18 de 2018: Quartabê

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Num ano em que vi shows brasileiro às centenas, a apresentação ao vivo que mais me impressionou foi o show de lançamento que o Quartabê fez para seu disco Lição #2: Dorival no Auditório Ibirapuera. O grupo causa um certo estranhamento inicial por seu jazz heterodoxo de formação inusitada e pelo clima de piada interna que mistura desde o nome da banda (que brinca com o tipo de humor entre seus quatro integrantes) até a própria escolha deste formato de discos, em que mergulham na obra de um professor para fazer este inusitado fichamento musical. Por sua formação acadêmica, o grupo disseca seus autores favoritos num nível de ciência que vai além do improviso, do ritmo, do timbre, da orelhada, do feeling – sem nunca abandonar nada disso. Mas algo foi para um lado sobrenatural neste primeiro show. Claro que a sincronicidade interna ajudou – fui ao show com zero expectativa, principalmente após ser atordoado pela intensidade do lançamento da mixtape Comunista Rico de Diomedes Chinaski no CCSP -, mas a sinergia de Beraldo, Chicão, Joana e Mariá no palco – tanto musical quanto cênica – aliada à luz miraculosa de Olívia Munhoz fez a reinvenção de Dorival Caymmi alcançar uma estratosférica estética que poucos shows brasileiros conseguiram chegar perto. Que momento mágico!

18 de 2018: Kátia

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E teve a Katia, que chegou no finzinho do ano passado, depois de quase quinze anos de amizade, e de repente virou minha melhor amiga, companheira, namorada, mulher e esposa, tudo ao mesmo tempo. O convívio intenso transformou o primeiro ano de namoro em uma grande jornada em que moramos e viajamos juntos, conhecemos os parentes, os amigos e os amigos de infância uns dos outros, chocamos quem ainda não sabia que éramos um casal e sempre estivemos um do lado do outro para segurar cada barra que passamos – num ano que pareceu um século. 2018 foram 100 anos que se passaram quase febris, mas que ao lado um do outro fluíram melhor do que podíamos supor – isso sem contar os ramens. Estamos prontos para 2019!

18 de 2018: Professor Duprat

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Minha maior aventura profissional de 2018 foi inventar um show. Uma dúvida já acompanhava o início do ano quando me perguntava sobre a execução do trabalho de curadoria para além de um espaço físico específico, como já vinha fazendo em 2017, quando consegui me explicar a separação entre programação e curadoria, sempre provocando artistas a fazer algo diferente ou único ao apresentar-se para onde estava o convidando, seja no CCSP ou no Centro da Terra. Mas vislumbrava em buscar outros espaços para mostrar obras em que eu poderia influenciar em sua criação, mais do que simplesmente abrir espaço para a criação alheia. Foi quando pensei no gancho dos 50 anos da Tropicália e como ir além da celebração da invasão baiana de São Paulo, da reverência aos Mutantes ou ao disco-manifesto que fundou o movimento. Foi quando me veio à lembrança a importância de Duprat.

Quase vinte anos antes, eu havia entrevistado o próprio Rogério Duprat pessoalmente em uma matéria sobre os Mutantes para a falecida revista Bizz. Na pesquisa para fazer a entrevista com aquele que então conhecia como um dos mentores acadêmicos do tropicalismo, descobri um maestro erudito rebelde, progressista que flertava com o cinema e a publicidade e que tinha assinado obras históricas da música brasileira que iam para além da ebulição tropicalista. Ao cogitar um espetáculo que celebrasse a importância de Duprat, eu também estava reverenciando um personagem pouco lembrando nas homenagens clássicas da música brasileira, que quase sempre comemoram o intérprete, o compositor ou o músico. Era a possibilidade de festejar um arranjador – e transformar esta festa em um reforço sobre a importância deste personagem.

Chamei o João Bagdadi, do selo Risco, com quem havia trabalhado no ano anterior no Centro da Terra, e ele colocou o produtor Charles Tixier e o músico Arthur Decloedt para pensar como fazer este projeto. Os dois assumiriam a bateria e o baixo de uma banda que recriaria as obras arranjadas por Duprat no palco e também assinariam os arranjos e a direção musical do espetáculo. Juntos, pensamos em uma obra que pudesse ser apresentada como uma composição erudita, sem espaço para apresentações ou palmas, enfileirando diferentes aspectos da produção de Duprat à medida em que os convidados entravam. Juntos, nós quatro e o produtor Gui Jesus, pensamos em outros aspectos da apresentação: quem seria a banda, os intérpretes, quem assinaria o figurino, a iluminação, a direção de palco, o som, qual seria o repertório e quem tocaria qual instrumento. Assim nascia o Professor Duprat – Maestro da Invenção.

O resultado foram duas apresentações memoráveis no Sesc Pompeia que reuniram alguns dos maiores nomes da atual música brasileira cantando clássicos de nosso cancioneiro devidamente reverenciados pelas referências de Duprat. O time que reunimos desenvolveu-se muito tranquilamente, sem nenhum atrito e em pouco tempo tínhamos uma senhora apresentação de pé. Foi minha primeira assinatura com diretor artístico, atividade que irei exercer mais nos próximos anos, e também o primeiro trabalho com novos amigos que certamente me ajudarão a criar mais coisas.

E o Professor Duprat não ficou apenas em 2018 não – devemos ter novidades no ano que vem.

18 de 2018: Vida Fodona

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De tudo que faço, o Vida Fodona é o que o mais faço só porque quero. É também o que menos me dá retorno, mesmo pessoal, pois não sei quem o escuta, quando escuta, porque escuta e porque continua escutando. Tudo bem. Pois acho que isso é reflexo exato da minha vontade inicial – fazer um podcast com cara de programa de rádio, atualizado periodicamente com minhas impressões sobre músicas novas e como elas conversam com meus clássicos de sempre. Mas nos últimos dois anos, o podcast deu uma desandada – a vida pessoal me obrigou ter outras prioridades e o trabalho me levou a ressuscitá-lo mal e porcamente como uma playlist do Spotify, algo que fugia completamente de seus atributos desde o início: qualquer um pode ouvi-lo, desde que tenha acesso à internet. O shopping center musical que é o Spotify também restringe bastante a seleção de músicas e funcionou apenas como um paliativo para não deixar o Vida Fodona morrer. Novamente no formato de podcast, ele ressuscitou de jeito neste 2018, ainda um tanto capenga no que diz respeito à periodicidade, mas efetivamente mais próximo de suas intenções originais: fazer a sua trilha sonora…

2019 é o ano de azeitar ainda mais essa máquina e começar a focar melhor em outras áreas que estão quase perdendo o fôlego: minhas traduções e a festa que faço todo mês na Trackers.

18 de 2018: Tudo Tanto

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Uma das tristezas de 2017 – ano de encerramento de ciclos – foi o fim da revista Caros Amigos, publicação que acompanhava desde a primeira edição nos longínquos anos 90 e da qual fui me tornar colaborador nos últimos anos. Além da imensa lacuna de inteligência que a revista deixou no mercado editorial brasileiro, o fim da Caros Amigos também interrompeu a coluna que mantinha mensalmente na revista dedicada a falar sobre música brasileira para um público mais interessado em política, economia, educação e questões sociais. Tratava a coluna, batizada a partir do título do segundo disco de Tulipa Ruiz, como capítulos de um livro escrito em tempo real, analisando as transformações da nossa música enquanto mostrava o quanto ela conversava com os outros temas mais caros à revista. A interrupção abrupta, no entanto, sempre me pareceu momentânea e em 2018 pude recuperá-la no novíssimo site Reverb, em versão semanal. Ainda estou me acostumando à nova periodicidade, mas a ideia é que ela lentamente retome o tom analítico contínuo que caracterizava a primeira encarnação da coluna – e todas elas, reproduzidas aqui no Trabalho Sujo, podem ser lidas neste link. Um beijo à Liv, que permitiu que esta coluna voltasse a existir numa época dessas.

18 de 2018: Built to Spill em Belo Horizonte

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Doug Martsch nos devia uma visita desde os anos 90, quando as poucas dúzias que sabiam o que era Built to Spill no Brasil brigavam para saber qual era o melhor disco da banda, There’s Nothing Wrong with Love, Perfect from Now On ou Keep it Like a Secret (este último é o meu favorito) e quando as primeiras bandas norte-americanas começaram a vir para o Brasil graças a esforços de pequenos produtores brasileiros. Era um tempo em que comemorávamos a vinda do Seaweed ou do Man or Astroman? como se fosse a do Sonic Youth ou dos Pixies, numa época em que essas bandas nem em sonho cogitavam vir para o Brasil. O termo indie ainda designava um jeito de trabalhar e aos poucos se transformava em gênero musical, um rótulo tão difuso e pouco específico quanto “rock alternativo” ou “MPB” e as pessoas ainda discutiam por música de forma passional.

Vinte anos depois, a maioria das bandas gringas que podiam vir ao Brasil já vieram, os pequenos produtores se tornaram marcas estabelecidas e abriram caminhos para novos players que hoje realizam festivais anuais trazendo artistas que estão acontecendo agora no exterior, independentemente do tamanho comercial que tenham em seus países. O clichê do telejornal que dizia que “o Brasil entrou na rota dos shows internacionais” foi tão repetido que parou de ser dito – e isso também diz respeito ao mercado de médio porte. O termo indie tornou-se uma hashtag qualquer e está tão próximo da música quanto da publicidade e da moda – e a vinda do Built to Spill para o Brasil por algum motivo ainda parecia ser uma utopia distante.

Quando aconteceu, em 2018, lavou a alma dos poucos fãs que nos anos 90 esperavam por aquele momento. Ainda tive a felicidade de assistir à passagem do grupo por Belo Horizonte, cidade que pode ser considerada um marco zero deste movimento, uma vez que sediou o mítico BHRIF, trazendo o Fugazi pela primeira vez ao Brasil em 1994, e também era a cidade onde funcionava a produtora Motor Music, que trouxe vários indies no Brasil no final do século passado, de Jon Spencer Blues Explosion a Superchunk, passando por Stereolab, Yo La Tengo e Tortoise, semeando as sementes que germinaram este enorme pomar que é esta cena atualmente.

Assisti ao show ao lado do próprio Martsch, do lado do palco do impressionante casarão que é o Automóvel Clube da cidade, e do querido Marcos Boffa, que há vinte e cinco anos realizou o BHRIF para fundar pouco depois a própria Motor ao lado do Jeff e da Fernanda. Foi neste momento que várias fichas caíram: na bateria do Built to Spill estava Lê Almeida, da heróica Transfusão Noise Records e do Escritório, dois focos de resistência cariocas do faça-você-mesmo; o Built to Spill era o headliner do festival Música Quente, do Marcelo Salgado, que vi começando a carreira nos tempos em que a onda era ter um blog; o show estava vindo para o Brasil graças à produtora Powerline do Leandro “Emo” Carbonato, que também vi começando a trabalhar na Trama Virtual para depois aprender a trazer bandas gringas para o Brasil quando esteve no Clash – e por aí foi. Juntando aqueles vários elementos na cabeça enquanto ouvia um guitar hero indie debulhar seu instrumento em solos intermináveis me deu a sensação de que uma etapa havia sido cumprida e a música no Brasil já estava mesmo em outro patamar em relação ao resto do mundo. Mesmo quando estamos falando apenas em indie rock, que parece ser a descrição de um gênero frágil e arrogante ao mesmo tempo, mas que na verdade resume um jeito de fazer as coisas, mesmo em tempos de crise.

18 de 2018: Rap no Brasil

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O rap é a cena e o gênero musical mais importante no Brasil hoje – e não apenas em 2018. A safra que floresceu com o fim da geração underground no início da década – que colocou Emicida e Criolo nos patamares em que ambos se encontram atualmente – já foi ultrapassada e o complexo gangsta que dominava a cena foi superado até mesmo pelos Racionais, que injetaram esta sensação na versão brasileira da cultura hip hop, no fim do século passado. Hoje vivemos uma realidade que sai inclusive de São Paulo, antes centro do rap no Brasil, para buscar novos nomes em outras cidades, estados e regiões.

O que torna o rap tão importante, deixando para trás gêneros mais populares e numerosos como o funk e o sertanejo, é a consciência de classe, tanto por parte de seus artistas quanto de seu público. Todos sabem seus papéis e porque estão ali, respeitam os ancestrais para vislumbrar um futuro tão utópico quanto aceito e materializável, algo inédito na cultura negra do Brasil. Há, claro, marketing e hype, mas não apenas isso. É uma expansão de consciência que transcende modismos como o cypher, o rap acústico ou o trap e junta uma massa de fãs ao redor de nomes que ainda não chegaram ao mainstream, como BK’, Baco Exu do Blues, Diomedes Chinaski, Djonga e Don L, mas que já carregam milhares de fãs aos shows e fazem dezenas de milhares de pessoas em todo o país prestar atenção em suas palavras. Já não são apenas cronistas como os rappers da geração anterior e partem para uma narrativa própria, inventando os próprios discurso e contexto para se transformar em super-heróis da vida real, empresários das próprias carreiras, contadores das próprias histórias. Os shows de rap que pude fazer no CCSP este ano mostraram que o público já entendeu esta mudança e que está junto desta nova cena para o que der e vier.

2019 é o ano em que esta safra vai para as cabeças e torna-se realmente comercial. Vai ser bem interessante ver isso acontecer à luz dos acontecimentos que enfrentaremos durante o ano…

18 de 2018: Paula Santisteban

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Paula Santisteban foi um presente que o Miranda deixou para me ajudar a reinventar meu futuro profissional. Último disco produzido por ele, o disco de estreia de Paula me foi passado pelo mestre para que eu ajudasse em seu lançamento, que aconteceu em setembro deste ano. Foi um dos assuntos que conversamos em nosso último telefonema e semanas depois estava à frente dela e de seu marido, guitarrista e diretor musical Edu Bologna, para pensarmos em como poderíamos trabalhar juntos. Paula queria uma consultoria, mas a descrição do trabalho que ela me passou ia muito além de um mero diagnóstico seguido de metas a serem atingidas, exigia um envolvimento criativo, que ela depois batizou de “direção artística”. Não me senti à vontade, uma vez que este também tinha sido o trabalho de Miranda ao produzir o disco e ela me esclareceu: “O Miranda dirigiu o disco, você vai dirigir o lançamento”. Conversamos sobre o conceito por trás do disco, qual tema que poderia permear esta estratégia, como ela conversava com as letras e músicas que eles tinham composto ao mesmo tempo em que apresentava o trabalho para pessoas que teriam interesse em seu trabalho. Durante o segundo semestre deste ano, ela fez a capa do disco com Bob Wolfenson, fechou contrato com a gravadora Warner, lançou o disco no Auditório Ibirapuera além de apresentar-se na Unibes Cultural e no Blue Note do Rio, com participações de nomes como Tiê, Nina Becker e Kassin. Dito assim parece que foi um processo simples, mas foram horas de discussão e longas reuniões, que se misturavam com papos sobre técnicas de gravação, feras do jazz, São Paulo, discos de vinil, entre cafés, bolos sem glúten e sorvetes. Questionamos padrões do mercado, conhecemos bambas de diferentes áreas, lançamentos o disco do jeito que ele merecia ser lançado e agora partimos para um 2019 que reforça as sementes plantadas durante este ano. Tudo sem pressa, bem feito, no seu tempo…

18 de 2018: Direção artística

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Há este desafio em minha frente. Quis o destino que eu começasse a lidar com shows para entender apresentações ao vivo como espetáculos únicos, obras que funcionam como um fim em si mesmo e cogitasse trabalhar nestes formatos juntos a artistas que, em outros tempos, só abririam seus processos (incluindo corações e mentes) quando tudo estivesse transformado em produto. Aos poucos venho acompanhando estes movimentos criativos dando palpites e sugerindo ideias, ouvindo conceitos ainda crus e ajudando bandas, intérpretes, compositores e músicos a darem passos rumo ao desconhecido. São conversas que começam em almoços e cafés e continuam no estúdio ou em passagens de som, passam por audições individuais e links trocados por wetransfer, longas DRs em áudios de whatsapp e enxurrada de referências para chegar a um único consenso. Funcionar como válvula de escape e câmara de eco para a criação alheia é parte do trabalho de curadoria, mas quando estas trocas são o ponto de partida da história, em vez de apenas reações a ideias já definidas, tudo fica mais fácil – inclusive a experimentação. A direção artística foi uma revelação inusitada de 2018 mas que afiou meu olhar para além do jornalismo na música – mas sem perdê-lo de vista – e me ocorreu quase simultaneamente entre o show Professor Duprat e o lançamento do disco de Paula Santisteban, ambos em setembro deste ano. E os dois são só os primeiros exemplos do que mostrarei mais em 2019.

18 de 2018: Trabalho Sujo

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Hora de recapitular este turbulento 2018 do meu ponto de vista, esta exegese individual à qual me submeto sempre no ocaso destes ciclos – ela que me acompanha sempre em caminhadas solitárias, em vários momentos de introspecção e quietude, que fica à espreita em encontros coletivos e quase sempre sai por escrito nas entrelinhas de um comentário de um disco, de um filme, de um livro ou em recapitulações de fim de ano quando a época propicia estes momentos de revisão pessoal num contexto maior – tal qual aqui. E começo estes 18 instantes sobre o meu 2018 apontando a lupa justamente para onde estamos eu e você, leitor – nossa conexão pessoal através de um site que criei como coluna de cultura pop num jornal de Campinas 23 anos atrás.

O Trabalho Sujo é meu nome jurídico, minha empresa, meu alter ego institucional, a roupa que visto fora de casa, a voz que sai depois do pigarro. E 2018 foi um ano de reavaliação do que significa este lugar, este ambiente mental que crio a partir de palavras para me conectar com você. Desde o início da década venho reavaliando o significado deste nome e testado-o em outras situações para além da internet, seja na festa que leva seu nome e que acaba de completar sete anos, seja com os cursos e curadorias de música que assumi a partir de, respectivamente, 2014 e 2017. Há quatro anos tirei o site de um contexto paralelo aos meus empregos oficiais para transformá-lo no principal foco de minha carreira, o veículo através pelo qual sou reconhecido. Já tive vários sobrenomes profissionais (Matias do Diário, do Correio, da Conrad, da Play, da Trama, do Trama Universitário, do Link, do Estadão, da Globo, da Galileu) e resolvi deixá-los no passado para centralizar minha produção neste site. A coexistência com o falecido Blog do Matias, que eu fazia no UOL, que morreu no fim do ano passado (bem como minha coluna Tudo Tanto, que afundou junto com a Caros Amigos), me ajudou a focar o site nos últimos anos em música – o que aos poucos foi ganhando forma de divulgação dos trabalhos em que tenho me envolvido.

2018 me mostrou que este site é a central em que reúno tudo que faço, não propriamente um veículo em si – embora ele também possa ser isso e através do qual siga escrevendo sobre assuntos que me interessam. Não é um fim em si mesmo, não tem media kit nem números de audiência, nem patrocinador nem dados sobre o público. Tirei deliberadamente o contador de likes das páginas e sua existência online deixou de ser a de um site sobre um determinado assunto – a não ser que você considere que este determinado assunto sou eu. Durante o ano – e justamente por isso -, ele foi mudando sua configuração estrutural e o menu de assuntos que fica entre o logotipo criado pelo Jairo em 2014 e as notícias em si não traz mais uma lista de temas ou categorias de determinados assuntos – e sim as áreas com as quais venho trabalhando para além da internet.

A foto que ilustra o texto (um selfie no espelho numa das Noites Trabalho Sujo que fiz no já falecido Clube V.U.) funciona como uma amostra do que foi 2018: um olhar para dentro em todas as situações, até mesmo numa festa que não deu certo. E serve como uma provocação a um convite pessoal que faço para mim mesmo em 2019: olhar para fora. Autobiógrafo que sou, hora de crescer para além deste site – mas ainda mantendo o nosso contato, mesmo que de outra forma: num show, numa aula, num papo, num encontro. Vamos lá – agora mais do que nunca.