Quase cinco horas no ano passado.
Jorja Smith – “The One”
Duda Beat – “Bixinho”
Raffa Moreira – “Bro”
Liniker – “Lava”
Nação Zumbi + BaianaSystem – “Alfazema”
Brockhampton – “San Marcos”
Sara Não Tem Nome – “Cidadão de Bens”
Norah Jones + Jeff Tweedy – “Wintertime”
Lady Gaga – “Always Remember Us This Way”
Bonifrate – “Alfa Crucis”
Jpegmafia – “Macaulay Culkin”
Elza Soares + Edgar – “Exu nas Escolas”
Ava Rocha – “Joana Dark”
Orchestra Santa Massa – “A Casta”
MC Carol + Heavy Baile – “Marielle Franco (Desabafo)”
Pabllo Vittar – “Problema Seu”
Guizado + Negro Leo + Andrea Merkel – “Modern Fears”
David Byrne – “I Dance Like This”
Gorillaz + George Benson – “Humility”
Brisa Flow – “Grillz”
Emicida – “Inácio da Catingueira”
Stephen Malkmus + Kim Gordon – “Refute”
Childish Gambino – “This is America”
Criolo – “Boca de Lobo”
Baco Exu do Blues + Tuyo – “Flamingos”
Billie Eilish – “You Should See Me in a Crown”
Courtney Barnett – “Need a Little Time”
Rincon Sapiência – “Placo”
Saulo Duarte – “Avante Delírio”
Baggios + Céu – “Bem-Te-Vi”
Kassin – “Relax”
BK’ – “Porcentos”
Malu Maria – “Diamantes na Pista”
Ariana Grande – “Thank U, Next”
Lupe de Lupe – “Midas”
FBC – “Contradições”
MC Loma e as Gêmeas Lacração – “Envolvimento”
Cat Power + Lana Del Rey – “Woman”
Teto Preto – “Pedra Preta”
Nicki Minaj – “Barbie Dreams”
Drake – “Nice for What”
Cardi B + Bad Bunny + J Balvin- “I Like It”
Sophie – “Immaterial”
Caroline Rose – “Jeannie Becomes a Mom”
Juliano Gauche – “Pedaço de Mim”
Maria Beraldo- “Da Menor Importância”
Brockhampton – “New Orleans”
Ventre – “Pulmão/Alfinete”
Elza Soares – “Banho”
Luiza Lian – “Iarinhas”
Gilberto Gil – “Quatro Pedacinhos”
Janelle Monáe – “Make Me Feel”
Disclosure – “Moonlight”
Rosalía – “Malamente (Cap.1: Augurio)”
The Carters – “Apeshit”
Lana Del Rey – “Venice Bitch”
Yma – “Par de Olhos”
Gilberto Gil + Yamandu Costa – “Yamandu”
Jay Rock + Kendrick Lamar + Future + James Blake – “King’s Dead”
Kali Uchis – “Miami”
Arctic Monkeys – “One Point Perspective”
The Internet – “Come Over”
Arctic Monkeys – “Four Out of Five”
Courtney Barnett – “Crippling Self Doubt and a General Lack of Self Confidence”
Blood Orange – “Charcoal Baby”
Gilberto Gil – “Na Real”
Luiza Lian – “Azul Moderno”
Arctic Monkeys – “Star Treatment”
Ava Rocha – “Periférica”
Kali Uchis – “Just a Stranger”
Maurício Pereira – “Outono no Sudeste”
Gui Amabis – “Miopia”
The Carters – “Heard About Us”
Gilberto Gil – “Ok Ok Ok”
The Internet – “Roll (Burbank Funk)”
Larissa tinha acabado de tocar com a banda Papisa na segunda edição de seu espetáculo Tempo Espaço Ritual no Centro da Terra quando fui cumprimentá-la ao lado do palco. Ela estava exausta e elétrica como sempre fica após os shows, mas seu olhar, em vez de eufórico, estava perdido no infinito. Não consegui segurar e perguntei o que ela tinha – e ela desabafou, lágrimas nos olhos: “A Ventre acabou!”.
Não é preciso nem conhecê-la direito para saber o impacto daquela notícia em sua vida – qualquer um que já tenha assistido a um show do trio formado por Larissa Conforto (bateria e voz), Hugo Noguchi (baixo e voz) e Gabriel Ventura (guitarra e voz) sabe que a intensidade emocional carregada sobre o grupo transpira por todos os poros, atingindo o público como uma tempestade de fortes sensações misturadas: tristeza e esperança, choro e euforia, pânico e êxtase. E se o trio tem sua dose equânime de talento e sensibilidade, a força-motriz deste temporal é Larissa, tanto ao esmurrar sua bateria quanto ao entregar-se nos vocais. E isso não é mérito apenas em sua banda – já a vi fazendo isso nos shows de Thiago Pethit em homenagem à Patti Smith, com o My Magical Glowing Lens e com a Papisa de Rita Oliva, como naquele fim de fevereiro em que a encontrei desolada. Fora seu papel como agente cultural – já trabalhou em gravadora, teve casa de shows e é uma das instrumentistas mais intensamente ativas na cena indie brasileira -, além de ser um amor de pessoa.
Era fevereiro deste ano e o Ventre ainda iria tocar no Lollapalooza naquela que seria sua grande apresentação às vésperas do segundo álbum. Mas no fundo o trio já sabia que teria que suspender as atividades desde o início do ano, antes de abrir para os shows do Toe em São Paulo e de participar do festival catarinense Psicodália, no carnaval. Encontrei com Larissa pouco tempo antes deste show no Lollapalooza e combinei de bater um papo com ela sobre o fim da banda – que depois o grupo passou a se referir como “pausa” – e o que ela deve fazer em breve. E aproveitei para conversar sobre a cena independente brasileira, arte e política. O papo, via Whatsapp, levou alguns dias entre março e abril, perto do lançamento da primeira parte do EP que encerra as atividades do grupo (Saudade (O Corte 切り)), por isso só agora consegui organizar os áudios e publicar toda nossa conversa.
Fale sobre o fim da Ventre.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-fale-sobre-o-fim-da-ventre
É o fim, é uma pausa ou está 100% em aberto?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-e-o-fim-e-uma-pausa-ou-esta-100-em-aberto
Como foi o último show da banda no Lollapalooza?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-como-o-ultimo-show-da-banda-no-lollapalooza
E vocês ainda lançam um EP antes de acabar de vez?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-e-voces-ainda-lancam-um-ep-antes-de-acabar-de-vez
Vocês vão fazer mais shows ou fazer um show de despedida?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-voces-vao-fazer-mais-shows-ou-fazer-um-show-de-despedida
O que mais você vai fazer agora que a Ventre acabou?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-o-que-mais-voce-vai-fazer-agora-que-a-ventre-acabou
Como você vê o mercado independente brasileiro de dez anos pra cá?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-como-voce-ve-o-mercado-independente-brasileiro-de-dez-anos-pra-ca
Você falou sobre festivais, mas queria que você falasse sobre o papel das casas de show.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-voce-falou-sobre-festivais-mas-e-as-casas-de-show
E como entra a comunicação e a divulgação nesta história?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-e-como-entra-a-comunicacao-e-a-divulgacao-nesta-historia
É nítida a evolução da cena independente brasileira?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-e-nitida-a-evolucao-da-cena-independente-brasileira
Arte é resistência?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-arte-e-resistencia
Numa época política tão conturbada, por que a música brasileira não protesta?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/larissa-conforto-2018-numa-epoca-politica-tao-conturbada-por-que-a-musica-brasileira-nao-protesta
E a primeira semana do Centro do Rock no Centro Cultural São Paulo termina com uma noite que promete ser memorável: o encontro das bandas Ventre e E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante tocando juntas no palco da Adoniran Barbosa, uma apresentação que só aconteceu uma única vez. Os ingressos estão terminando (mais informações aqui), não dê mole!
O UOL celebrou o dia do rock e me pediram pra elencar dez bandas de rock para calar a boca de quem diz que não existe mais rock feito no Brasil lá no meu blog.
Uma reclamação constante que ganha força no infame “dia do rock” é que não há mais rock bom sendo feito no Brasil. Normalmente esta reclamação vem de gente que se acostumou a acompanhar as novidades pelo rádio, um meio que, infelizmente, preferiu optar pela redundância comercial do que pela curiosidade artística. E o próprio rock preferiu se distanciar. Se escondendo em rótulos e nichos, várias bandas conseguem se estabelecer longe das massas, criando carreiras e discografias sólidas em anos de trabalho. Algumas até flertam com o mercado pop mas acabam sendo ofuscada pela ostentação intensa de artistas de forte apelo popular. Mas, sim, há muita banda boa fazendo rock atualmente. Separei dez das que considero mais representativas na atual cena do Brasil, mas quem quiser citar mais nomes, por favor, use a área de comentários para isso (e não para seguir reclamando de que não há nada de novo, sem nem se dar ao trabalho de ouvir as bandas).
A decana banda liderada por Gabriel Thomaz – que hoje conta com a esposa Érica Martins (ex-Penélope) na formação – já pode ser considerada um clássico do atual rock brasileiro. Contemporânea do grupo Los Hermanos, o hoje quarteto começou como um trio e rebola entre o rock mais dançante e sujo dos anos 60 e a new wave e o punk rock dos anos 70, com letras em português e refrões grudentos. Seu disco mais recente, O Futuro dos Autoramas, prova que é possível ser pesado e fazer dançar sem deixar de soar rock.
The Baggios
A dupla sergipana – que agora é um trio – lançou um dos discos mais pesados do ano passado, o excelente Brutown, e aos poucos também se estabelece como uma das bandas que mais circulam pelo circuito independente do país. Rock bruto e cru com letras em português para não deixar ninguém parado.
Boogarins
A principal banda da nova cena psicodélica brasileira, o grupo goiano Boogarins foi responsável por dar origem a toda uma nova safra de bandas que bebem tanto no rock lisérgico dos anos 60 quanto no indie rock deste século. Vocais sussurrados, guitarras derretidas e uma cozinha precisa cravam a precisão do grupo, que acaba de lançar o ousado Lá Vem a Morte, flertando com a eletrônica e a pós-produção. Seu disco anterior, o já clássico Manual Guia Livre de Dissolução dos Sonhos, é um dos principais trabalhos de rock brasileiro deste século.
Cidadão Instigado
Liderada pelo guitar hero Fernando Catatau, a banda cearense Cidadão Instigado já se estabeleceu como uma banda contemporânea de rock clássico e completa, neste ano, duas décadas de atividade. Com os pés no rock dos anos 70 e a cabeça entre praias ensolaradas e a o concreto quente, o grupo é conhecido por viagens instrumentais pesadas que orbitam entre o rock psicodélico, o rock progressivo e o art rock, com um sotaque definitivamente brasileiro. Seu disco mais recente, o manifesto Fortaleza, também é seu disco mais pesado.
E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante
Quarteto paulistano de pós-rock, o grupo E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante explora paisagens sonoras com timbres pesados e levada ambient, criando pinturas instrumentais de texturas pesadas e forte carga emotiva. Estão lentamente compondo e gravado seu disco de estreia, e seu lançamento mais recente (o single com as músicas “Medo de Morrer” e “Medo de Tentar”) captura sua intensidade melancólica.
Far from Alaska
Reconhecidos inclusive no exterior, a banda potiguar Far from Alaska é um dos principais nomes do nu metal brasileiro e acaba de gravar seu segundo disco, Unlikely, que será lançado ainda neste semestre. O single de “Cobra”, igualmente pesado e melódico, é uma ótima amostra do que podemos esperar deste novo disco.
Maglore
Banda baiana liderada pelo compositor Teago Oliveira está prestes a lançar seu quarto disco e o culto ao redor de suas canções e apresentações segue crescendo. Com fortes cores melódicas, o grupo segue a trilha abandonada pelos Los Hermanos no terceiro disco, sem perder a força elétrica dos riffs e solos de guitarra. O terceiro disco da banda, chamado apenas de III, é uma ótima porta de entrada para o trabalho do grupo.
Rakta
Banda paulistana de formação feminina, o Rakta é minha banda brasileira de rock favorita atualmente. Sem guitarra, concentram o ruído entre as linhas de baixo de Carla Boregas e os teclados de Paula Rebellato, que também tocam percussão no meio do show, transformando a apresentação em um ritual de bruxaria elétrica. As influências vão da no wave ao krautrock, passando pela psicodelia e pelo pós-punk – e seu terceiro disco, batizado apenas de III, é uma obra-prima.
O Terno
Trio liderado por Tim Bernardes (filho do Mulheres Negras Maurício Pereira), O Terno é uma usina de som e seus shows são catárticos. Entre o rock épico, a psicodelia e a música brasileira, eles bebem tanto em bandas clássicas dos anos 60 quanto em ícones dos anos 80 e malditos da MPB, fazendo um amálgamo sonoro intenso, elétrico e com letras que apelam para a metalinguagem. Seu disco mais recente, Melhor do Que Parece, é mais melancólico que as apresentações do grupo – por isso escolho o segundo disco, batizado apenas com o nome da banda.
Ventre
Outro grupo que segue levantando a bandeira do rock melódico que já foi dos Los Hermanos, o trio carioca Ventre é conhecido por suas apresentações intensas e por entortar soluções pop de forma inusitada, além da presença carismática da baterista Larissa Conforto, gigante em seu instrumento. Seu disco de estreia, homônimo, já é um dos grandes discos de rock brasileiro desta década.
Uma das atrações que mais meu deu orgulho em trazer para o Centro do Rock é o encontro das bandas E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante e Ventre, que acontece no próximo domingo (mais informações aqui). As bandas, duas novas forças em ascensão do rock independente brasileiro, se juntaram a partir de uma sugestão que o Fabricio Nobre, dono do festival goiano Bananada, fez à Kátia Abreu, do Dia da Música – apresentar um showcase para seu festival. Kátia foi além e imaginou algo inédito a partir da junção de duas atrações que ele já havia convidado para a edição do evento deste ano. Conhecendo bem as bandas e sabia da afinidade musical e pessoal entre os integrantes, ela propôs um show conjunto, com o trio carioca e o quarteto paulistano tocando músicas ao mesmo tempo. O resultado foi um show que, quem pode assistir, descreveu como intenso e emocionante, qualidades dos shows das duas bandas, registrado no curta que os grupos lançam com exclusividade aqui no Trabalho Sujo.
https://www.youtube.com/watch?v=q0Gx2TBQMVI&feature=youtu.be
A partir do dia 11 de julho, o Centro Cultural São Paulo abre-se para o melhor do rock moderno brasileiro, reunindo nomes como Rakta, Garage Fuzz, Boogarins, Test Big Band, Meu Reino Não é Desse Mundo, Thiago Pethit, Luís E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante + Ventre, MQN, Maglore, Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco, Thiago Nassif, Jonnata Doll e os Garotos Solventes, Labirinto e The Baggios, além de debates, filmes e uma edição do Concertos de Discos dedicada à história do rock brasileiro. Mais informações no site do CCSP.
Em sua décima terceira edição, o pernambucano Coquetel Molotov se consolida como um dos melhores do país – escrevi sobre o festival no meu blog do UOL.
Conheço Recife desde os tempos em que o mangue beat ainda era uma novidade recebida com estranhamento pelos próprios pernambucanos, que demoraram para reconhecer que aquela mistura de tradição e modernidade encabeçada por Chico Science aos poucos colocaria a cidade não apenas no mapa musical do Brasil como no atlas da cultura mundial. A natureza tradicionalmente cosmopolita da cidade – resquício da colonização holandesa liderada por Maurício de Nassau no século 17 – havia entrado em estado de hibernação durante os anos 80 e a turma dos caranguejos com cérebro sonhava em voltar a respirar uma cidade que fosse reconhecida por sua rica cultura e mentalidade aberta, não pelos índices de violência e de pobreza.
Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.
E foi isso que aconteceu na ampla fazenda colonial Coudelaria Souza Leão, neste sábado, dia 22, que recebeu a melhor safra do pop brasileiro deste ano, desfilando entre os dois principais palcos do dia final do evento, que desta vez teve etapas realizadas nas cidades de Belo Jardim (no interior do Pernambuco) e Belo Horizonte nas semanas anteriores. Quase dez mil pessoas assistiram a shows de artistas de diferentes estados brasileiros e de outros países, mas mais do que as atrações musicais o que realmente determinava a atmosfera do festival era o público.
Um púbico completamente misturado – de diferentes etnias, classe sociais, faixas etárias e gêneros -, respeitoso e exigente, entregues à música fosse ela a hipnose psicodélica dos goianos dos Boogarins, o groove sintético da paulistana Céu, o ativismo dance da curitibana Karol Conká ou a pista pesada dos soteropolitanos do BaianaSystem. Em cada um dos shows o público reagia de forma diferente, mas sempre entrando em sintonia completa com a realidade musical proposta por cada atração. Era uma pequena multidão que ia do transe reverente ao baile apaixonado, da surpresa empolgada ao êxtase corporal, deixando os artistas à vontade para fazer o que melhor sabiam.
Isso potencializou shows naturalmente fortes, como o de Céu e do BaianaSystem, donos de dois dos melhores discos e shows deste ano. Frente ao público do palco principal do festival (dentro de um enorme casarão colonial), os dois suaram sorrindo para fazer apresentações irrepreensíveis, conduzindo a platéia na mão ao mesmo tempo em que se entregavam a ela. Já artistas como o paranese Jaloo, a banda carioca Ventre e os norte-americanos do Deerhoof souberam aproveitar as dimensões menores do palco aberto e fizeram shows de pura adrenalina: Jaloo entregue aos braços da audiência, a baterista Larissa Conforto da Ventre mais uma vez roubou a cena com uma intensa intervenção política e os norte-americanos descarregando eletricidade e ritmo. Shows intensos em que parte dessa energia vinha da cumplicidade quase instantânea entre bandas e público.
Entre os dois palcos, este público também circulava entre um mercado de compras, o terceiro palco do festival (a Rural do Rogê, uma velha caminhonete que abriga shows itinerantes pelo Recife, capitaneada pelo Rogê da antiga Soparia, eternizado na música “Macô” da Nação Zumbi) e um quarto palco, bem menor e sem iluminação, quase uma ocupação, que foi colocado entre os dois palcos principais para receber bandas instrumentais. Música para todo o lugar que você ouvisse, cercando um público que começou a frequentar shows exatamente quando o mangue beat começou a ser incorporado ao mainstream da cidade e o Coquetel Molotov começava a dar seus primeiros passos, ainda sob o epiteto de “o festival indie do Recife”.
Treze anos depois o festival cresceu e seu público também, bem como suas ambições culturais e estéticas. E o que viu-se neste sábado no Recife foi justamente a maturidade completa de uma cena local, aberta para o novo e disposta a se reinventar constantemente, uma vez que a cena já entendeu esta realidade. Para o ano que vem eles tentam um desafio ainda maior: trazer o festival para São Paulo. Não apenas alugar uma casa noturna e desfilar algumas atrações que também levarão para o Recife, mas reproduzir em São Paulo a atmosfera deste que é o festival mais alto astral do Brasil. Um desafio e tanto.
Neste domingo acontece a segunda edição do festival Fora da Casinha, que o compadre Mancha Leonel – o Mancha, da Casa do Mancha – levanta na raça e na unha, sem patrocínio e reunindo o filé da produção musical brasileira independente. Na edição do ano passado ele bateu na tecla do indie rock brasileiro, crucial em sua formação e na história da casinha. Na edição 2016, ele aponta para o perfil atual do estabelecimmento e seus passos futuros, incluindo ícones do rock independente nacional e novos sabores da atual cena pop brasileira, reunindo dez apresentações (Hurtmold, Jaloo, Mauricio Pereira, Cidadão Instigado, Anelis Assumpção & Dustan Gallas, Luiza Lian, Kiko Dinucci, Maglore, As Bahias e a Cozinha Mineira, Ventre e Juliana Perdigão) em três palcos a partir das quatro da tarde. Como no ano passado, eu, Luiz e Danilo representamos a SUSSA – Tardes Trabalho Sujo, tocando apenas música independente brasileira na área comum, que conta com área de alimentação, feirinha de publicações independentes, lançamento do livro Cena Musical Paulistana dos Anos 2010, do Thiago Galletta, e exibição do documentário Música ao Lado” sobre as pequenas casas de shows em São Paulo. O evento acontece na Unibes Cultural, do lado do metrô Sumaré (mais informações aqui), e eu pedi pro Mancha escolher as dez músicas do indie brasileiro que foram mais importante em sua formação. Sugiro dar play no vídeo e abaixar o volume para ouvir a música comentada ao fundo da explicação da escolha para cada faixa.
Bonifrate – “Cantiga da Fumaça”
Pullovers – “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”
PELVs – “Even if the sun goes down”
Astromato – “No Macio, No Gostoso”
Bazar Pamplona- “Faixa Bônus”
Thee Butchers Orchestra – “Sugar”
Motormama – “Coração Hardcore”
Wado e o Realismo Fantastico – “Tormenta”
Apanhador Só – “Não Se Precipite”
Superguidis – “Malevolosidade”