O décimo sétimo álbum do Yo La Tengo, This Stupid World, lançado na semana passada, foi gravado em 2022 quando Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew finalmente puderam voltar a ensaiar, tocar e compor juntos depois do período de isolamento pandêmico. O reencontro musical dos três no estúdio exprimiu a essência das qualidades dessa pedra fundamental do indie norte-americano, em que o trio equilibra doces baladas contemplativas e pilares de microfonia erguidos sobre uma base hipnótica sintetizando toda uma tradição roqueira nova-iorquina que começa no Velvet Underground, passa pelo Sonic Youth e Galaxie 500 e deságua na cena dos Strokes do começo do século. E no meio do transe interminável de faixas longas (como “Sinatra Drive Breakdown”, a faixa-título e “Miles Away”) e curtas (como “Until It Happens”, “Fallout”, “Tonight’s Episode”) as vozes dos três surgem como observadores desta longa tradição: o vocal mole e manhoso de Ira, o quieto e assertivo de Georgia e o quase vago de James, costurando canções que por vezes são delicadas como um dedilhado de violão (“Aselestine”) e outras explosivas como uma descarga elétrica (“Brain Capers” e a faixa-título), mas que na maioria das vezes unem essas duas facetas, neste que é o melhor disco da banda desde seu último clássico, And Then Nothing Turned Itself Inside-Out, lançado há exatos 22 anos. O que nos leva a uma zona de conforto muito específica, que parece ruidosa e áspera para quem ouve de fora, mas que conta com um calor humano que está no coração da obra da banda.
E só foi mudar a presidência que as boas notícias não param de chegar! Agora é a vez do trio Yo La Tengo anunciar para fevereiro do ano que vem o lançamento de seu décimo sexto álbum, This Stupid World, que promete ser um disco mais intenso que os anteriores, priorizando músicas tocadas ao vivo mais que experimentos nas canções ou no estúdio. Produzido apenas pelos três integrantes sem a participação de ninguém de fora deste círculo, o disco será lançado no dia 23 de fevereiro e o grupo abriu os trabalhos com a ótima “Fallout”, que você ouve abaixo, bem como vê a capa e descobre a ordem das músicas desta grande volta.
Primeiro dia do Primavera Sound em Barcelona foi fabuloso. Vi a Faye Webster, as Linda Lindas, a MC Carol e a Kacey Musgraves tocando “Dreams” do Fleetwood Mac com a letra passando no telão para o público cantar junto. Não vi a Kim Gordon no Auditório (mor fila), mas teve Dinosaur Jr (que mandou sua versão de “Just Like Heaven”), a Sharonzinha, Yo La Tengo quebrando tudo (Fabio Bianchini surgiu no meio de “Tom Courtenay”) e o Tame Impala no céu (Kevin puxou até “Last Nite”, essa mesma). E, claro, o motivo de eu ter vindo parar aqui: a volta do Pavement, que fez 1h40 do melhor show que já vi deles na vida (já tinha visto 5). A banda tocou cinco músicas de cada disco, Stephen Malkmus é o guitar hero dessa geração e lavou a alma de indies velhos e novos. Nota 10 pra avalanche de shows (já o funcionamento do bar e a má administração daquela quantidade de gente não conseguiu nem nota pra passar de ano). Claro que filmei um monte, seguem os vídeos abaixo: