A volta de Simplicio Neto

, por Alexandre Matias

simplicio

Foi pilha dos amigos, mas deu certo: Simplicio Neto, ex-banda Filme, é um dos últimos representantes da cena indie carioca da década passada a se arriscar num projeto solo. A pilha foi dos amigos Pedro Bonifrate (dos Supercordas) e Sidney Honigzstejn (dos Vibrossensores, que estão voltando, mas isso é outro papo), que se juntaram ao velho Simpla pra formar a banda Simplicio Neto & Os Nefelibatas, que ainda conta com Felipe Rodrigues na bateria e Gabriel Ares nos teclados. A banda dividiu-se em duas encarnações para que Sidney e Pedro pudessem cuidar, cada um, da produção de um EP: Sidney produziu o EP Terror e Vaudeville e Pedro o EP Fuscas & Dirigíveis, que teve uma de suas faixas, “Segunda-feira em Oz”, descolada exclusivamente para o Trabalho Sujo, abaixo (junto com a faixa-título do outro EP, que já circulava online). A nova banda começa os trabalhos no dia 9 de outubro e bati um papo rápido com Simplicio por email sobre essa nova encarnação e como anda a cena indie no lado de lá da Dutra.

Como começou esta nova fase? E a ideia de lançar dois discos ao mesmo tempo?
Do grupo de amigos músicos, poetas e compositores aglutinados desde os tempos de Vibrosensores e Midsummer Madness, eu tinha sido o único a ainda não ter me aventurado ainda em um trabalho solo. Pedro do Supercordas lançou nesses últimos anos o Bonifrate. Augusto Malbouisson, os Acessórios Essenciais. Sandro, o Digital Ameríndio, Lois Lancaster e Sidney Honigztejn o Padaria Sinistra, e por aí vai, configurando uma cena musical modular, de personalidades bem diferentes, porém empenhadas num esforço coletivo comum, um mesmo projeto estético sonoro, tendo sempre como back up band praticamente os mesmos nomes, ex-companheiros das bandas citadas, como o tecladista e arranjador Gabriel Ares que toca em todas elas.
Nas conversas com Pedro essa cobrança pessoal e coletiva e afetiva de termos uma banda minha, só com minhas composições, meio que tidas por todos declaradamente como inspiradoras – talvez por eu ser mais velho, pois
sou tão inspirado nas canções deles quanto eles nas minhas – se consolidou. Assim partimos para aventura dos Nefelibatas. Eu tinha alcançado um destaque na área de cinema com meu filme sobre Bezerra da Silva, o “Onde a Coruja Dorme”, que afinal é um musical que trata do processo de composição e das agruras de compositores independentes. Então tudo se aglutina num desejo maior de expressão, e repercussão, de um novo grupo coeso de compositores de canções brasileiras contemporâneas, embalados pelo folk, a psicodelia, a eletrônica e o noise e etc. Guardadas as devidíssimas proporções, ao sair da Filme eu estava meio como o George Harrison quando ele saiu dos Beatles, com várias composições represadas. Seu número e sua estética encantaram tanto o Pedro quanto o Sidney, e fazendo justiça salomônica e abrindo uma frente ampla atacando por dois flancos, resolvemos encarar esse lançamento duplo, de álbuns com estéticas sonoras um tanto diferentes, mas complementares, conduzidas por dois produtores.
O que dá mais ainda a dimensão de diversidade na unidade, ou unidade na diversidade, própria de nosso grupo. Essas ideias todas tinham sido também amadurecidas quando escrevi esse espécie de manifesto nosso, para o lançamento do EP Toca do Cosmos do Pedro. Que fala meio disso tudo.

Como vai ser o lançamento desses discos? Eles vão ser lançados em formato físico? E como são os shows?
Vamos primeiro lançar um ou dois singles no Soundcloud, algo para os blogs e críticos que nos interessam e também nos guiam como o Trabalho Sujo, e um clip no YouTube, uma fanpage da banda, essas coisas. Chamando o publico em geral e os que já seguem os outros trabalhos dos músicos envolvidos para o show de lançamento no Audio Rebel, no Rio agora 9 de Outubro. Já Dia 7 de Dezembro, teremos um show com Bonifrate e o Juvenil Silva – articulando com a cena de Recife – na Sala Baden Powell no Rio. Em que lançaremos os dois EPs, a princípio na página do Bandcamp, e a posteriori, lutando pela consolidação no vinil, o estado-da-arte pra nós. Sou um coleciador e DJ de vinil
também. Talvez role até K7. E nossa estreia em São Paulo será na Casa do Mancha, sendo nosso grupo também um tanto paulista por conta da super proximidade com o Supercordas e turma da Casa. Alderbaran, musica minha que Pedro sempre toca nos shows do Bonifrate, fala muito de São Paulo e cita suas ruas, um encanto que nasceu desde os shows dos Vibrosensores na cidade, no contato com o rock da cidade.

Como anda a cena carioca hoje? Quem legal você tem acompanhado?
Vimos os lugares em que tocamos nos últimos anos, como o seminal Plano B, a Comuna, o Multifioco, a Sinuca Tico-Taco e enfim o Audio Rebel, ajudarem a renovar e formar uma nova cena underground forte no Rio. Vimos surgirem eventos que firmaram selos como o QuintAvant, que lança artistas como Negro Leo, que estudou, na mesma faculdade que eu e Pedro, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e discute com a gente as mesmas coisas sobre o Brasil de hoje e o seu som. Como nosso trabalho e o dele, muita coisa na fronteira do noise, do experimental, com a canção, expandindo os limites dela, está sendo tentada por aqui, com um resultado de público que não víamos há muito tempo. Que só cresceu com as tais Jornadas de Junho. Basta frequentar esses lugares, nas ruas de Lapa e Botafogo, pra checar.

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