Chico César e Geraldo Azevedo bolaram a turnê Violivoz no início de 2020, planejando atravessar o Brasil apenas com seus instrumentos naquele fatídico ano em que todos nossos planos foram mudados na marra. Passados os anos mais críticos do início da década, os dois colocaram a parceria na estrada, que havia continuado mesmo à distância (quando, inclusive, compuseram canções “onlinemente”, como brincou o pernambucano), em outubro de 2021 e desde então vêm cruzando o país misturando canções de suas próprias carreiras solo em obras conjuntas, em que os violões e as vozes dos dois casam-se como se os dois sempre tivessem criado em dupla. Os dois encerraram sua minitemporada no Sesc Vila Mariana neste domingo e abriram o show já gastando seus maiores hits sem pensar duas vezes (Geraldo puxa sua “Táxi Lunar” e Chico vai de “Mama África”). Atravessaram as mais de duas horas de autocelebração, induzindo o público a uma celebração ritualística em forma de roda de violão – ou de serenata, como quando brincaram contando inúmeros causos durante a noite. Os dois estão numa ótima fase: Geraldo com quase oitenta anos e a mesma presença e voz de sempre, Chico chegando nos 60 com o eterno ar de pré-adolescente; os dois tocando violões afiadíssimos. Revisitaram inclusive o épico álbum Cantoria, que Geraldo gravou ao lado de Elomar, Vital Farias e Xangai em 1984, cunhando o pilar da música épica nordestina que funciona como um dos principais alicerces do espetáculo. Mas nada se compara ao ápice da apresentação, quando os dois instrumentistas bradam seus violões na hipnótica trança sertaneja que é esticada durante a introdução de “Bicho de Sete Cabeças”, colocando a música em um lugar central e imponente desta genealogia musical, num dos momentos instrumentais mais intensos dos palcos desta década. Esse show é uma joia – não o perca de vista.