Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

50 anos de Tonight’s the Night, do Neil Young

Felizmente o baú de Neil Young não tem fundo e ele acaba de anunciar a edição que comemora o 50º aniversário de um de seus discos mais importantes, Tonight’s the Night. A edição, limitada (cuja pré-venda só acontecerá pelo site do bardo canadense), sairá no dia 28 de novembro e traz seis faixas inéditas registradas durante as gravações do disco de 1975, entre elas uma versão de “Raised on Robbery” com a participação de Joni Mitchell. Mas para anunciar a nova versão (que traz uma nova capa multicolorida, usando a foto preto e branco do disco original), ele pinça a primeira versão de “Lookout Joe”, de 1973, que na nova edição substituirá a versão que conhecemos. Ouça-a na íntegra abaixo:  

Dois obeliscos do piano brasileiro

Sexta-feira passada dois monstros do piano brasileiro se despediram da curta temporada que fizeram juntos na semana de estreia do Sesc Jazz e eu escrevi sobre esse encontro inédito para o Toca UOL.  

Olha a Rosalía vindo aí…

A cantora espanhola responsável pelo torpedo musical Motomami aos poucos prepara sua volta ao disco, espalhando pistas pela internet e pela vida real. Desligou sua conta no Twitter, mas antes disso twittou “Lux = Love”. Depois trocou sua foto de perfil no Instagram para uma imagem que mostra um feixe de luz e abriu um formulário em seu site rosalia.com, que também traz um novo logo – além de ter aparecido um vídeo, sem som, que mostra a espanhola no estúdio. Ao mesmo tempo, foram avistados em duas cidades diferentes (Nova York nos EUA e Callao no Peru, por enquanto), cartazes que muitos especulam ser a capa do disco, que ainda traz uma partitura musical que ela publicou em sua mailing list via Substack (e que seus fãs já estão tocando-a em vídeos online). Aparentemente o disco chama-se Lux e será lançado em novembro.

Veja abaixo:  

Ouviram o disco novo do Tame Impala?

Kevin Parker lançou o quinto disco de seu Tame Impala nessa sexta-feira e… Deadbeat ainda não desceu. Tem boas ideias de músicas, bem como é boa a ideia de revisitar o final dos anos 80 e o início dos anos 90 em busca de referências de música eletrônica e pista de dança para embalar suas canções psicodélicas, mas bastam algumas audições para o disco soar apenas monótono. E parece que o próprio Kevin sabe disso, tanto que lançou o novo álbum no mesmo dia em que o Tiny Desk o trouxe para mostrar as novas músicas no já tradicional cenário do programa da rádio norte-americana NPR. Ao abandonar a linguagem eletrônica e abraçar inúmeros instrumentos de corda – todos parentes do violão – para mostrar acusticamente um disco sintético ele parece ao mesmo tempo indeciso (e desconfortável com as novas músicas) ao mesmo tempo em que parece querer mudar o jogo nas versões ao vivo dessas músicas. Uma pena, mas parece que o disco nasceu pra ser esquecido…

Assista abaixo:  

Dua Lipa ♥ Brandi Carlile e Ben Gibbard

Dua Lipa despediu-se da América do Norte nesta semana quando fez suas duas últimas apresentações desta turnê em Seattle, mantendo sempre a regra de homenagear a cidade visitada com músicas nascidas nela, mas ao contrário do que imaginei (cogitei Hendrix, Heart ou Nirvana), ela preferiu olhar para seus contemporâneos, convidando dois artistas da cidade para dividir vocais em suas canções. O primeiro show na Climate Pledge Arena aconteceu na quarta, quando ela chamou a ícone folk local Brandi Carlile para dividir seu primeiro grande hit, “The Story”. Depois, na quinta, foi a vez de chamar o herói indie da cidade, Ben Gibbard, da banda Death Cab For Cutie, para subir no palco, chamando-o de “lenda” por duas vezes, para tocar “I Will Follow You Into The Dark”, hino de sua banda em 2006, em versão acústica. E agora ela aponta sua turnê para nossas bandas, com shows na Argentina, Chile, Peru, Colômbia e, claro, Brasil, antes de encerrar a turnê com três show na Cidade do México. E aí, quem vai no show dela por aqui?

Assista abaixo:  

Ace Frehley (1951-2025)

Se Gene Simmons e Paul Stanley eram a inevitável dupla que carregava a reputação e o nome de sua banda Kiss como na maioria dos exemplos do rock clássico, Ace Frehley, que morreu nesta quinta-feira, era o terceiro elemento que equilibrava a tensão criativa – e de negócios – dos donos da banda e fazia as canções e a reputação do grupo brilhar ainda mais graças às luzes de seus solos de guitarra. Mais do que apenas uma perda para o grupo, é um triste despedida para um dos grandes guitarristas da história do rock pesado.

Charli XCX: Artista!

Depois do ano Brat, Charli XCX está lentamente entrando no primeiro escalão do pop mundial mas por uma porta lateral – a da Arte, com A maiúsculo. Por mais bem sucedido que seu disco do ano passado tenha sido, ele não chega a ser um sucesso comercial como os grandes nomes do pop atual, mas sua repercussão junto à crítica musical de todo o planeta e a forma como o álbum abriu discussões de diferentes naturezas já deixaram a cantora inglesa num patamar estético que até mesmo os gigantes do pop mundial têm dificuldade em manter (isso os que conseguem chegar lá). E no momento em que ela começa a explorar sua carreira cinematográfica, outras áreas vêm se aproximando dela a fim de surfar na onda que ela criou para si mesma. Um dos melhores exemplos disso é a capa da nova edição da revista norte-americana Vanity Fair, que pela primeira vez em 20 anos dedica todas suas páginas à arte, algo que não acontece desde 2006, quando Brad Pitt foi retratado em vídeo-instalações de Robert Wilson. A autoria da capa dessa vez fica com a pintora inglesa Issy Wood, que traz metade do rosto de Charli pintada sobre uma tela de veludo a partir de uma das fotos feitas pelo escocês Aidan Zamiri, que por sua vez dirige um dos filmes que a senhora XCX está envolvida, The Moment, criado a partir de uma ideia dela mesma. A tela, chamada de Charli 2, é batizada assim em referência à mixtape Pop 2, que ela lançou em 2017 – e que, como a tela, não tem uma edição número 1. Artista!

Transcendência musical

Criado antes da pandemia a partir da aproximação de dois monstros sagrados da música – o produtor norte-americano pai do techno de Detroit Jeff Mills e o baterista nigeriano que inventou o afrobeat Tony Allen – o projeto Tomorrow Comes the Harvest veio ao Brasil pela primeira vez esta semana, quando recebeu o público em duas noites lotadas na Casa Natura Musical. Criado a partir do trato entre os dois mestres de não combinar nada antes de subir no palco, improvisando tudo na hora, o duo cresceu com a incorporação do tecladista francês Jean-Phi Dary, mas quase virou história quando Allen faleceu em 2020. Felizmente, os dois remanescentes do grupo não desistiram da ideia e chamaram o percussionista indiano Prabhu Edouard para juntar-se ao grupo e cada nova apresentação abre universos distintos de música para além de composições pré-definidas. A regra aqui é uma só: crescendos intermináveis que hipnotizam o público em ciclos repetitivos que abrem espaço para improvisos musicais dos três protagonistas: Mills pilotando uma mesa de som e uma bateria eletrônica ao mesmo tempo em que toca pratos, atabaque e um pandeiro, Edouard esmerilhando nas tablas ao mesmo tempo em que joga efeitos eletrônicos sobre elas e Dary dividido entre um piano de cauda, teclados elétricos e sintetizadores de todos os tamanhos, criando longos transes sinuosos, em que jazz mistura-se com música indiana, muita percussão e beats de música eletrônica, tudo temperado enquanto vai sendo cozido, num deleite sonoro que poderia estender-se por horas. Inacreditável.

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O Sugar está de volta!

O segundo trio mais importante da carreira de um dos papas do indie rock está de volta! Depois de atiçar os fãs com pistas na internet, Bob Mould – o monstro sagrado que mudou a história do rock dos EUA ao liderar o clássico trio Hüsker Dü – reativa o Sugar, banda que montou com o baixista David Barbe e o baterista Malcolm Travis no início dos anos 90, quando a fórmula criada no Dü finalmente tinha se estabelecido no inconsciente coletivo, graças a grupos como Dinosaur Jr., Pixies, Nirvana e Smashing Pumpkins. O grupo durou pouco tempo, mas foi o suficiente para afirmar a importância de seu principal compositor, que mantém uma bem sucedida carreira solo desde então. Aproveitando a inevitável nostagia pelos anos 90, o grupo resolveu voltar à ativa, anunciando shows para o ano que vem (dois em Nova York, dias 2 e 3 de maio, e depois em Londres, dias 23 e 24, o que deve crescer para uma turnê) e mostrando o clipe de uma música nova, indicando que pode ter disco novo vindo aí.

Assista abaixo:  

Um festival de música que não conta quem vai tocar

Vocês viram que semana que vem tem mais um festival em São Paulo – e dessa vez ninguém sabe quem vai tocar. O No Line-Up Festival é um evento assinado pela cerveja Heineken, que trará 15 atrações em doze horas de shows, no próximo dia 25, na Fábrica de Impressões, na Barra Funda, em São Paulo. A ideia de fazer um evento sem contar quem serão as atrações parece apenas uma daquelas sacadas de publicitário pra tentar colocar a experiência à frente das atrações, mas com a curadoria assinada pelo jornalista Lúcio Ribeiro (que faz o Popload Festival) e pelo dramaturgo Felipe Hirsch (que também é curador do C6 Fest) há um mínimo de segurança de atrações convincentes e contemporâneas, puxando mais prum lado indie e dance, do que pra outros gêneros musicais, embora possa ter um pouquinho de música queer e um tanto de rap também. Outra vantagem é que o festival é gratuito e é preciso se inscrever no aplicativo do evento para garantir os ingressos. Tem uma graça nesse formato que é a possibilidade de assistir a shows de artistas virtualmente desconhecidos, sem precisar que a popularidade ou o hype balizem o evento. Nesse sentido, ele pode se tornar o extremo oposto de um publifestival, quando o público será apresentado aos nomes na hora em que os artistas subirem no palco. É uma confiança quase cega na curadoria – que se acertar pode fidelizar o público de um jeito bem interessante – e que exige que o público entre de coração aberto para a novidade. Mas ao mesmo tempo é uma faca de dois gumes, pois qualquer deslize pode botar tudo a perder. A ver.