Neil Young volta ao Spotify

É uma boa notícia, embora o tom seja acridoce. Neil Young anunciou nesta quarta-feira que colocará seu catálogo de volta no Spotify. O mestre canadense havia retirado suas músicas do serviço de streaming porque este bancava o podcast do negacionista da Covid Joe Rogan, mas o programa de desinformação deste agora não é mais exclusivo do serviço sueco e está em outras plataformas, o que fez que Neil mudasse de ideia em vez de retirar suas músicas de serviços como Apple e Amazon, que agora também distribuem o infame programa. Young ainda aproveitou para cutucar a baixa definição das músicas no Spotify, em um comunicado que colocou em seu site e que traduzo abaixo:  

O hino como protesto

Apesar de canadense, Neil Young fez sua carreira nos Estados Unidos e sempre trwz discussões políticas pada o palco da música pop. Não foi diferente nesta quinta-feira, quando recorreu a um recurso clássico para sua geração que é o uso do hino norte-americano como uma forma de protestar contra situações que tornam os EUA um estado-vilão que usa suas forças poltica, financeira, cultural e bélica para interferir na política de outros países. A nova interpretação feita pelo avô do grunge ecoa à clássica versão de Jimi Hendrix no festival de Woodstock e surgiu num clipe dirigido por sua esposa, a atriz Daryl Hannah, que o colocou à contraluz em um pequrno palco, decorado pela bandeira dos EUA em farrapos e um globo de discoteca. E o velho Neil ali, estraçalhando sua guitarra.

Assista abaixo:  

Vida Fodona #797: Começou quentaço

Esse mês promete!

Ouça aqui:  

The Last Waltz de volta aos cinemas

E se os Talking Heads ressuscitaram graças a um dos melhores filmes feitos a partir de um show de todos os tempos (ao relançar o Stop Making Sense dirigido por Jonathan Demme nos cinemas), eis a deixa para falarmos de The Band: afinal a clássica banda canadense também é objeto de um dos melhores shows já filmados, quando decidiu encerrar suas atividades no dia de ação de graças de 1976. A derradeira apresentação aconteceu no Winterland Ballroom, em São Francisco, na Califórnia, quando o grupo chamou um elenco de convidados de cair o queixo: desde os seus primeiros “patrões” (Ronnie Hawkins e Bob Dylan, que acompanharam como banda de apoio em diferentes momentos de sua carreira) a estrelas do panteão do rock como Neil Young, Joni Mitchell, Van Morrison, Ringo Starr, Muddy Waters, Ronnie Wood, Emmylou Harris, Dr. John, Paul Butterfield, Eric Clapton e Neil Diamond. Para registrar este momento ninguém menos que Martin Scorsese na direção e o filme desta última apresentação voltará aos cinemas norte-americanos no mês de novembro, quando completa 45 anos (o filme foi lançado dois anos depois do show). A nova versão traz uma introdução narrada pelo saudoso Robbie Robertson, guitarrista do grupo e trilheiro de Scorsese que nos deixou este ano. Tomara que também venha para o Brasil, porque é um filmaço e um showzaço ao mesmo tempo. Veja só um trechinho abaixo:  

Neil Young tocando dois discos clássicos na íntegra num mesmo show

O velho Neil Young segue firme e forte, inclusive nos palcos. Em plena turnê pelos Estados Unidos, um dos maiores nomes da história do rock pousou no mitológico Roxy Theater, em Los Angeles, na quarta passada, para uma celebração dupla: era o aniversário da casa de shows, que completava 50 anos naquele 20 de setembro, que abriu justamente com uma apresentação do bardo canadense, então acompanhado pela banda Santa Monica Flyers. Desta vez ele voltou ao palco angeleno com seu clássico grupo Crazy Horse (com uma pequena mudança na formação, quando o guitarrista Nils Lofgren, que não pode comparecer, foi substituído pelo filho de Willie Nelson, Micah Nelson) e puxou não apenas um, mas dois discos clássicos tocados na íntegra: os soberbos Tonight’s the Night (de 1975) e sua estreia solo Everybody Knows This Is Nowhere (de 1969), de onde pinçou a estreia ao vivo de “Round and Round (It Won’t Be Long)”, que nunca havia sido tocada num palco. E é claro que almas heróicas estiveram presentes registrando esse momento para a posteridade, embora não tenha encontrado quem filmou o show inteiro. Seguem os vídeos que achei e o setlist dessa noite maravilhosa (e, porra, ninguém vai trazer o Neil Young pra cá de novo?):  

O disco perdido de Neil Young

Mesmo com disco clássico atrás de disco clássico em sua década de ouro, os anos 70, Neil Young produzia tanto que deixou vários registros pelo caminho, que vem desenterrando sem pressa. Agora é a vez de voltarmos ao Chrome Dreams que seria lançado em 1977 e reúne algumas das grandes canções do mestre canadense, lançadas posteriormente em diferentes versões em vários discos nos anos seguintes. São doze faixas compostas e gravadas entre 1974 e 1976 que finalmente verão a luz do dia em suas versões originais em agosto (o disco já está em pré-venda). “Powderfinger” vem em sua primeira versão, gravada por Young sozinho, “Pocahontas” é a mesma do disco Rust Never Sleeps só que sem alguns instrumentos gravados posteriormente, “Stringman” só havia aparecido em versões ao vivo, “Like a Hurricane” vem em sua primeira versão, como “Homegrown” (que batizaria outro disco perdido de Young, lançado em 2020, que também trouxe outra versão para “Star of Bethlehem”), “Too Far Gone” só apareceria no final dos anos 80 (no clássico Freedom) e “Hold Back the Tears” e “Sedan Delivery” (ouça a nova versão abaixo) que tem letras diferentes que nunca foram lançadas e por aí vai. E não custa lembrar que o velho voltou a fazer shows esse mês

Ouça a versão original de “Powderfinger”, veja a capa do disco e o nome das músicas abaixo:  

Neil Young lembra-se de David Crosby

“David se foi, mas sua música segue viva. A alma do CSNY, a voz e a energia de David estavam no coração da nossa banda”, escreveu Neil Young em seu site após a passagem de seu companheiro de aventuras na virada dos anos 60 para os 70. Crosby e Young estavam no cerne de uma cena hoje reverenciada como um dos grandes momentos da música do século passado – o encontro humano que aconteceu no bairro de Laurel Canyon à medida em que a Califórnia se transformava em um acontecimento pop tão importante quanto a Londres do meio daquela década. A meca de malucos que migrou para aquele bairro de Los Angeles reunia artistas tão diferentes quanto Frank Zappa, The Mamas & The Papas, os Doors e Joni Mitchell e as as bandas destes dois artistas – o Buffalo Springfield de Young e os Byrds de Crosby – estavam exatamente no meio das transformações culturais daquele período. O fim destas duas bandas os aproximou ainda mais quando montaram um dos primeiros supergrupos da história, o mitológico Crosby Stills Nash & Young, que reunia os dois a um outro ex-Buffalo Springfield, Stephen Stills, e outro ex-integrante do Hollies, Graham Nash, que se tornou uma força-motriz do cancioneiro californiano da época.

“Suas grandes canções falavam do que acreditávamos e era sempre divertido e emocionante quando tocávamos juntos”, continua Young no post em seu site. “‘Almost Cut My Hair’, ‘Dejavu’ e tantas outras grandes canções que ele escreveu eram maravilhosas para improvisar e eu e Stills nos divertíamos muito enquanto ele nos mantinha tocando. Seu canto com Graham era tão memorável que o duo deles era sempre um dos destaques de muitos de nossos shows.”

“Tivemos tantos momentos ótimos, especialmente nos primeiros anos. Crosby foi um amigo que me apoiou muito no início da minha vida, quando compartilhamos grandes pedaços de nossa experiência juntos. Ele foi o catalisador de muitas coisas.”

“Meu coração está com Jan e Django, sua esposa e filho. Muito amor para você. Obrigado David por seu espírito e canções. Te amo cara. Lembro-me dos melhores momentos!”

Bonito.

Vida Fodona #772: Bem na manha

Vem comigo.

Ouça aqui.  

Clássicos internacionais de 1972 – Parte 2

Dando continuidade à série que inaugurei nesta sexta-feira no site da CNN Brasil, sigo falando de discos lançados há meio século que seguem importantes até hoje. 1972 foi o ano do disco mais bem-sucedido do Neil Young, do primeiro disco da dupla alemã Neu!, da sombria obra-prima de Nick Drake, do disco mais ousado de Miles Davis, do disco solo mais memorável de Lou Reed, da volta por cima de Ornette Coleman e do momento em que o Genesis torna-se uma brincadeira séria.  

Você conhece o Neil Young…

Em mais uma colaboração para o site da CNN Brasil, mostrei que nosso herói Neil Young não entrou nessa contra o Spotify de uma hora pra outra – e sua importância como músico, compositor e cantor equivale à sua tradicional luta contra os opressores e seu ativismo político sempre alerta.