As 75 Melhores Músicas de 2016 – 63) Wilco – “Someone to Lose”

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“I’m so confused, I can’t move, ,I can’t even try…

Revisitando 2016

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O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.

Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.

Os 10 melhores de 2016

10) Rua Cloverfield, 10

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”

9) Capitão América – Guerra Civil

De frente

De frente

“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”

8) House of Cards

F.U.

F.U.

“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”

7) Novos Baianos e Wilco (empatados)

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”

Imagem: Flávio Florido/UOL

Imagem: Flávio Florido/UOL

“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”

6) Dr. Estranho

Benedict Cumberbatch

Benedict Cumberbatch

“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”

5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)

Onze e a turma

Onze e a turma

“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”

4) Bowie – ★

A capa do último disco de David Bowie

A capa do último disco de David Bowie

“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”

3) Rogue One

Felicity Jones

Felicity Jones

“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”

2) Westworld

Evan Rachel Wood

Evan Rachel Wood

“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”

1) Radiohead – A Moon Shaped Pool

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”

Os 10 piores de 2016

10) Esquadrão Suicida

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”

9) Vinyl

Bobby Cannavale

Bobby Cannavale

“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”

8) O fim da tira Chiclete com Banana

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”

7) Batman vs. Superman

Lixo

Lixo

“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”

6) A morte de George Michael

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“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”

5) A morte de Leonard Cohen

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“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”

4) A morte de George Martin

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“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”

3) A morte de Carrie Fisher

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“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”

2) A morte de Prince

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“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”

1) A morte de David Bowie

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“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”

Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016

10) 25 anos de Bandwagonesque

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“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”

9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones

ramones

“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”

8) 25 anos de Nevermind

Nevermind

“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”

7) 25 anos de Loveless

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“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”

6) 25 anos de BloodSugarSexMagik

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“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”

5) 25 anos de Screamadelica

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“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”

4) 30 anos de The Queen is Dead

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“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”

3) 50 anos de Pet Sounds

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“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”

2) 50 anos de Blonde on Blonde

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“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”

1) 50 anos de Revolver

revolver

“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”

E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!

Todo o show: Wilco mal acostumado

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Depois de passar pela América do Sul, o Wilco seguiu a turnê de seu disco Schmilco pela Europa, quando, no primeiro show que fizeram em Bruxelas, nesta quinta, o líder Jeff Tweedy comentou que estava com saudades do público latino cantarolando os riffs de suas músicas, olha que massa:

É só vir outras vezes, hehehe. Abaixo, a íntegra deste mesmo show:

“Normal American Kids”
“If I Ever Was a Child”
“Cry All Day”
“I Am Trying to Break Your Heart”
“Kamera”
“The Joke Explained”
“Misunderstood”
“Someone to Lose”
“Pot Kettle Black”
“Via Chicago”
“Bull Black Nova”
“Reservations”
“Impossible Germany”
“We Aren’t the World (Safety Girl)”
“Random Name Generator”
“Jesus, Etc.”
“Locator”
“Box Full of Letters”
“Theologians”
“I’m Always in Love”

“Heavy Metal Drummer”
“I’m The Man Who Loves You”
“Hummingbird”
“The Late Greats”

“Spiders (Kidsmoke)”

Wilco 2016: “I’m so confused / I can’t move / I can’t even try”

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Que o disco Schmilco é mais um disco regular que o Wilco lança de forma descompromissada é meio que um consenso – que, acredito, também seja a forma como “Someone to Lose”, cujo clipe o grupo lança agora, cresceu como uma das melhores faixas do disco nas apresentações que o grupo fez no Brasil.

Quem tá com saudades dos shows do Wilco no Brasil?

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Eis os vídeos que fiz nos três shows da já clássica turnê da banda pelo país.

No Circo Voador:

No Popload Festival:

No Auditório Ibirapuera

Foi demais.

Wilco clássico

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Escrevi sobre o show que o Wilco fez no Popload Festival para o meu blog no UOL.

O conceito tradicional de rock clássico diz respeito a uma geração de artistas que viveu seu auge entre o meio dos anos 60 e o final dos anos 70 (incluindo um pouco dos que estouraram nos anos 50 e alguns que desbravaram os anos 80) e que até hoje, quase meio século depois, vive das glórias do passado. Entre artistas decanos decadentes e heróis sobreviventes de uma época muito louca, velhos ídolos revivem seus dias de ouro entre turnês em que reciclam músicas ancestrais para seus contemporâneos e fãs das gerações seguintes, que torram dinheiro para assistir parques temáticos ambulantes sobre seus protagonistas. O melhor exemplo desta abordagem é o festival Desert Trip, que está acontecendo neste fim de semana reunindo, na Califórnia, os líderes daquela revolução cultural – Dylan, Paul McCartney, os Stones, Roger Waters, Neil Young e Who. Os piores são rádios, coletâneas, playlists e bandas cover que insistem numa caricatura disso, preferindo “Ballroom Blitz”, “Bohemian Rhapsody” e os mesmos hits gastos do Kiss e do Bachman-Turner Overdrive para se auto-afirmar como tribo numa clara tentativa de se diferenciar do resto do mundo. O rock clássico como rótulo geracional é o pai do infame roqueiro velho.

Uma abordagem mais propícia, no entanto, é a que trata o rock clássico como gênero musical. Há uma inevitável conexão com a mesma época descrita no início, mas não o compromisso com nomes, discos, músicas, e sim com uma sonoridade específica que evoluiu da colisão inicial do country com o blues que deu origem ao rock’n’roll para um tratamento mais sofisticado e musical. É este o terreno que a banda norte-americana Wilco, que apresentou-se pela primeira vez em São Paulo neste sábado, explora desde a virada do século, quando aos poucos foi largando suas raízes country (ou alt.country, como dizia-se à época) para abraçar a plenitude de um gênero musical aventureiro como os Beatles no estúdio, delicado como o auge dos Beach Boys, pesado e dramático como os vales e montanhas das guitarras de Neil Young, lírico como os arranjos e letras da The Band.

Foi a segunda apresentação da banda no Brasil este ano, após uma apresentação histórica no Circo Voador, no Rio de Janeiro, na quinta passada. O show de São Paulo perdeu para o carioca por motivos óbvios – a arquitetura da casa noturna da Lapa aproxima o público da banda de uma forma muito mais intensa e o show paulista foi dentro de um festival que contava com outras apresentações. Isso não apenas encurtou o tempo da banda no palco como não criou uma atmosfera estritamente focada no show de uma única banda. A favor do público paulista uma atenção e uma entrega muito mais fanática por parte da plateia que, no Rio de Janeiro, ficava conversando sem parar no meio das músicas.

Mas as diferenças entre as duas apresentações foram mínimas, se analisada estritamente a entrega da banda. No show de São Paulo, já familiarizado com o público brasileiro, o líder da banda, o guitarrista e vocalista, Jeff Tweedy, deitava e rolava no calor de sua recém-descoberta popularidade, pedindo para o público repetir o nome do grupo como torcida de time de futebol e entoando o “olê-olê-olê-olê Wilco, Wilco” que havia ouvido antes da banda entrar no palco. “Desculpe termos demorado tanto para vir para cá”, disse sincero para o público, este completamente entregue à banda, cantando não apenas os riffs e os refrões como os cariocas, mas a imensa maioria de todas as letras. No meio do show, Jeff reconheceu César, que subiu no palco carioca para tocar com a banda, e o cumprimentou.

O show seguiu a linha de grandes sucessos da apresentação anterior e foi uma versão compacta do que assistiu-se no Rio. Fora do repertório de São Paulo, infelizmente, canções memoráveis do grupo, como “Theologians”, “Ashes of American Flags” e “California Stars”, mas a clássica “Either Way”, “Dawned on Me”, “Side with the Seeds” e “The Joke Explained” só foram tocadas no palco do Urban Stage, na região norte da cidade. Entre estas aquele desfile de clássicos que os fãs esperavam: “Via Chicago” e “Impossible Germany” logo de cara, “Heavy Metal Drummer”, “Hummingbird”, “Art of Almost”, “Misunderstood”, “Jesus Etc.”, “I Got You (At the End of the Century)” e “Outtasite (Outta Mind)”.

E durante a apresentação do grupo percebe-se que seu conceito de rock clássico não é temporal – e aos poucos eles vão incluindo efeitos eletrônicos, ruídos e cacofonias elétricas, microfonias pós-punk, peso metal, agressividade punk. Isso reflete-se na dinâmica da própria banda e nos papéis de cada um no palco. Jeff Tweedy é o maestro graças a seu inegável carisma, mas também pela forma como conduz a banda do sussurro ao esporro, do assobio ao solo rasgado. Um mestre guitarrista, ele é acompanhado de perto por seu fiel escudeiro John Stirratt, baixista, principal vocalista de apoio e, ao lado de Jeff, único integrante da primeira formação do grupo. A liga entre os dois é o cerne da banda, tudo que acontece no palco é construído a partir da cumplicidade explícita entre Jeff e John.

Ao lado de Jeff, o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.

Por ter sido realizado em um festival, o show teve apenas um bis (ao contrário de dois no Rio) e a banda voltou com a intensa “Spiders (Kidsmoke)”, de raiz de rock alemão, em que Jeff incitou o público a cantarolar o riff explosivo, mas escolheu terminar com “The Late Greats”, deixando o público em estado de êxtase após o fim do show. Cravadas duas horas de emoção intensa que lavaram a alma dos fãs que esperaram tanto tempo por esse momento. Resta saber agora o que eles irão fazer em sua última apresentação no Brasil, que acontece neste domingo, no Auditório Ibirapuera. Será que manterão o clima de grandes sucessos dos dois primeiros shows ou farão uma apresentação mais introspectiva? Ou acústica? Ou que se aproveite mais dos silêncios? Mas não importa o que fizerem: farão de forma clássica, como de costume.

O dia em que o César tocou com o Wilco

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O mágico show que o Wilco fez no Circo Voador ainda teve uma participação improvisada de um fã no palco – e o César contou o depoimento sobre como foi tocar no mesmo palco que seus ídolos lá no meu blog no UOL.

Quem esteve no Circo Voador no dia 6 de outubro de 2016 (uma data palíndroma – 6102016 – vejam só) sabe que assistiu a um dos shows de sua vida. Mesmo quem não é fã da banda norte-americana Wilco teve que dar o braço a torcer e comemorar a incrível conjunção de fatores que levaram a tal momento histórico. Mas ninguém teve uma história ou um show melhor do que o fã carioca Cesar do Couto, que subiu ao palco após uma discreta insistência, recebeu uma guitarra do próprio Jeff Tweedy e acompanhou a banda na música “California Stars”, com direto a fazer um solo junto com os ídolos.

Ninguém entendeu nada. Estava combinado? Eles já se conheciam? Quem era esse César? Será que ele iria roubar a cena ou fazer um papelão? Mas à medida em que ele começou a tocar a música que a banda compôs sobre uma letra de Woody Guthrie, os fãs perceberam que estavam vendo um dos seus realizar um sonho: tocar ao vivo com seus ídolos em sua cidade natal e delirou junto com o fã-guitarrista, que não parava de sorrir. Cesar toca na desconhecida banda Mimesis, que apesar do nome de banda hippie tem uma sonoridade equivalente à do Wilco (veja no final desse post), e vem para o show de São Paulo que conseguiu comprar o ingresso – e quer entregar um CD de sua banda para seu grupo do coração (além de ver se alguma alma caridosa lhe arruma ingresso para o show de domingo). Ele contou como foi sua aventura com o Wilco, que reproduzo – junto com algumas fotos dele mesmo – abaixo:

“Alguém saberia dizer a distância entre o sonho e a realidade? Pois bem, ontem (quinta, 6) eu percebi, mais uma vez em minha vida, que é possível nossos sonhos se tornarem realidade.

Minhas emoções estavam afloradas desde o anúncio da vinda do Wilco ao Brasil e isso contagiou as pessoas à minha volta. Como todo fã desesperado, comprei o ingresso no primeiro minuto de venda do festival Popload e desde então começou a contagem regressiva para finalmente assistir os caras ao vivo e em cores.

Logo depois, a surpresa de um show na minha cidade. Fiquei louco! “Mais um show?! Que maravilha!” Da mesma forma, comprei o ingresso no primeiro minuto de venda.

Quis o destino que os irmãos uruguaios tivessem seu show cancelado (César se refere ao show que o Wilco faria no Uruguai à época da vinda ao Brasil, que foi cancelado), e abriu mais uma data na agenda dos caras. E aí vocês já sabem o que aconteceu!

Só estou contando tudo isso, porque foi aqui que nasceu a ideia do que fiz ontem.

Como muitos fãs mortais da banda, montei uma operação para comprar os ingressos para o show do dia 9 de outubro. Minha esposa ficou no aplicativo e eu no PC. Aquele dia foi o momento triste da turnê. Não foi triste só para mim, muitos foram lesados pela incompetência da Popload e Ingresso Fácil. Não preciso entrar em detalhes que todos os fãs, até os que estão com ingresso em mãos, sabem o quanto foi escroto o que fizeram conosco. Minha indignação foi externada no Facebook. Logo percebi que não tinha mais o que fazer; era se conformar e ponto. Então comecei a procurar ingressos, mas… nada! Percebi que iria ficar de fora.

Minha frustração era enorme, mas ‘eu queria sonhar meus problemas pra fora’* e então surgiu a ideia de tentar fazer algo que iria marcar positivamente minha vida.

Eu duvido de que alguém, principalmente músico, nunca tenha sonhado em dividir o palco com seus ídolos referenciais. Eu sempre sonhei isso… e, no dia 6 de outubro de 2016, vislumbrei a oportunidade de realizá-lo. E realizei!

Como tudo em minha vida, dividi com minha esposa Roberta Magalhães e, como sempre, ela prontamente comprou a ideia, apoiou-me e encorajou-me a todo instante. Definitivamente eu ‘senti sua mão tocando a minha, e me dizendo por que deveria continuar trabalhando’. E é por essa e outras que eu a amo tanto.

Daí escolhi a música ‘California Stars’, por ser uma música de que eu sempre gostei, e também é a música que vez ou outra há participações. Além disso, não seria uma música que comprometeria a performance da banda, afinal a única coisa que eu não queria era atrapalhar banda e fãs.

Eu já sabia tocar a música como Jeff (Tweedy, líder da banda), mas eu não iria fazer o que ele faz na música, por isso a estudei algumas vezes. Cheguei a fazer umas linhas de guitarra ao estilo Nels (Cline, guitarrista do Wilco), fiz o solo e tudo! Estava tudo de muito bom gosto.

Minha esposa entrou em cena mais uma vez e fez o cartaz. Partimos cedo para o Circo Voador e ainda vimos a chegada da banda, quando conseguimos tirar uma foto, às pressas, com Jeff. Mas até aí ele nem imaginava que eu tinha um cartaz, quanto mais o que nele estava escrito.

Reprodução: Facebook

Reprodução: Facebook

Chegou a hora do show… Eu e minha esposa estávamos em frente ao Jeff. Éramos os primeiros da fila. Começou a todo vapor, e após ‘Art of Almost’ mostrei timidamente o cartaz ao Jeff. Ele leu e deu um sorriso. Eu não queria parecer chato e nem “entrão”, por isso recolhi o cartaz, afinal ele já sabia da minha intenção.

Decidi mostrar o cartaz a todos os integrantes e, quando cada um olhava em minha direção, o mostrava. O John (Stirratt, baixista) também deu uma risada ao lê-lo. Como disse, não queria ficar sufocando os caras.

Antes de iniciar ‘Late Greats’, percebi que Jeff estava com o violão e o capotraste na segunda casa, pensei : ‘babou. Ele vai tocar Califórnia Stars e eu vou ficar de fora.’ Mostrei o cartaz, ele riu e falou: ‘Wait.’ (Espera) Ali, me enchi de esperança… sentia dentro de mim o paradoxo da certeza de que iria rolar e do medo de que não acontecesse.

Eles saíram e eu coloquei o cartaz no palco. Quando voltaram, Jeff olhou e riu de novo. Tocaram ‘Jesus, Etc.’ e, ao terminar, Jeff foi falar com Nels sobre minha intenção, o qual olhou o cartaz, fazendo uma expressão duvidosa, em seguida olhou para mim, que estava com cara de pedinte e mãos de súplica. Talvez por isso, por ter externado meu imenso desejo de estar entre meus ídolos, concordara. Jeff veio me perguntar se eu sabia tocar guitarra e autorizou a minha subida ao palco.

Eu só sabia agradecer. A primeira coisa que falei com ele foi: ‘Obrigado por ter vindo ao Brasil!’ Fiz questão de cumprimentar todos. E aí fui marrento, pedi a ele a guitarra SG. Aquela guitarra é um sonho. Aposto que cairia muito bem em mim! Mas ele disse que aquela não estava preparada, perguntou se eu me importava em usar a Strato – como o cara é humilde! ‘Como assim?! Eu? Me importar? No Problem, Jeff’.

E começou a música. Aí, eu pergunto: ‘Quem, em sã consciência, vai conseguir manter o equilíbrio ao estar do lado de seus ídolos?’ Todo meu estudo foi por água abaixo, então pensei: ‘Vou fazer o trivial, sem medo de ser feliz!’ Afinal, estava me sentindo intimidado com as olhadas do Nels em minha direção. Senti-me sob o julgamento de um professor caxias, mas que, a cada acorde meu, acenava com a cabeça, como quem diz: ‘Você está indo bem, meu aluno’.

Não consegui conter o sorriso, tamanha era a felicidade. Eu só pensava: ‘Não posso decepcionar os caras e nem os fãs’. Eu senti que naquele momento eu devia representar muito bem os fãs brasileiros, deixar a melhor impressão possível, para que eles se sentissem em casa.

Ao terminar aquele momento mágico, só queria mais uma vez agradecê-los. Fiz questão de cumprimentar cada um deles, pois todos têm tamanha importância para a música que fazem. Minhas palavras no palco eram: ‘Thank you, guys! Thank you for coming to Brazil! I love yours songs!’

Foram cinco minutos marcantes na história da minha vida, inclusive acho que consegui desfrutar bem de cada segundo que vivenciei no palco. Ainda deu tempo da minha esposa voar no palco e agradecer também ao Tweddy por ter me oportunizado aquele momento, e em seguida tiramos uma foto.

Reprodução: Facebook

Reprodução: Facebook

Dito isso pessoal, gostaria de agradecer a todos os fãs do Wilco que me receberam como um ‘herói’. Senti que vocês ficaram felizes junto comigo. Posso garantir que foram uma plateia sensacional. A energia no palco estava fantástica, era muita vibração boa que estava ali e isso quem proporcionou fomos nós, fãs. Vocês viram a cara deles em cada música? Tipo: ‘Que porra é essa que está acontecendo aqui?’, ‘Que plateia é essa?’, ‘Por que demoramos tanto para voltar?’

Fizemos a nossa parte, pessoal!

Parabéns para todos nós!

E muito obrigado pelo carinho.

PS.: Ainda não tenho ingresso para o show do dia 9 de outubro, se alguém tiver sobrando para vender, eu compro, ou se a Popload se sensibilizar com a minha história, doe-me um par de ingressos, para eu ir com a minha esposa.

Ainda há ingressos para o show de hoje, que acontece dentro do Popload Festival (e, mesmo num festival, terá a duração de mais de duas horas como o show do Rio) e reforço o que disse o Barcinski em sua resenha de estreia aqui no UOL: o preço está salgadaço, mas se você quiser assistir ao melhor show internacional em solo brasileiro em 2016 não perca a oportunidade.

Olha a banda do César aí:

Na torcida pro César conseguir seu ingresso para o domingo. Ou será que ele já gastou sua cota de sorte? Tomara que não.

Vida Fodona #543: WilcoWeek

vf543

Todos no clima?

Vida Fodona #539: Desanuviando

vf539

Tudo passa.

E essa vitrolinha do disco novo do Wilco?

schmilco-vitrola

Que belezinha… Já está à venda.