dança. Mas sem delírio eletrônico – a pegada aqui ainda é o bom e velho krautrock em que o F&M construiu sua casa – a tensão rítmica e repetitiva sussurrando riffs, deslizes de baixo e uma letra que mistura a maçã bíblica com o fantasma de uma modelo infantil. E não é um movimento isolado, como talvez tenha sido seu primeiro espasmo rumo ao pop, a deliciosa “Collarbone” – afinal, além de “Knickerbocker” funcionar como introdução para um disco estável (Lightbulbs, também deste ano), o quarteto ainda desequilibrou o melhor momento do disco do Bomb the Bass desse ano, em “Butterfingers”. Preste atenção que, em um próximo disco, com mais um hit redondo desses, eles saem de seu gueto.
34) Fujiya & Miyagi – “Knickerbocker“
2008 reacendeu a disco music como um estilo de música sofisticado, suave, cool e emotivo, sem a felicidade histérica ou groove pesado de suas origens. A recente nu-disco toma para si o rótulo que um dia já abrangeu Jamiroquai e Brand New Heavies separando a musicalidade refinada com o tom robótico e europeu continental ao chamar para si a finesse da pista de dança, que um dia era exclusiva da house music. É aí que se encaixa o hit de Sam Sparro – “Black & Gold” é, ao mesmo tempo tempo, chique e escorregadia, posuda e quente, séria e sexy – como poucos tentaram durante o ano.
35) Sam Sparro – “Black & Gold“
“Meu respeito à graça e à virtude/ Minhas condolências ao bem/ Mande lembranças à alma e ao romance/ Eles sempre fizeram o melhor que puderam/ E adeus devoção/ Você me ensinou tudo que sei/ Despeça-se/ Deseje-me bem/ Você tem que me deixar”. Tá ali, no meio de “Human”, a declaração de que os Killers são outra banda. Day & Age é praticamente um renascimento do grupo de Las Vegas, que deixa para trás a pompa e a circunstância do rock de arena para abraçar o pop radiofônico e a pista de dança (características já presentes na discografia da banda, mas levadas ao extremo). O olhar, no entanto, ainda é majestático e grandiloqüente, embora, como o próprio Brandon Flowers sublinha, toda fleuma e sensação de auto-importância tenha saído de cena. Agora o Killers é uma banda que contempla a vida mundana, olhando tudo de cima para baixo não mais com empáfia, mas com pena, como o alienígena de “Spaceman”. Alinhando-se a um cânone que é mais chegado à canção pop e ao piano do que ao refrão e o riff, de artistas como David Bowie, Pet Shop Boys, Spandau Ballet, Tears for Fears, Soft Cell, George Michael, Human League e Pulp. Ao trocar a estética do Queen pela do Duran Duran, o Killers fez seu disco mais consistente e divertido, ainda que melancólico e pensativo.
35) Killers – Day & Age
Killers – “Spaceman“
Uma das melhores coisas da nova cena sueca do início deste século, a dupla Studio, formada por Dan Lissvik e Rasmus Hägg, abriu mão de compor suas próprias músicas esse ano para retrabalhar obras alheias – e assim visitam Kylie Minogue, A Mountain of One, Shout Out Louds, Love is All, entre outros. E por cima de canções de naturezas diversas, vão carburando sua suave e densa mescla de dub, disco music suave, house sutil, muita percussão, instrumentos acústicos e som ambiente, deixando sua assinatura musical impregnada em toda atmosfera do disco. Coisa fina.
Love Is All – “Turn The Radio Off (Studio Remix)”
A música-chave do novo disco dos Kills, Midnight Boom, já vale por toda sua carreira. “Cheap and Cheerful” é um chega pra lá no roquinho fuleiro que se passa por punk nos anos 00, que transforma a guitarra em elemento de percussão, enfatizando a divisão de forças entre o ritmo primitivo e o escárnio primitivista que a vocalista americana VV resmunga sobre a chatice que é ser normal. “Tudo bem ser mal”, resume o espírito de uma música que é tão perigosa quanto divertida – elementos básicos para isso que chamamos de rock’n’roll. Fora o fato de servir para remixes fodaços.
36) Kills – “Cheap and Cheerful“