Sem rumo no curso do mundo

, por Alexandre Matias

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Voltando de carro de um show de São Paulo, em fevereiro do ano passado, o Oruã, do herói indie Lê Almeida, passou por Piraí, no interior do Rio de Janeiro, e finalmente realizou um encontro que vinha adiando há tempos – um dia de improviso com a dupla Kartas, velha conhecida da banda. Depois de mais de um ano debruçado sobre as fitas daquele encontro, Lê finalmente lança o registro daquele dia, batizado de Conjugations, em primeira mão no Trabalho Sujo.

“Nos meses que antecederam essa gravação, a gente fazia intensas tours de carro com o Oruã – fomos até Natal, Goiânia e até o Uruguai – e em todas as vezes que passávamos por Piraí eu combinava de parar pela casa do Zozio e da Marcela, que tocam o Kartas. Me identifico muito com eles, não só musicalmente como artisticamente e na amizade”, lembra Lê. “Mas nunca rolava, porque as viagens eram sempre corridas. Mas nessa viagem especifica pra São Paulo, em fevereiro de 2019, o carro do Vini que sempre usávamos emprestado estava com a documentação atrasada e em cima da hora de viajar eu optei por trocar pelo carro do meu pai, sabendo que ele era mais velho e nunca tinha feito uma viagem desse porte e totalmente cheio.”

“Nós chegamos em cima da hora de tocar, recebemos uma multa por parar em lugar indevido, mas fora isso tudo correu bem”, Lê continua. “Em todas as viagens que fazíamos sempre viajava alguns amigos além de nós três e nessa viagem foi o David e o Bigú. O Bigú ficou lá em SP e trouxemos a Laura na volta. Chegamos num domingo à noite em Piraí e na segunda de manhã começamos a montar um esquema totalmente diferente de gravação do que costumávamos fazer, ao invés de gravarmos os instrumentos, gravamos o som da sala, posicionando os mics em lugares específicos.”

O encontro mistura o spoken word da vocalista Marcela com o improviso noise de uma formação diferente da que o Oruã costuma tocar, principalmente com a entrada do segundo Kartas, Zozio, na formação instrumental. “A Marcela canta, eu toco guitarra, Phill toca uma das baterias, Zozio toca a outra e alguns circuit bend, João Luiz toca o baixo e o David toca algumas percussões”, lembra Lê. “Tudo foi gravado num mesmo dia, mas em momentos diferentes, pela manhã, a tarde e a noite. As letras da Marcela guiaram muitos movimentos e algumas coisas a gente ia formando caminho”, continua.

“Foi um dia inteiro de improvisos, combinações de temas, banhos de piscina e muita troca de idéia”, ele prossegue. “Durante esse dia o pai da Marcela iria fazer uma cirurgia e o meu faria um ano de morto dali um pouco mais de um mês, as nossas energias harmonizavam em algum lugar.” Lê diz que a ideia não era criar uma banda nova, embora houvesse a possibilidade de repetir o encontro ao vivo, a partir de uma turnê com as duas bandas. “Agora nosso mundo já é outro”, explica, lembrando que sua casa de shows no Rio de Janeiro, o Escritório, segue fechado por conta da pandemia. “Nosso último evento, que seria a volta acabou, sendo o último. Ele continua depois da pandemia, fizemos um acordo no aluguel e vamos passar a soltar uns discos ao vivos gravados lá no bandcamp e vez ou outras vamos passar a soltar umas playlist no spotify e no mixcloud.”

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