Desmond, nosso Dr. Manhattan

Daqui.

A morte de Hollis Mason

É só uma das ótimas cenas que ficaram de fora da versão de março do Watchmen de Zack Snyder. A versão do diretor, que já vazou, chega às lojas gringas no dia 21 deste mês, junto com sessões em quatro cidades dos EUA Algumas cenas já chegaram ao YouTube, como esta bela interpretação da morte de Hollis Mason, o Coruja original (uma das poucas cenas, junto à extraordinária cena dos créditos iniciais, que evoca os dias de glória dos Minutemen originais – o resto ficou com o extra em tom documental Sob o Capuz); um flashback de Laurie Juspeczyk e outra visita ao salão presidencial de guerra (com o pior Nixon da história do cinema) e versões alongadas de uma cena em 1977, de outra no bar Happy Harry (ugh, dentes) e de outra da cena no apartamento do Comediante. Assista enquanto é tempo.

Por aqui, só a versão em disco tem data pra lançamento, em setembro, nem sinal do relançamento do filme nos cinemas – embora o projetor do Imax paulistano tenha acabado de ser substituído por um digital, e… quem sabe.

Watchmen no grafitti

Watchmen: Cargueiro Negro e Sob o Capuz

E por falar em Watchmen, Assisti aos tais extras do filme que acabaram de sair em DVD lá fora. Um é uma bomba gigantesca, já o outro…

Primeiro, a bomba. Contos do Cargueiro Negro, como eu já disse, é uma história em quadrinhos dentro da história em quadrinhos. No Watchmen original, ela é lida por um personagem mais do que secundário, mas sua narrativa aos poucos vai sendo superposta à história original, contrapondo aspectos do gibi de piratas com a saga de Watchmen. Toda a discussão sobre como ela poderia ser encaixada na versão para o cinema (será que, em vez de ler uma HQ, o tal personagem teria um DVD player portátil) ficou para trás depois que Zack Snyder anunciou que a transformaria em uma história à parte, num desenho animado. Aí a dúvida mudou: em vez de perguntarmos como ela coexistiria no filme, agora é a vez de saber se ela se sustenta sozinha.

Eu achava que não, mas a animação consegue ser ainda pior do que eu supunha. Pra começar, não existe relação nenhuma da história com Watchmen (a única sugerida, quando o sobrevivente do naufrágio ergue a vela de sua jangada mórbida, é de uma tosquice descomunal). Depois, principalmente, pelo fato da história ter sido completamente modificada. Se no quadrinho ela era um monólogo tétrico e sem esperança, no desenho surge personagens que dialogam com o protagonista. Qual o sentido dessas alterações? Não bastasse a falta de lógica, a mudança não melhora a narrativa – pelo contrário, piora e muito. E mesmo com trechos inteiros citados diretamente da obra de Alan Moore, ela agora é piegas e chinfrim, sem o peso depressivo que tinha originalmente. Para finalizar, a animação é um anime bem meia-boca e a voz do protagonista, cortesia do ator Gerard Butler, não passa sentimento algum.

Já Sob o Capuz é outra história. A princípio, o média metragem parecia ser mais um dos trocentos vídeos virais feitos para divulgar o filme, só que com a extensão prolongada. E é isso – mas não apenas isso. Os três capítulos da autobiografia do primeiro Coruja, Under the Hood, originalmente vinha no final das três primeiras edições de Watchmen, como se fosse um livro. Servia para contextualizar a história do time de super-heróis que precedeu Watchmen, os Minutemen.

Quando torna-se um filme, no entanto, a mudança de linguagem valoriza o novo formato. Assim, assistimos a um programa de TV nos anos 70 que, devido à recente lei que proibira heróis mascarados, resolve reprisar trechos de uma reportagem feita pelo próprio programa dez anos antes, quando Hollis Mason – o Coruja original – foi entrevistado devido ao lançamento de sua autobiografia – que, por sua vez, tem boa parte dos acontecimentos ocorridos nos anos 50.

Então temos um filme que superpõe três décadas – tanto em termos de comportamento quanto estética – com maestria televisiva (afinal, não é um filme, e sim um programa de TV), ao mesmo tempo em que se aprofunda na história dos Minutemen, que foi apenas aludida no primeiro filme. De fato, é um um vídeo da mesma natureza das dezenas de virais que apareceram antes do filme vir à tona. Mas também é parte crucial da história de Watchmen – se conseguimos entender a idéia geral de realidade levemente paralela cogitada no universo criado por Alan Moore no filme, em Sob o Capuz conseguimos ir além sem necessariamente tornar a história (ainda) mais densa. O extra é um filme leve e divertido, com algumas cenas e passagens que aludem à violência e depressão do filme de Snyder, mas que olha para os lados para tentar explicar o que aconteceria se super-heróis – com superpoderes ou não – realmente existissem em nossa realidade.

Sob o Capuz poderia ser, muito mais do que o Cargueiro Negro, tranqüilamente diluído na edição do filme original, tornando-o ainda maior do que as três horas e dez minutos proposta pela versão definitiva de Zack (que, se tudo der certo, chega aos cinemas no meio do ano ou, se tudo der errado, vai direto pro DVD). Intercalando cenas de um programa de TV com as diferentes histórias paralelas poderia dar um certo ar Frank Miller para o filme (vocês lembram do papel da mídia como narrador em O Cavaleiro das Trevas, que foi surrupiada por Paul Verhoeven no primeiro Robocop, né?), mas certamente funcionaria – incluindo seus comerciais setentões (meu favorito é o da Seiko, lançando o relógio digital).

Mas talvez seja melhor deixá-lo à parte. Assim o filme não torna-se ainda mais demorado e podemos entrar num hiperlink da história. E eis um salto narrativo considerável, primo do própria forma artesanal com que a história original foi concebida – escrita por uma pessoa, desenhada por outra, colorizada por mais uma para, só então, ir para o processo industrial. Sem querer, Watchmen abre uma possibilidade de ampliar ainda mais um único produto. Se a produção se esmerasse nisso, talvez teríamos ainda mais desdobramentos num leque de produtos e formatos ainda mais amplo do que o que está sendo usado.

Falando só em Watchmen: se o filme fosse um sucesso, poderia ver outros subprodutos ainda mais complexos da franquia, com a publicação da própria autobiografia de Hollis Manson, uma série de programas de TV sobre super-heróis nos anos 60 e 70 (e não apenas um extra), a transformação do New Frontiersman num blog com notícias de verdade, gibis pornô estrelando Sally Jupiter (referido no filme e sublinhado em Sob o Capuz) até a materialização de uma franquia do restaurante Gunga Din (ou, se sua megalomania não pode conceber isso, a transformação mensal de uma franquia de fast food em um Gunga Din).

O mesmo poderia ser feito em relação a Lost – todos os personagens poderiam ter subprodutos com suas vidas anteriores ao acidente com o vôo 815. Na verdade, a própria ABC já ganha um bom dinheiro vendendo vários produtos com a marca Dharma (uma grife fictícia). Battlestar Galactica vai além – após o uso de determinadas roupas, cenários e apetrechos, eles vão simplesmente à leilão através do site Sci-Fi Channel.

O pop do futuro será consumido em camadas cada vez mais profundas e interconectadas, seja ficção ou não-ficção. Fora do material ficcional é fácil desdobrá-las: afinal os personagens de reality shows todos têm suas próprias vidas e as receitas e hotéis em programas de gastronomia e turismo existem de verdade. Mas é na ficção que reside o maior desafio: se antes Tolkien ou Roddenberry eram considerados excêntricos e nerds por inventarem as linguagens élfica e klingon, no Senhor dos Anéis e em Jornada nas Estrelas, respectivamente, hoje essa é a regra para quem quiser começar a conceber ficção. O começo, meio e fim têm de estar arquitetados de tal forma que explorar o universo fictício não seja apenas possível, mas inspire o leitor/espectador/ouvinte a mergulhar cada vez mais e, claro, participar. Lost, Watchmen e Battlestar Galactica (entre muitos outros) são apenas alguns degraus no rumo disso – a década seguinte, aposto, será dedicada a este tipo de descobrimento.

Uma sexta-feira, um mashup

Agora é a vez de misturar Wall-E com Watchmen.

E eis que voltamos a Watchmen

Mais notícias da série em quadrinhos que deu origem ao tão falado filme: vocês sabiam que existe um RPG inspirado na HQ, que foi lançado logo depois de sua primeira edição? E mais: que Alan Moore aprovou esse RPG? Não é brincadeira, não: dá uma sacada neste post do Once Upon a Geek.

Os extras de Watchmen

Parece que eles estão apenas começando a aparecer…

E já que voltamos a Watchmen, o filme está bem na bilheteria, mas longe do resultado que previa o estúdio e isso fez com apressassem o lançamento do DVD complementar ao filme em uma semana – Os Contos do Cargueiro Negro (a história em quadrinhos dentro da história em quadrinhos) virou um desenho animado com voz do ator Gerard Butler (“THIS IS SPARTA!”) e seu DVD ainda contará com o minidocumentário fake Under the Hood, em que a biografia de Hollis Mason – o Coruja original – é recapitulada em entrevistas e imagens de época, como um programa de TV.

Originalmente, cada um dos três primeiros capítulos de Under the Hood – a autobiografia de Mason – vinham ao final das três primeira edições de Watchmen em quadrinhos. E como caiu na rede é peixe, já vazou tanto o torrent do Cargueiro Negro (que tem 26 minutos) quanto o do Under the Hood (que tem 38). Além desses, o DVD ainda conta com outros extras, como uma cena não usada no filme (The Two Bernies, que confronta os dois personagens quase figurantes que habitam a esquina-símbolo da HQ em Nova York, o dono da banca de jornal e o leitor, ambos Bernie), uma entrevista com Zack Snyder, um documentariozinho chamado The Books of Watchmen e algo chamado de A First Look at the Green Lantern (será?). Não me agradeçam – agradeçam ao Danilo, que passou da hora de fazer seu próprio blog. E eu acho que já havia linkado o trailer do Black Freighter aqui, mas em todo caso…

E aqui tem um outro preview, com algumas entrevistas:

Mas não achei nenhuma imagem do Under the Hood.

Resta saber como andará o filme durante o ano. Porque há uma versão de três horas e dez minutos do filme pronta para ser lançada em DVD, mas Snyder prometeu que se o filme fosse bem na estréia, ele poderia voltar aos cinemas, na versão ainda mais longa, no meio do ano, data em que o DVD do filme deve ser lançado (e imagina a quantidade de extras que viriam neste). E há quem ache que Watchmen pode tornar-se cult – o fato do filme estar fazendo muita gente buscar o quadrinho original pode fazer com que estas mesmas pessoas queiram rever o filme para compará-lo a HQ. Fora que no próximo mês e meio, nenhum filme tão grande vai ser lançado no cinema – até maio, quando teremos, quase na seqüência um do outro, Wolverine, Anjos e Demônios, Jornada nas Estrelas, O Exterminador do Futuro 4 e o Up da Pixar. E como a caixinha de surpresas de Snyper parece nunca ter esvaziado, não duvide se ele lançar ainda mais coisa com a grife Watchmen até o fim do ano… E não estou falando em merchandising…

Isso sem contar o Watchmen Motion Comics, que está saindo em DVD em tem CINCO HORAS:

E se você tá achando que Watchmen é febre, já aviso: o transformação de Alan Moore em ícone pop só está começando. Agora que as grandes publicações vão começar a tratá-lo com a seriedade que ele merece.

Watchmen via Simpsons

Só podia ser coisa do Springfield Punx, blog especializado em simpsonizar super-heróis:



Ele juntou todos num papel de parede.

Watchsons

No Springfield Punx, vi também o link pra esse outro mashup, os Watchsons:

Lula lá

E essa informação é só pra quem já leu o quadrinho – se você só assistiu ao filme Watchmen, não leia o que vem a seguir, porque eu vou contar o final da história…

Mesmo abortando o final apocalíptico-lovecraftiano na versão para o cinema de Watchmen, Zack Snyder conseguiu citar a lula-alienígena-gigante que invade Nova York no início do último capítulo de Watchmen em quadrinhos, matando milhões de pessoas ao mesmo tempo. Como ficou com medo de equivaler o impacto do original – deixando em aberto a possibilidade de outras pessoas tentarem refilmar a minissérie num futuro próximo -, o diretor da adaptação de Alan Moore batizou o plano perfeito de Ozymandyas de S.Q.U.I.D. (“Lula”, em inglês), que, no filme, é uma sigla para “Sub QUantum Intrinsic Device”, que surge em um ou outro detalhe de cena.