Impressão digital #0008: O novo clipe da M.I.A.

, por Alexandre Matias

Holocausto vermelho
M.I.A., Romain Gavras e o videoclipe

Um batalhão de choque entra em um prédio com truculência. Armas em riste, os soldados todos de preto atravessam corredores e abrem portas de supetão, em busca de suspeitos. Arrastam-nos para um ônibus cheios de pessoas da mesma etnia e seguem para um terreno baldio. Crianças atacam o veículo com garrafas. Ao chegar em seu destino, o pelotão tira todos os passageiros do ônibus à força e os põe para correr. Muitos percebem que serão alvejados e hesitam em fugir, até que um dos soldados atira à queima-roupa na cabeça de uma criança. A cena grotesca faz que todos saiam correndo – e, um a um. vão sendo mortos, culminando com uma imagem de uma pessoa sendo despedaçada em frente às câmeras.

Sim, câmeras. O novo clipe da cantora cingalesa Mathangi “Maya” Arulpragasam – ou simplesmente M.I.A – é uma bordoada nos sentidos. Chocante ao extremo, o vídeo de Born Free, divulgado online na segunda-feira da semana passada, não impressiona só por suas imagens fortes. Há uma série de símbolos e valores que permitem alguns níveis de leitura. Os soldados remetem tanto à SS nazista quanto a batalhões de choque do terceiro mundo ao mesmo tempo em que ostentam a bandeira dos Estados Unidos no braço. Os perseguidos pelos quase dez minutos do clipe são todos ruivos.

Mas o assunto aqui não é a mensagem por trás do clipe dirigido pelo filho do cineasta grego Constantin Costa-Gavras, Romain Gavras – mas o fato dos dois artistas (a cantora e o diretor) terem escolhido disponibilizar o clipe (um formato velho) na internet (um suporte novo) para divulgar suas obras.

Porque Born Free não é apenas o primeiro single do próximo disco de M.I.A., ainda sem título, como também é um teaser do próximo filme de Gavras, batizado de Redheads, que deverá ser lançado ainda neste ano. Numa só tacada, os dois chamaram atenção para uma questão política em aberto – a eterna disputa entre os mocinhos oprimidos indefesos e vilões truculentos militarizados – e viraram o centro dos holofotes online e, consequentemente, da mídia.

No que diz respeito ao digital, o principal ponto neste episódio, pelo menos no que diz respeito à cultura e ao entretenimento, é o fato de seus protagonistas terem usado um formato típico dos anos 80 (o videoclipe) como único veículo para essa autopromoção.

O motivo? YouTube, claro – que, ironicamente, tirou o clipe do ar por considerá-lo “violento e pornográfico”. Mas a onipresença do site de vídeos online do Google no dia a dia fez que fosse respondida uma pergunta que ecoava há dez anos: com a ascensão do MP3 o single tornou-se maior que o álbum? Não. Como Lady Gaga havia dito em fevereiro com seu curta Telephone, o clipe é mais importante do que a música em si.

DJ
500 Essential Mix

Criado em 1993, o programa Essential Mix da rádio londrina BBC 1 é um dos mais tradicionais palcos para DJs e produtores de música eletrônica do mundo todo e revelou nomes como Daft Punk, Tiga, DJ Hell e brasileiros como DJ Marky, Twelves e Gui Boratto. Nesta semana o programa chegou às quinhentas edições e a rádio fez um especial para comemorar a data em seu site, disponibilizando versões enxutas dos principais sets para download além de uma linha do tempo com as atrações. Confira em www.bbc.co.uk/radio1/essentialmix/essentialmix500.

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