Verde-cinza
O disco de estréia de Dean Grey é, como ele mesmo coloca no título de uma de suas faixas, uma praça de canções quebradas. A brincadeira de dois mashupeiros (de quem irei falar em quintas vindouras, aguarde) era criar um personagem que fundisse pedaços de músicas alheias à íntegra do álbum American Idiot, do Green Day (o nome de nosso herói é um anagrama do nome da banda california). Deu em American Edit, com a mãozinha no mouse estilizada naquele esquema arte de guerrilha, lembrando uma granada.
E, como nesse mundo pós-pós-moderno que vivemos tudo é referência, Mr. Gray já veio com discurso pronto e – sabendo que estava infringindo direitos autorais – pedia que as pessoas mandassem grana pras instituições de caridades apoiadas pelo Green Day. Pôs seu disquinho no ar em seu próprio http://www.americanedit.net/ , e esperou a reação dos fãs e das gravadoras. No disco, Billy Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool são lindamente atropelado por pedaços de Kanye West, Queen, Eagles, Dire Straits, Beatles, Sex Pistols, Who, Johnny Cash, Gary Glitter, Oasis, Aerosmith e U2, o que nos ajuda a reposicionar o próprio Green Day na história do rock. Enquanto ainda teimamos em admitir que a banda não passe de um punkzinho pop ou um popzinho punk que deu certo até demais, o certo é que lá se vão dez anos do Dookie – uma pequena jóia, concorde (ouça, antes de fazer cara feia, porra) – e os caras continuam aí com música na cabeça das pessoas e bem na fita. Isso não implica em qualidade – e sim, tamanho – aponta Dean Gray, ao juntá-los no mesmo barco das bandas citadas assim.
O disco foi (hmmm, como se fala best-seller nessa época de download?) um sucesso online a ponto de, como sabiam os criadores desde o início, incomodar a gravadora do Green Day, a Warner, que mandou a cartinha pedindo pra eles desistirem daquilo. A música que batiza esse post – colidindo “Boulevard of Broken Dreams” com “Dream On” do Aerosmith (aquela que o Eminem sampleou) e “Wonderwall” do Oasis – chegou até a tocar na Jovem Pan brasileira, vejam vocês… E não foi ninguém que me contou.
Como previsto, todo mundo quis saber que disco era aquele que incomodava uma major – e, dos P2Ps, vários servidores começaram a distribuir o conjunto de MP3, num ato de subversão feliz que se torna, felizmente, cada dia mais comum. E, como antes aconteceu com o Danger Mouse (Grey Album, Jay Z + Beatles… Tu não sabe dessa história? Deve saber, pelo menos de orelhada, mas outra quinta eu conto direito…), rolou até uma famigerada Dean Grey Tuesday, em referência à terça cinza do Danger Mouse – depois eu conto, já falei!), em que no dia 13 de dezembro do ano passado, vários servidores de internet disponibilizaram o álbum de graça, em protesto à Warner, que havia tirado o disco do ar com base na lei – sendo que até o Billy Joe havia curtido American Edit.
Daí que o site hoje é uma compilação das notícias que foram geradas a partir do advento que transformou-se o disco. E, embora os MP3s não estejam hospedados no site do “sujeito”, o encarte e rótulo para o disco podem ser encontrados por ali (numa clara e irônica referência ao fato de o disco ainda existir), mas basta dar uma fuçada sem o mínimo de esforço na internet que você encontra o disco inteiro pra baixar.
E não acredita em mim: baixa e vê se é isso memo. Aqui, ó.