As ruínas da Via Funchal

Tantas lembranças neste lugar…

viafunchal

Os Chemical Brothers apresentando Surrender pela primeira ao vivo no mundo… O LCD Soundsystem tocando no primeiro Sónar brasileiro sem ter disco lançado… O show da volta do Echo & the Bunnymen… Dois shows incríveis do R.E.M… Vários shows do Trama Universitário… Pulp em 2012… Cardigans com Gang of Four na mesma noite… Fora que era daquelas casas que permitiam que você visse o palco de onde quer que você estivesse. Uma pena…

Vi no Instagram do Estevam.

Pulp em São Paulo: 28 de novembro, Via Funchal

Lucio confirmou.

Seríssimo candidato a show do ano, hein. Vi ano passado no Hyde Park, em Londres, e, mesmo naquela situação (ao ar livre, festival, muvuca, depois de mil bandas), foi fantástico. Imagina sob condições ideais de temperatura e pressão, repertório completo… Saca uns vídeos que fiz aí embaixo:

 

O fim da Via Funchal

E a nova vítima da especulação imobiliária em São Paulo não é um barzinho charmoso, um bistrô num sobrado, um cineminha descolado nem aquela baladinha hype – e sim a Via Funchal que, segundo a Sônia Racy, será demolida para a construção de um novo prédio. Pra mim, é a melhor casa de shows de grande porte de São Paulo (e agora ficaremos apenas com os estádios, o Jóquei, o Anhembi, o Credicard Hall, a Chácara do Jóquei… Tristeza). Vi tanto show bom ali: New Order e R.E.M. há uns três anos, Chemical Brothers e o Echo & the Bunnymen em 1999 são alguns que me vêem à cabeça. Teve muito show ruim também, mas esses nem valem ser lembrados…

Tumblr do dia: Troféu Coxinha de Ouro

Muito foda. Arnaldo que descobriu.

Vampire Weekend em São Paulo

Achei bem morno esse show do Vampire Weekend desta terça. Teve neguinho indo ao delírio, a banda é boa, mas… falta alguma coisa. Os melhores momentos do show foram as músicas mais tranqüilas, os momentos micareta são muito quadrados, sem suíngue, quase uma quadrilha de festa junina de tão certinho. Eu acho que em uns dois anos eles engatam de vez. E quantas pessoas tinham na Via Funchal? Duas mil, três mil? Tava vaziaço…

Franz Ferdinand a todo vapor


“Tell Her Tonight”

Uns reclamaram do som, outros da lotação, muitos do calor – mas tudo funcionou perfeitamente na quarta passagem do Franz Ferdinand pelo Brasil, a terceira por São Paulo. A banda lançou seu disco mais recente há mais de ano e não arrisca músicas novas ao mesmo tempo em que não faz mais o show de lançamento de Tonight. O show, portanto, acaba sendo uma grande geral que a banda fez em sua carreira de três discos. O que impressiona pela quantidade industrial de hits despejados pela banda como uma máquina de dançar.


“No You Girls”

O que me leva crer que o Franz seja a melhor banda de rock da primeira década do século. Talvez não seja a mais importante: afinal só existe porque, na virada do milênio, certo filhinho de papai dono de agência de modelos conseguiu emplacar sua banda tanto entre os indies quanto na pista de dança. Mas se os Strokes acertam – cada vez menos – quando o assunto é hit, seus discos vão de mal a pior. O mesmo não pode ser dito sobre o Franz, a única banda desta geração novo rock cujas faixas memoráveis são bem mais que a metade de seus álbuns. O que torna o repertório da noite tão extenso quanto o de uma banda com décadas de carreira.


“Can’t Stop Feeling”

A diferença é o dedo na tomada – e o Franz não para um segundo no palco. Enquanto o público pulava banhado pelo próprio suor cantando quase todas as letras das músicas, a banda se entregava, chegando bem perto dos fãs, exibindo-se em seus instrumentos num jogo de sedução típico no rock. Quatro marmanjos apaixonados por milhares de pessoas gritando suas músicas, dando tudo de si para o público sequer perceber que mais de duas horas tinham se passado.


“Walk Away”

O vocalista Alex Kapranos assume-se dono da banda e percorre toda extensão do palco como um zumbi disposto a comer todos os cérebros do público ao mesmo tempo. Divide as guitarras com Nicky McCarthy, seu braço-direito, feliz em ser o segundo nos holofotes. Os dois confrontam os fãs bem de perto, chegando na boca do palco, erguendo seus instrumentos a pouco mais de um metro das mãos do público na grade querendo tocá-los. O baixista Robert Hardy, de barba, age com alguma desconfiança, acompanhando os dois guitarristas como um segurança de celebridade – quando você menos percebe, ele está acompanhando os dois de perto, sem deixar o ritmo da música cair. Que, no caso, é responsabilidade do baterista topetudo Paul Thomson, um metrônomo humano que dita todo o ritmo da noite. Ocasionalmente a cozinha é acrescida da participação dos teclados tocados por Nicky – e o Franz deixa de ser uma banda de rock para dançar e vira quase um projeto paralelo electro-kraut de alguma banda pós-punk dos anos 80.


“This Fire”

E é esse equilíbrio entre o pop mais deslavado, quase anti-rock, new wave amarelo-limão, e o rock mais experimental, perigoso, artsy. Seus genes musicais combinam enzimas de B-52’s com Pere Ubu, Devo com Jam, Wire com Buzzcocks, Fall com Ramones, além de não ter vergonha de se misturar com bandas que frequentam outros guetos musicais (como o Clash pirando em reggae e hip hop, o Gang of Four descobrindo a disco music ou PiL dissecando krautrock e música eletrônica). E mesmo que tenham aprendido tudo que sabem pela cartilha dos Beatles, rezam na bíblia do patrono David Bowie.


“Shopping for Blood”

E como eles se entregam ao público. Gotas de suor escorrem pela cara da banda para logo depois banharem suas roupas, o fôlego cansado fica evidente depois que enfileiram dois ou três hits em seqüência enquanto correm pela frente do palco. Várias dobradinhas são feitas enquanto a banda toca – os dois guitarristas duelando instrumentos, baixista e baterista se olhando na marcação de tempo, baixista e guitarrista esperando a hora certa para virar o clima da música, baterista e tecladista despindo as referências rock para deixar tudo eletrônico, Kapranos sola com a guitarra na nuca, pouco antes de subir em um dos amplificadores do palco – enquanto Nicky sobe no outro – para terem uma visão privilegiada do público.


Franz Ferdinand na bateria

Quando os quatro assumem o kit de bateria posto em frente ao palco, o show – que já estava na mão da banda – vira um momento de hipnose coletiva. A percussão, no entanto, não cai para tentativas de agradar um público teoricamente acostumado ao samba (ao menos em seus inconscientes). Em vez disso mantém-se reta e binária, linear e robótica, como se pudesse mostrar que, indo para o rock ou para a música eletrônica, o Franz Ferdinand está falando sobre a mesma coisa.


“Darts of Pleasure”

O assunto da banda é música para dançar. Guitarras para chacoalhar quadris e teclados para bater cabeça. Mesmo com o clima de histeria fanática tomando conta do público, a sensação do show era de baile, de salão lotado de meninas prontas para serem tiradas para dançar. E a conotação adolescente ficava em segundo plano a partir da faixa etária da banda – o Kapranos é mais velho que eu -, quando grande parte da massa que cantarolava riffs e hits também já tinha deixado sua adolescência há pelo menos uma década.


“Lucid Dreams”

E é em “Lucid Dreams”, não por acaso a última música da apresentação, que todos os pontos do Franz Ferdinand se encontram. A adolescência tardia, o rock’n’roll primitivo, o pós-punk transgressor, a new wave descerebral, a dance music elétrica, a disco music valvulada – tudo converge no épico de doze minutos que é o centro de Tonight, o terceiro disco dos caras, e – por que não? – de sua carreira. Nem “Take Me Out” nem “Do You Want To?” – talvez seus dois maiores hits – não têm a presença e a força da faixa que encerrou o show, uma maratona de eletricidade e ruído que, ancorada no ritmo, prova que nenhum dos contemporâneos do Franz Ferdinand – Strokes, White Stripes, Interpol, Arctic Monkeys, pode listar – é tão promissor quanto eles.


“Valeu Brasil”

Na bateria, Franz Ferdinand

Que show foda. Depois eu conto melhor. Tem mais vídeos aqui, ó.

Partiu Franz?

Bora lá!

Novas do Little Joy e a calcinha da Binki

Falando em Los Hermanos, Amarante também apresentou-se no fim de semana passado com seu Little Joy no Brasil pela segunda vez no ano, subindo um degrau considerável – do Clash pra Via Funchal, preço de ingresso quase triplicado em relação ao começo do ano. E aproveitou pra mostrar músicas novas. O Terron compilou três dessas (abaixo vão duas, bem boas), além do vídeo deles tocando “Procissão“, do Gil.

Terron também twittou uma fotinha que saiu no blog do Maurício Valladares em que a Binki, esvoaçante, pagou uma calcinha completa ao pular mais que deveria, se liga: