Woodstock Brasil, é?

, por Alexandre Matias

Tão falando disso aí agora. Você já tem mais ou menos uma idéia do que esperar? Pois imagine: artistas gigantes que frequentam as paradas da Billboard e tem uma ou outra música tocando em rádios que você só ouve quando pega táxi + artistas que permitem quarentões pais de família que usam camisa pra dentro da calça no trabalho se comportar como adolescentes (usar camiseta preta! gritar em público! ficar bêbado! sair com os amigos ouvindo som alto no carro!) em shows feitos em estádio + aquelas bandas sub-Barão Vermelho (como se o Barão Vermelho por si só já não fosse um grande sub) que em algum lugar entre as orelhas de executivos de gravadora são o mais perto de rock’n’roll que pode ser consumido pelo público-médio brasileiro comprador de discos.

O que boa parte do público de um evento desses tem em comum é só a criação de uma espécie de ideal rock’n’roll na cabeça de gente que nunca gostou de rock ou que tem um CD do Phil Collins no carro pra quando quer parecer mais “descolado”. Justamente – é gente que usa esse tipo de termo, o “prafrentex” dos anos 00. E não é etário – o cara que tem idade pra ter ido ao Woodstock original devia estar reclamando dos hippies em 69 e o cara não tem idade para ter ido ao primeiro festival simplesmente nunca deve ter ouvido as bandas que tocaram lá – e, se ouvir, vai chamar de “porraloca” ou “mutcholoco”, apertando a voz pra ironizar na marra, enquanto entorna mais uma latinha de Bavária. No meio deles, um monte de meninas gritando “êêêêêêêêêêê” – como sempre tem, seja no show do Cordel, numa “festa rave”, na Pachá ou num “é bailão, é rodeio” da vida. E os próprios Wood & Stock do Angeli juntando os poucos trocados pra pagar centenas de dinheiros pra ver bandas que, saberão ao final do evento, desonraram toda uma geração. Se bem que o Wood vai aproveitar pra encoxar umas gatinhas.

Mas se meterem o Rage Against the Machine no elenco, vai rolar a descida ao inferno. Afinal não é todo dia que o Led Zeppelin da sua adolescência toca no seu país. O mais perto disso que podia acontecer era se o Red Hot (não o Chili Peppers, sou da geração que aprendeu o que era overdose de drogas com a morte de Hillel Slovak) viesse fazer um show tocando o BloodSugar de cabo a rabo.

Aliás, por falar nisso…

Updeite: Produtora diz que Woodstock no Brasil é ‘mera especulação’

Ufa.

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