2020: Uma odisseia no meu quarto

2001-2020

A artista norte-americana Lydia Cambron recriou a última cena do clássico 2001 – Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick alinhada à quarentena que estamos atravessando neste ano.

Ficou massa.

Kubrick explica 2001

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Famoso por não discutir os temas relacionados aos seus filmes, Kubrick ergueu um monumento à linguagem cifrada quando lançou seu filme mais emblemático, 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Até hoje, cinquenta anos depois, discute-se a importância deste filme do ponto de vista de suas cenas enigmáticas, especialmente a sequência final “Júpiter e Além”, que fez os críticos da época saírem da pré-estreia perguntando-se “que porra é essa?”.

O próprio Kubrick, em uma entrevista para a revista Playboy na época do lançamento do filme, disse que “não é uma mensagem que eu quero passar em palavras. 2001 é uma experiência não-verbal; duas horas e dezenove minutos com apenas cerca de quarenta minutos de diálogo no filme. Tentei criar uma experiência visual, uma que ultrapassa classificações verbalizadas e penetra diretamente no subconsciente com um conteúdo filosófico e emocional. Desenvolvendo McLuhan, em 2001 a mensagem é o meio. Eu quis que o filme fosse uma experiência intensamente subjetiva que alcança o espectador num nível interior de consciência, como acontece com a música; “explicar” uma sinfonia de Beethoven seria castrá-la ao erguer uma barreira artificial entre a concepção e a apreciação. Você está livre para especular como quiser sobre o significado filosófico e alegórico do filme – e tal especulação é uma indicação que o filme foi bem sucedido ao pegar o público em um nível profundo – mas eu não quero ditar um mapa para que cada espectador de 2001 se sinta obrigado a segui-lo ou então ele não terá entendido. Acho que se 2001 é bem sucedido, é em atingir um vasto espectro de pessoas que nunca havia pensado sobre o destino da humanidade, seu papel no cosmos e sua relação com formas superiores de vida. Mas mesmo no caso de alguém que é altamente inteligente, algumas ideias encontradas em 2001, se apresentadas como abstrações, não funcionariam e seriam automaticamente forçadas a seguir categorias intelectuais; experimentadas em um contexto emocional e visual em movimento, contudo, eles podem ressoar nas fibras mais profundas de nós.”

Mas eis que, durante as gravações de um documentário japonês sobre o filme de Kubrick de 1980, O Iluminado, o diretor baixa a guarda e conta o que pretendia com as cenas finais de seu clássico filme de 1968. O documentário, liderado pela celebridade de TV japonesa Jun’ichi Yaio, nunca foi realizado, mas as fitas com suas gravações foram leiloadas em 2016 e agora finalmente aparecem na internet. Em um thread do Reddit, em um trecho da entrevista de uma entrevista de Jun’ichi Yaio com Kubrick ao telefone, o diretor explica o final de 2001 de forma sucinta.

“Eu tentei evitar fazer isso desde que o filme saiu. Quando você apenas fala sobre as ideias elas soam tolas, enquanto se você as dramatiza pode fazê-los sentir, mas vou tentar. A ideia é que supostamente ele é levado por entidades de características divinas, criaturas de pura energia e inteligência sem formato. Eles o colocam naquilo que você pode descrever como sendo um zoológico humano para estudá-lo e ele passa o resto da sua vida daquele ponto naquele quarto. Ele não sente o tempo. Parece acontecer da mesma forma que acontece no filme.

Eles escolhem este quarto, que é uma réplica bem imprecisa de arquitetura francesa (deliberadamente feita para ser imprecisa), porque alguém sugeriu que eles tinham alguma ideia de que ele poderia pensar o que era bonito, mas não tinham certeza. Da mesma forma que nós não temos certeza sobre o que fazer nos zoológicos com os animais para tentar dar uma ideia do que achamos que é seu ambiente natural.

De toda forma, quando eles terminam com eles, como acontece com tantos mitos em nossas culturas no mundo, ele é transformado em uma espécie de super ser e mandado de volta para a Terra, transformado e agora na forma de uma espécie de super-homem. Só nos restas imaginar o que pode acontecer quando ele volta. É o padrão de boa parte das mitologias e era isso que estávamos querendo sugerir.”

A íntegra da fita pode ser vista abaixo:

Cabeça Aberta: Velvet, Kubrick, Mutantes e Alan Moore

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A partir do mês de junho, começo a ministrar a série de cursos Cabeça Aberta, que idealizei para falar sobre obras revolucionárias na Unibes Cultural, em São Paulo. O subtítulo do curso – Discos, filmes e livros que criaram o mundo de hoje – explicita melhor o viés utilizado para escolher as obras a serem analisadas, que nesta primeira edição resumem-se em quatro: o disco de estreia do grupo Velvet Underground, The Velvet Underground & Nico, o famoso disco da banana, é o tema da primeira aula, dia 2; seguido do clássico de Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, tema da segunda aula, dia 9; depois temos o terceiro disco dos Mutantes, A Divina Comedia ou Ando Meio Desligado, no dia 23; e encerramos no dia 30, com a obra-prima de Alan Moore, a série em quadrinhos Watchmen. São aulas que evidenciam o potencial revolucionário destas quatro obras e dissecam suas origens, influências e impacto cultural para mostrar que a cultura tem o poder transformador de capturar ansiedades e expectativas de diferentes épocas e transformá-las radicalmente com um disco, um filme ou uma história em quadrinhos. Os cursos acontecem sempre aos sábados, na Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500, ao lado da estação Sumaré do Metrô, telefone: 11 3065- 4333), das 14h às 17h, e podem ser feitos separadamente, embora quem fizer os quatro contará com um desconto (mais informações aqui).

Psicodelia visual

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O episódio mais recente de Twin Peaks levou a série para perto de Júpiter, como nos lembram esses mashups que eu publiquei no meu blog no UOL.

Ainda estamos sentindo os primeiros tremores do espasmo sensorial que foi o oitavo episódio da terceira temporada de Twin Peaks – enquanto alguns tentam decifrar os códigos deixados nas entrelinhas e outros buscam o sentido metafísico em relação ao resto do seriado, muitos deixam-se levar pelo simples aspecto lúdico da exposição ao imaginário sombrio e transcendental de David Lynch e os primeiros filhotes já começam a surgir em forma de paródias, remixes e memes. Um dos melhores até agora é esse incrível mashup entre a deslumbrante cena da primeira bomba atômica ao som de “Echoes”, do Pink Floyd, na versão que o grupo tocou ao vivo em um teatro de arena nas ruínas da cidade de Pompéia, na Itália. Preciso dizer que há spoilers da série para quem não viu o episódio? Tudo bem, está dito:

Não é a primeira vez que “Echoes” se mistura a uma cena imediatamente clássica, deslumbrante e psicodélica. Os fãs do Pink Floyd devem reconhecer essa superposição genial entre a música que ocupa todo o lado B do disco Meddle e o terceiro ato do épico existencial de Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisséia no Espaço.

E é claro que iriam fazer o caminho de volta, recriando a cena do episódio histórico de Twin Peaks com a trilha sonora do clássico da ficção científica de Kubrick, “Réquiem para Soprano, Mezzo-Soprano, Dois Corais Mistos e Orquestra”, do compositor húngaro György Ligeti:

Já foi comentado o grau de parenteso entre as duas cenas e a trilha sonora utilizada por Lynch em sua cena original, a tensa “Threnody to The Victims of Hiroshima” do compositor polonês Krzysztof Penderecki já havia sido usada pelo próprio Kubrick em outro de seus clássicos, o filme de horror psicológico O Iluminado, de 1980. É uma composição de tirar o fôlego:

Ainda estou digerindo o episódio e devo escrever sobre seu significado em relação ao resto da série em breve.

O quarto da última cena de 2001

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O artista honconguês Simon Birch inaugurou em março, em Nova York, uma ambiciosa exposição pessoal no centenário antigo prédio dos correios norte-americanos, próximo à Penn Station, à Bolsa de Valores de Nova York e à Wall Street. Chamada de 14th Factory, ela custou três milhões de dólares – bancada parcialmente por ele, por doadores particulares e por uma campanha no Kickstarter – e é inspirada pela Jornada do Herói de Joseph Campbell, com diferentes abordagens sobre o monomito do livro citado, em que o mitólogo explica que só há uma única narrativa de aventura, contada com personagens diferentes em diferentes culturas. E para exemplificar isso com uma saga essencialmente pop, Birch recriou o quarto da última cena do 2001 de Kubrick – uma jornada do herói por excelência – em um dos ambientes da exposição.

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Contou o fato de que um dos parceiros de Birch, seu conterrâneo arquiteto Paul Kember, ser sobrinho dos dois criadores do quarto original, já que Kubrick ou destruía ou arquivava tudo que havia filmado logo após o fim da produção. “Foi um tributo pessoal recriar um projeto que meus tios realizaram há quase 50 anos”, disse Kember ao South China Morning Post.

Tame Impala x Kubrick

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Sensacional essa justaposição de “Eventually”, do Tame Impala, sobre o clássico da ficção científica de Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, que dá novos contornos à canção.

Dentro de 2001

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No ano passado, a editora Taschen lançou um daqueles livraços definitivos que publica de vez em quando com o making-of do 2001 de Kubrick. A obra – edição limitada, de luxo, altíssimo padrão e pesando quase 10 quilos – está esgotada e dá pra achar edições usadas à venda por mil e quinhentos dólares na Amazon, mas pra quem não tem essa disposição financeira toda pode se contentar com a versão mundana do livro, que traz o mesmo conteúdo só que com um acabamento sem tanta ostentação e vendido a 46 dólares, que será lançado no início de setembro. Dá uma sacada no material, abaixo:

 

“Interestelar” via “2001”

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As comparações entre o épico scifi de Christopher Nolan do ano passado com o pai-de-todos 2001 – Uma Odisseia no Espaço são evidentes, mas neste clipe que postei lá no meu blog do UOL vemos que há semelhanças e diferenças que praticamente conversam entre si http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/13/o-que-interestelar-de-christopher-nolan-tem-a-ver-com-o-2001-de-kubrick/.

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“Interestelar”, o épico sci-fi emocional que Christopher Nolan trouxe ao mundo no ano passado, é um filhote quase-clone do pai-de-todos em sua categoria, o épico sci-fi racional “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick. São duas histórias completamente diferentes, impulsionadas por motivações diametrialmente opostas, mas que vasculham a mesma área do inconsciente coletivo, uma expectativa por uma transcendência a outra dimensão que justificaria a existência humana, e entregam experiências audiovisuais bem parecidas. O estudante de cinema Jorge Luengo Ruiz, de Madri, parelhou os dois filmes ao som da deslumbrante valsa “Danúbio Azul” de Johann Strauss e o resultado sublinha a inevitável semelhança entre as obras do mestre e do discípulo.

Filmes redondos

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O designer australiano Nick Barclay reduziu alguns filmes a círculos minimais e criou uma série de cartazes de filmes redondos.

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circulos-matrix

circulos-trainspotting

circulos-pulpfiction

circulos-harrypotter

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Tem outros lá no Behance dele.

O primeiro computador a cantar “Daisy Bell” não foi HAL 9000

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Na verdade, a cena clássica de 2001 foi inspirada num acontecimento real em 1961, quando os programadores John Kelly, Carol Lockbaum e Max Mathews botaram um velho IBM 7094 para cantar a música composta por Harry Dacre em 1892. Eis a versão original da primeira vez que um computador cantou.