Ventura – Los Hermanos

, por Alexandre Matias

ventura-loshermanos.jpg

“Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?”, pergunta o vocal choroso de Marcelo Camelo, acompanhado de dois clichês da MPB de barzinho (a guitarra com acordes puxados e a bateria aro de caixa). Mas em menos de meio minuto o resto da banda engata uma batucada quadrada, indie de tão branca. É a contramão do samba-rock, o rock-samba inventado pelo antigo grupo de skacore no álbum anterior, O Bloco do Eu Sozinho. O tema parece indigesto (rock tocado como se fosse música brasileira), mas o quarteto, como no disco anterior, passeia desenvolto por um universo todo seu, em que Noel Rosa e Noel Gallagher trocam farpas entre descrições precisas de um cotidiano classe média e melodias memoráveis. Primeiro disco brasileiro a vazar na internet antes de seu lançamento (a contragosto da banda, que mudou até o título original, Bonanza), Ventura é o Lado B do Bloco e se aquele disco tinha tonalidades quentes do fim de um carnaval, o terceiro CD da banda vem com uma cor azulada do começo da noite e fim de madrugada. E em vez de uma lágrima, um sorriso.