Yo La Tengo para o Rio Fanzine

, por Alexandre Matias

Essa do Yo La Tengo saiu no ano 2000.

Um triângulo equilátero de não-rock

Simplicidade instrumental, sensibilidade artística e bom senso pop são as armas do Yo La Tengo

Eles não têm refrões memoráveis. Nem pirotecnia no show. Não esbanjam estilo, não vendem milhões de disco. Não há nada no grupo que possa ser chamado de músico virtuoso, símbolo sexual, salvador do rock ou mau exemplo para as futuras gerações. Então o que raios há de tão bom neste tal Yo La Tengo?

Deixe as nuvens de desenho animado feitas pela voz sussurrada da baterista Georgia Hubley te responderem. Ou o acúmulo de microfonia nova-iorquina forma nas paredes de ruído da guitarra de Ira Kaplan te explicar. Ou aquele teclado fora de moda, tocado em apenas duas teclas; sublinhado pela velha e insistente bateria, acompanhado por um vocal que tomba entre o pesar e o sono. O casal de Hoboken (terra de gente que sabe o que é bom, como Sinatra e os Feelies) e o rotundo guitarrista James McNew formam a mais improvável banda de rock de todos os tempos. Um trio cuja simplicidade instrumental casa com a sensibilidade artística e o bom senso pop, mesmo que nada os classifique como tal: não há riffs, refrões, solos, rima e métricas são menosprezadas – no máximo conseguimos tirar o groove.

O pacote lançado pela Trama cobre quase toda a farta discografia do grupo, cujas origens remontam ao meio dos anos 80, quando eram simples mas esforçados emuladores do Velvet Underground (ouça a estréia Ride the Fader, o mais velho da leva). A dupla de álbuns que o seguiu (New Wave Hot Dogs e President Yo La Tengo) ensinou ao grupo o macete do crescendo motorizado bolado pelo krautrock, abusado à vontade a partir deles. O brasilização do Yo La Tengo pula dois discos (o só de covers Fakebook e o quase escocês May I Sing With Me?) e reencontra-se em Painful, que oficializa a entrada de McNew, tornando o triângulo instrumental do grupo de isósceles a equilátero.

E é com tal pé direito que entram em sua melhor e mais celebrada fase, começada com o magistral Electr-O-Pura e seguido pelos igualmente irresistíveis I Can Hear the Heart Beating as One e And Then Nothing Turned Itself Inside-Out (lançado este ano). Entre os dois discos ainda houve espaço para o álbum duplo de sobras Genius + Love = Yo La Tengo, com versões para Wire, John Cale, Jackson Browne, Beat Happening e uma excelente versão surf de Blitzkrieg Bop, dos Ramones. A coletânea é uma boa porta de entrada para o lado B do grupo, onde encontramos EPs, mini-álbuns e maxi-singles cheios de raridades, versões bizarras, instrumentais e remixes. Mas pedir para esses discos sair no Brasil é demais – ou não? Se não for, seguem as dicas: Strange But True, com o Half Japanese Jad Fair, o EP Little Honda, os remixes de Autumm Sweater (MBVmaníacos já sabem do remix de Kevin Shields, né?) e o recente Danelectro. Boas línguas dizem que o grupo vem aí no começo de 2001 pro Brasil. Mas é preciso ver e ouvir para crer – não custa, no entanto, torcer.

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