Zoofilia

, por Alexandre Matias

Essa saiu na Folha de sexta…

Desenho tem bons personagens e trama fraca

Nos anos 70 eram os filmes policiais, nos anos 80 as comédias adolescentes e os filmes de ação, na década de 90 comédias românticas e os filmes sobre a geração X. Agora, em plenos anos 00 o formato trivial de Hollywood para as massas volta a ser o “filme para a família”, graças a popularização da animação em computação gráfica, que começou na metade da década passada. Antes da Pixar entrar na brincadeira com “Toy Story”, os estúdios Disney monopolizavam o mercado e dividiam as possibilidades da animação num maniqueísmo bobo: filmes sérios (como “A Bela e a Fera”, que concorreu ao Oscar de melhor filme) e filmes infantis (como os fenômenos de locadora “A Pequena Sereia” e “Rei Leão”).

“O Bicho Vai Pegar” pertence exatamente a este cânone inaugurado pelo estúdio idealizado por Steve Jobs. Como “Toy Story” e praticamente todos os filmes em CGI que vieram depois dele, o longa de Roger Allers (o diretor de “Rei Leão”) e Jill Culton (o roteirista de “Monstros S/A”) também segue a mesma fórmula: contar uma história simples e com uma conclusão a respeito da tolerância com personagens bem-humorados que miram diferentes faixas etárias com textos e subtextos bem escolhidos e exuberância visual. E, como quase todos as animações depois de “Toy Story” (“Procurando Nemo” e “Os Incríveis” são as honrosas exceções), o filme mais bate na trave do que acerta no gol.

É a história de Boog, dublado originalmente pelo comediante Martin Lawrence, um enorme urso pardo que vive com sua dona em uma pequena cidade à beira de uma floresta daquelas canadenses. Até que um dia sua dona percebe que tem de devolvê-lo a seu habitat natural, mesmo colocando em risco a vida do animal – já que a temporada de caças começa em três dias. No meio do caminho, Boog encontra o cervo Elliot, dublado pelo ator Ashton Kutcher (o Kelso do “That 70’s Show”), e os dois têm de encontrar o caminho da cidade antes dos caçadores chegarem à floresta.

E a história não caminha muito mais do que isso. Os personagens, por outro lado, são ótimos – e não só os protagonistas. Os melhores exemplos estão escondidos na floresta – castores engenheiros, um general esquilo, patos franceses, um casal de exploradores e seu cão basset, além do ótimo e caricato caçador Shaw, dublado de forma eficiente por Gary Sinise – chegam a ser melhores até que a dupla protagonista.

Mas, como os policiais dos anos 70, os filmes de galera e de porrada dos 80, os da Meg Ryan e da Wynona Ryder dos 90, “O Bicho Vai Pegar” tem destino e alvo certo, longe das telas do cinema. É na TV – provavelmente nos canais infantis pagos – que o filme pode chamar alguma atenção ou criar seu séquito de fãs. No escuro do cinema, é só uma desculpa pra não tão jovens casais passearem com os filhos e adolescentes farrearem com os amigos.

O BICHO VAI PEGAR
Direção: Roger Alles, Jill Culton e Anthony Stacchi
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz nos cines Iguatemi Cinemark, Osasco Plaza e circuito