Dois monstros sagrados da canção norte-americana se reencontraram neste sábado para um sarau elétrico com cargas de nostalgia, quando os ex-companheiros de banda Neil Young e Stephen Stills tocaram juntos no festival Harvest Moon, que arrecada fundos para duas instituições que acompanham o tratamento de crianças com necessidades especiais, a Bridge School, fundada por Neil Young, e a Paint Turtle, fundada pelo ator Paul Newman. O reencontro aconteceu na tarde do sábado passado, quando revisitaram não apenas músicas de suas antigas bandas do final dos anos 60 – Buffalo Springfield (“For What It’s Worth”, “Bluebird” e voltando pela primeira vez em 57 anos “Hung Upside Down”!) e Crosby Stills Nash & Young (“Helplessly Hoping” e “Helpless”)- como abriram a apresentação com “Long May You Run”, da banda de breve duração que os dois tiveram no meio da década seguinte, a Stills-Young Band, que só existiu durante um único disco. Além de canções solo de Stills (“Love the One You’re With”) e do velho Neil (como “Vampire Blues”, “Field of Opportunity”, “Human Highway”, “Heart of Gold” e “Harvest Moon”, as duas últimas com a vocalista Lily Meola), ainda contaram com a presença de John Mayer, que também fez seu show no festival, na última música do bis, “Rockin’ in the Free World”. Veja o setlist completo e as músicas que heróis filmaram da plateia abaixo:
O Rock in Rio começa nessa sexta-feira e, apesar de empolgar milhões de pessoas no Brasil inteiro por motivos óbvio, ele é literalmente um evento em que só vou se me pagarem – como foi nas três edições que assisti (2001, 2015 e 2017), em que fui por estar trabalhando. O tamanho gigantesco – e todas as hipérboles que partem disso – nem é o único motivo de me cansar do festival sem nem precisar pisar o pé na cidade do rock, mas principalmente o fato do evento ser um shopping center a céu aberto em que marcas e vendedores tentam capturar a atenção de um público que, em sua imensa maioria, não frequenta shows regularmente, o que acaba associando o nome do acontecimento a um perrengue interminável. Mas isso não quer dizer que o Rock in Rio não traga bons shows, muito pelo contrário – e a partir disso fui chamado para votar nos melhores shows do festival em uma eleição feita pelo portal G1 entre 150 jornalistas que cobrem cultura para elencar os melhores shows da história do evento, que ano que vem completa 40 anos. Diferente de alguns votantes (que escolheram shows que assistiram pela TV ou pela internet), preferi citar apenas os shows em que estive presente e fiquei fez em saber que, dos cinco nomes que escolhi (Neil Young, Who, R.E.M., Iron Maiden e Beck) só um (o último) não entrou na lista final. Para acessar a relação dos 40 nomes escolhidos (todos com link para ver os vídeos online) siga este link.
E por falar em aparição surpresa, quem deu as caras sem avisar antes num show nessa terça-feira foi Sir Paul McCartney, que subiu no palco da casa de shows Stephen Talkhouse numa praia na região de Nova York onde o produtor Andrew Watt fazia uma festa com o baterista do Red Hot Chili Peppers, Chad Smith. Paul subiu no palco e cantou duas músicas, “I Saw Her Standing There” – música que abre o primeiro disco dos Beatles – e “Rockin’ in the Free World”, de Neil Young, que ele cantou ao lado da namorada de Watt, Charlotte Lawrence. Só imagina…
Passo fundamental na consolidação da carreira solo de Neil Young, sua apresentação no teatro da BBC no dia 23 de fevereiro de 1971, em Londres (que só foi exibido no dia 26 de abril), tinha enorme parte de seu repertório ainda inédita, incluindo músicas que hoje são clássicos do cantor canadense, a maioria do disco Harvest, que só seria lançado em 1972 (como “Out On The Weekend”, “Old Man”, “Cowgirl In The Sand”, “Heart Of Gold” e “A Man Needs A Maid”). Do repertório exibido no programa original, que pode ser visto abaixo na íntegra, apenas “Don’t Let It Bring You Down” e “Dance Dance Dance” já haviam sido lançadas. “Journey Through The Past”, por exemplo, só viria a público décadas depois, mesmo com uma trilha sonora que levava seu título (mas não a trazia no repertório). O site Sugar Mountain, especializado nos setlists do velho bardo, lista que outras músicas foram tocadas naquela apresentação e, tirando “The Needle And The Damage Done”, que entrou em Harvest, todas as outras quase entraram no disco de 72, mas só surgiram oficialmente em discos ao vivo e coletâneas que o autor lançou ainda nos anos 70 (como “Love In Mind”, “I Am A Child” e “There’s A World”). Além destas, só “Tell Me Why”, que também não foi exibida, já havia sido lançada. Fica então aí uma senhora lacuna na discografia de um autor obcecado pelo próprio completismo. Assista abaixo à apresentação e compare os setlists original com o que foi transmitido:
“I floated on the water/ I ate that ocean wave/Two weeks after the slaughter/I was living in a cave/They came too late to get me/But there’s no one here to set me free/From this rocky grave/To that snowed-out ocean wave”. Tudo é uma surpresa quando falamos de Neil Young – e não foi diferente nesta quarta-feira, quando voltou a fazer shows iniciando a turnê de lançamento de mais um novo álbum, Fu##kin’Up, quando apresentou a nova formação de seu Crazy Horse – com Micah Nelson no lugar de Nils Lofgren e sempre com Ralph Molina e Billy Talbot – e aproveitou esse primeiro show para revelar um verso perdido do épico “Cortez the Killer”. A música, com quinze minutos ao vivo, trouxe o longo verso de conclusão que não coube na versão original gravada no clássico Zuma, como o próprio Young havia revelado em uma entrevista para os fãs há pouco. O show realizado no Cal Coast Credit Union Open Air Theatre em San Diego, na costa oeste dos Estados Unidos, ainda trouxe versões ao vivo para clássicos como “Cinnamon Girl”, “Don’t Cry No Tears”, “Down By The River”, “Everybody Knows This Is Nowhere”, “Powderfinger”, “Love And Only Love”, “Comes A Time”, “Heart Of Gold” e “Hey Hey, My My (Into The Black)” (assista a algumas músicas filmadas pelo público abaixo), entre outras canções. O velho canadense cruza os EUA com sua Love Earth Tour, que terá 30 datas até setembro. Por favor, venha pro Brasil!
Todos os discos do Neil Young, incluindo os dois volumes de sua caixa Archives e os vários discos que tem desenterrado nos últimos anos, já estão no Spotify. De nada.