Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Ace Frehley (1951-2025)

Se Gene Simmons e Paul Stanley eram a inevitável dupla que carregava a reputação e o nome de sua banda Kiss como na maioria dos exemplos do rock clássico, Ace Frehley, que morreu nesta quinta-feira, era o terceiro elemento que equilibrava a tensão criativa – e de negócios – dos donos da banda e fazia as canções e a reputação do grupo brilhar ainda mais graças às luzes de seus solos de guitarra. Mais do que apenas uma perda para o grupo, é um triste despedida para um dos grandes guitarristas da história do rock pesado.

Charli XCX: Artista!

Depois do ano Brat, Charli XCX está lentamente entrando no primeiro escalão do pop mundial mas por uma porta lateral – a da Arte, com A maiúsculo. Por mais bem sucedido que seu disco do ano passado tenha sido, ele não chega a ser um sucesso comercial como os grandes nomes do pop atual, mas sua repercussão junto à crítica musical de todo o planeta e a forma como o álbum abriu discussões de diferentes naturezas já deixaram a cantora inglesa num patamar estético que até mesmo os gigantes do pop mundial têm dificuldade em manter (isso os que conseguem chegar lá). E no momento em que ela começa a explorar sua carreira cinematográfica, outras áreas vêm se aproximando dela a fim de surfar na onda que ela criou para si mesma. Um dos melhores exemplos disso é a capa da nova edição da revista norte-americana Vanity Fair, que pela primeira vez em 20 anos dedica todas suas páginas à arte, algo que não acontece desde 2006, quando Brad Pitt foi retratado em vídeo-instalações de Robert Wilson. A autoria da capa dessa vez fica com a pintora inglesa Issy Wood, que traz metade do rosto de Charli pintada sobre uma tela de veludo a partir de uma das fotos feitas pelo escocês Aidan Zamiri, que por sua vez dirige um dos filmes que a senhora XCX está envolvida, The Moment, criado a partir de uma ideia dela mesma. A tela, chamada de Charli 2, é batizada assim em referência à mixtape Pop 2, que ela lançou em 2017 – e que, como a tela, não tem uma edição número 1. Artista!

O Sugar está de volta!

O segundo trio mais importante da carreira de um dos papas do indie rock está de volta! Depois de atiçar os fãs com pistas na internet, Bob Mould – o monstro sagrado que mudou a história do rock dos EUA ao liderar o clássico trio Hüsker Dü – reativa o Sugar, banda que montou com o baixista David Barbe e o baterista Malcolm Travis no início dos anos 90, quando a fórmula criada no Dü finalmente tinha se estabelecido no inconsciente coletivo, graças a grupos como Dinosaur Jr., Pixies, Nirvana e Smashing Pumpkins. O grupo durou pouco tempo, mas foi o suficiente para afirmar a importância de seu principal compositor, que mantém uma bem sucedida carreira solo desde então. Aproveitando a inevitável nostagia pelos anos 90, o grupo resolveu voltar à ativa, anunciando shows para o ano que vem (dois em Nova York, dias 2 e 3 de maio, e depois em Londres, dias 23 e 24, o que deve crescer para uma turnê) e mostrando o clipe de uma música nova, indicando que pode ter disco novo vindo aí.

Assista abaixo:  

Um festival de música que não conta quem vai tocar

Vocês viram que semana que vem tem mais um festival em São Paulo – e dessa vez ninguém sabe quem vai tocar. O No Line-Up Festival é um evento assinado pela cerveja Heineken, que trará 15 atrações em doze horas de shows, no próximo dia 25, na Fábrica de Impressões, na Barra Funda, em São Paulo. A ideia de fazer um evento sem contar quem serão as atrações parece apenas uma daquelas sacadas de publicitário pra tentar colocar a experiência à frente das atrações, mas com a curadoria assinada pelo jornalista Lúcio Ribeiro (que faz o Popload Festival) e pelo dramaturgo Felipe Hirsch (que também é curador do C6 Fest) há um mínimo de segurança de atrações convincentes e contemporâneas, puxando mais prum lado indie e dance, do que pra outros gêneros musicais, embora possa ter um pouquinho de música queer e um tanto de rap também. Outra vantagem é que o festival é gratuito e é preciso se inscrever no aplicativo do evento para garantir os ingressos. Tem uma graça nesse formato que é a possibilidade de assistir a shows de artistas virtualmente desconhecidos, sem precisar que a popularidade ou o hype balizem o evento. Nesse sentido, ele pode se tornar o extremo oposto de um publifestival, quando o público será apresentado aos nomes na hora em que os artistas subirem no palco. É uma confiança quase cega na curadoria – que se acertar pode fidelizar o público de um jeito bem interessante – e que exige que o público entre de coração aberto para a novidade. Mas ao mesmo tempo é uma faca de dois gumes, pois qualquer deslize pode botar tudo a perder. A ver.

Olha a Courtneyzinha aí…

Depois de alguns teasers online, a australiana Courtney Barnett lança um novo single que pode ser o início de um novo capítulo em sua discografia. O rock cru “Stay in Your Lane” vem com clipe dirigido por Alex Ross Perry, que além de assinar clipes do Ghost, Soccer Mommy, Sleigh Bells e Kim Gordon também é o autor do metadocumentário Pavements, sobre a clássica banda indie. O clima de inquietação rock da música – característico dos primeiros discos de Barnett – conversa com as estranhas cenas em um hospital que aparecem no vídeo. É seu primeiro lançamento desde o instrumental End of the Day, que ela lançou de surpresa em 2023 com temas que fez para a trilha do documentário Anonymous Club, mas desde que lançou Things Take Time, Take Time em 2021 não lançava mais nenhuma canção mais tradicional. Até agora. Vamos esperar notícias do disco.

Assista abaixo:  

Pop num instante

Rafael Castro e Marília Calderón finalmente estão colocando sua banda Repentina na rua, projeto musical dos dois que estreou no palco do Centro da Terra no primeiro ano em que comecei a fazer a curadoria de música do teatro, quando a apresentação do grupo fez parte da temporada Mete o Louco, que Rafael fez no segundo semestre de 2017 por lá. Acompanhados da bateria precisa e new wave de Gongom e do versátil trompete de Gá Setúbal, os dois destilam sarcasmo e ironia em canções que quase sempre falam de amor e seus desdobramentos inevitáveis misturando música pop com rock, MPB e um retrogosto de indie rock e mostrando que o universo da banda está pronto para grudar em nossos repertórios mentais. Eles mostraram as músicas que estarão no disco A Primeira Última Vez, pronto desde a primeira vinda da banda e que deve ser lançado ainda esse ano, e fizeram o público entrar em sua onda. Maravilha!

#repentinanocentrodaterra #repentina #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 222

Repentina: Música de Amor

Um prazer receber a nova aparição da banda Repentina, formada a partir do encontro dos grandes Rafael Castro e Juliana Calderón que, como reza o nome, ressurge sem aviso depois de um hiato recente – agora com Ga Setúbal e Gongom na formação -, antecipando o próximo álbum, A Primeira Última Vez, no espetáculo Música de Amor, batizado a partir de uma das canções do disco que será lançado ainda este ano. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.

#repentinanocentrodaterra #repentina #centrodaterra #centrodaterra2025

Drew Struzan (1947-2025)

Outra morte triste neste início de semana, desta vez do ilustrador que inventou o pôster de cinema para uma nova fase de Hollywood, a partir dos anos 70. Caiu nas graças de nomes que revolucionaram a indústria do cinema do fim do século passado – como George Lucas, Steven Spielberg, entre outros – e seu traço a mão e estilo hiperrealista forjaram um formato que é imitado e reverenciado até hoje.

Veja alguns dos clássicos do ilustrador abaixo:  

D’Angelo (1974-2025)

Que triste essa notícia da morte do D’Angelo, um titã do R&B, pai do neo-soul e um dos principais nomes do pop estadunidense neste século.

Metá Metá e Negro Leo no Tiny Desk Brasil

O segundo Tiny Desk Brasil, exibido nessa terça-feira, foi também o primeiro a ser gravado, no dia 2 de setembro deste ano – e foi a edição cuja gravação pude presenciar ao vivo. Depois de João Gomes, a não assumida mesinha foi para outro extremo do espectro da nossa música e reuniu o querido trio Metá Metá ao idiossincrático Negro Leo, numa curta apresentação em que além de tocar “Rainha das Cabeças”, “Bará Bará” e “Obatalá”, ainda fizeram “Sem Cais” (que Leo compôs para o soberbo Delta Estácio Blues, segundo disco de Juçara Marçal, produzido por Kiko Dinucci, trazendo finalmente Thiago França para o universo DEB) e “Eu Lacrei” do próprio Leo num show, como de praxe, foda.

Confira abaixo: