Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Essa eterna pergunta está sempre aberta para uma novo sim, que desta vez veio de Vancouver, no Canadá, quando o dono da loja de discos Neptoon Records, Rob Frith, tirou uma noite para ouvir fitas de rolo que tinha guardadas em sua loja no estúdio de um amigo que tinha um equipamento adequado para ouvi-las. E ao sacar um rolo escrito “Beatles 60 Demos” na caixa, pensou que iria ouvir a gravação de algum disco pirata conhecido que tinha sido passado para aquela fita, mas qual foi sua surpresa ao se deparar com o que parece ser a fita master da clássica e infame sessão que John, Paul, George e Pete Best – Ringo ainda não tinha entrado na banda e sua ausência é notável – registraram no estúdio da gravadora Decca, em Londres, no primeiro dia de 1962. A gravação é conhecida dos beatlemaníacos e entrou para o hall da infâmia mundial ao ser o material que fez aquela gravadora não assinar com a banda que mudaria a história do mundo. Mas a fita descoberta por Frith, ao menos a partir dos dois trechos que ele postou em seu Instagram (“The Sheik of Araby” e “Money (That’s What I Want)”, ouça abaixo), parece ser um registro muito melhor do que os conhecidos até hoje – que inclusive os que entraram na Anthology, coletânea tripla que o grupo lançou nos anos 90 oficializando uma série de registros piratas para sua própria discografia. O que nos leva a um assunto que devo falar mais por esses dias: os 30 anos de Anthology e a necessidade do grupo de lançar uma nova edição da clássica compilação, que veio acompanhada de um documentário que não está em nenhum canal de streaming… Mas depois falo mais sobre isso.
O ritual aconteceu e o Monstro Amigo agora é Monstro Enigma. Grupo paulistano de rock progressivo liderado pelo tecladista Lukas de Vasconcellos Pessoa, passou por uma mudança de integrantes e hoje é formado pelo baterista Theo Amorim e pelo baixista Gabiroto – e a nova formação pedia a mudança de nome. Assim, Lukas transformou o Centro da Terra no palco deste ritual, quando não apenas abriu a noite trazendo o próprio Monstro Enigma ao palco (criado com lixo reciclado), como trouxe um espetáculo prog à moda antiga, com direito à apresentação de personagens, trocas de figurino e a criação de ambientes musicais completamente distintos, indo da música caipira (quando Lukas puxou um violão e misturou uma composição própria com uma música feita por seu pai, que estava na plateia) à tradição da canção brasileira (no momento em que a cantora carioca Daíra subiu ao palco), passando por delírios virtuoses ao piano, spoken word sobre virtudes e vícios, solos de baixo, incursões jazz funk com o prog brasileiro e acrobacias (com saltos ousados de Gabiroto e o tecladista solando com seu instrumento na nuca no final do show). Uma apresentação ousada e catártica, que marcou em grande estilo a nova fase dessa banda ímpar no cenário musical paulistano atual.
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E nesta última terça-feira de março, o Centro da Terra participa do ritual de transformação de uma banda, quando o trio psicodélico Monstro Amigo se metamorfoseia em Monstro Enigma, inaugurando uma nova fase. O evento de metamorfose contará ainda com a participação da artista Daíra, que abre uma nova dimensão na carreira do grupo. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados no site do Centro da Terra.
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Na terceira noite de sua temporada Quem Vê, Pensa no Centro da Terra, os Fonsecas deram seu salto mais ousado ao se entregar em uma noite de improviso sem canções estruturadas. Mas se antes da apresentação estavam receosos do resultado, bastou subir no palco para entender que a maior dificuldade do salto era o primeiro passo – uma vez caindo no abismo os quatro lembravam que estavam juntos e a conexão musical de Thalin, Felipe Távora, Valentim Frateschi e Caio Colasante falou mais alto, criando uma liga de ritmo e harmonia que abria possibilidades extremas para a apresentação, indo de um terreiro fictício aos extremos do noise, passando por flertes com o krautrock e free jazz. Mas não estavam só e a presença de Anna Vis (soltando seu spoken word com pedais de efeito que alteravam sua voz), de Julia Toledo (equilibrando-se entre o piano preparado, teclados elétricos e synths) e de Francisco Tavares (o “seu Fran”, pai do baterista Thalin, que esmerilhou na percussão) os ajudou a descer nessa região desconhecida de sua própria musicalidade, mostrando que eles têm um show de improviso na manga, sempre que precisarem – é só ligar esse modo.
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E o metapseudodocumentáriofake sobre o Pavement finalmente sai do circuito dos festivais e estreia nos cinemas comerciais – a princípio apenas nos EUA – e justamente por isso Pavements ganha seu primeiro trailer oficial, que demonstra como diretor Alex Ross Perry mistura sua megalomania de araque com a preguiça blasé da icônica banda indie norte-americana criando algo que não é só um registro sobre um trabalho artístico, como uma continuação e uma espécie de validação – usando muitos superlativos – da história da banda. Assista abaixo:
A nova safra indie brasileira está vindo à toda e há artistas novos surgindo em todos os lugares – e não é diferente em Belo Horizonte, terra da Clara Bicho (já tinha falado dela no ano passado), que lança mais um single nesta terça-feira e antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. O delicioso groove minimalista de “Cores da TV” também marca sua parceria com Sophia Chablau e o primeiro degrau de seu EP, que será lançado ainda neste semestre. “Um dia compartilhei que gostava muito de uma música da Sophia e nunca tínhamos conversado antes”, lembra a compositora mineira, que conheceu o trabalho de Sophia com sua banda Uma Enorme Perda de Tempo há uns três anos. “E ela me respondeu dizendo que curtiu meu trabalho, me mandando uma mensagem logo em seguida me convidando para a gente fazer alguma música juntas”. Clara lembra que “sempre me chamou atenção a forma como ela compõe, como escreve, como usa as palavras e cria as melodias – de alguma forma me identifiquei.” Marcaram de se conhecer quando Clara veio a São Paulo, mas, por motivos de saúde, as duas só puderam se conhecer quando Sophia foi para Belo Horizonte. Ao perguntar pra Sophia como ela foi convidar alguém que mal conhecia para compor juntas e “ela me disse que antes tinham falado de mim para ela e que ela ‘tinha que me conhecer e nos daríamos bem'”. Tanto deu que eis aí a colaboração, ouça abaixo:
Se você estiver procurando série pra ver, dá uma sacada em Paradise, que estreou no começo do ano e já terminou sua primeira temporada em oito episódios tensos. Ela conta a história de Xavier Collins (interpretado magistralmente por Sterling K. Brown), braço direito de uma das pessoas mais poderosas do mundo que passa a lidar com um problemaço depois que um assassinato começa a revelar uma história que é muito mais complexa do que parece na superfície. Sugiro apenas que assista ao primeiro episódio e veja se consegue segurar-se para não assistir ao capítulo seguinte em seguida após o que é mostrado quase no final. Ela está passando no Disney+.
Biógrafo de Getúlio Vargas, Padre Cícero, Maysa, José de Alencar, Oswald de Andrade e da história do samba, o jornalista e escritor cearense Lira Neto acaba de anunciar o que ele considera “o melhor e mais importante de minha carreira como autor de não-ficção”: a história de Luiz Gonzaga, um dos nomes mais importantes da nossa cultura que, até então, não tem um livro à altura de sua grandiosidade. O livro, ainda sem previsão de lançamento, sairá pela Companhia das Letras. Uma lacuna enorme em nossa bibliografia promete ser preenchida.
O lançamento do disco novo dos Boogarins no Rio de Janeiro no Circo Voador virou um senhor festival de indie rock brasileiro ao reunir as bandas Exclusive os Cabides, Gueersh, Drogma e Lê Almeida numa mesma sexta-feira. Os ingressos já estão à venda.
Mais uma da Dua: no terceiro show que fez na Austrália na abertura da turnê de seu disco mais recente, ela puxou outra homenagem a outra artista australiana ao cantar o hino imortal das pistas “Can’t Get You Outta My Head” de sua ídola Kylie Minogue – isso depois de cantar AC/DC num show e outra da Natalie Imbruglia no seguinte.