Paul McCartney novamente volta ao nosso continente e decidiu começar a perna 2024 de sua turnê fazendo história, ao tocar, pela primeira vez ao vivo, a música que lançou no ano passado ao lado de Ringo Starr como “a última música dos Beatles”, ao reunir gravações póstumas de John Lennon e George Harrison. “Now and Then” foi a única surpresa no setlist que apresentou nesta terça-feira em Montevidéu, no Uruguai, na primeira das nove apresentações que faz na América do Sul neste mês, quando também passa pela Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Brasil – as datas no país acontecem nos dias 15 e 16 (em São Paulo) e no dia 19 (em Florianópolis). Depois, Paul segue com sua turnê pela Costa Rica, México, França, Espanha e Inglaterra, quando encerra o ano em duas apresentações na Arena O2, em Londres, nos dias 18 e 19 de dezembro. Assista à primeira apresentação ao vivo de “Now and Then” abaixo:
E o senhor Robert Smith acaba de confirmar no site de sua banda as últimas datas da turnê do Cure pela América do Sul. Além das confirmações nas edições locais dos Primavera Sound que comentei essa semana, o grupo toca em shows fora de festival (ou seja, três horas de show) no Peru (dia 22 de novembro, em Lima), no Uruguai (dia 27, em Montevidéu) e no Chile (dia 30, em Santiago). Os ingressos começam a ser vendidos no dia 28 agora (ou no dia 26, se você se cadastrar na lista de emails da banda neste link).
Conheço Matias Maxx desde o século passado e ele sempre foi um dos principais ativistas da causa canábica no Brasil – a planta é onipresente em sua vida e obra e passa pelo seu zine Tarja Preta, a loja Cucaracha no Rio de Janeiro e a revista SemSemente, além de ter inspirado o onipresente Capitão Presença. Sua última incursão ao mundo verde é o programa de turismo canábico Narcoturista, em que ele encarna o Macoñero Mascarado e dá um rolê por lugares que tenham a ver com a erva. O próximo episódio vai ser gravado no Uruguai e ele quer aproveitar a ida pra ir à fundo na experiência da legalização da maconha no nosso vizinho do sul – e pra isso montou uma campanha de crowdfunding no Catarse para fazer tudo do jeito certo. Bati um papo com ele sobre o programa, a campanha, a viagem e a situação das drogas no Brasil. Pra colaborar com o crowdfunding, clique aqui.
Falaê qual é a do programa.
Então, a idéia do Narcoturistas surgiu meio por acaso. Eu já tinha aquela máscara há muito tempo e basicamente usava no carnaval e na Marcha da Maconha. Aí eu levei ela numa viagem que fiz com o Daniel Paiva para Amsterdã em 2012. A gente foi cheio de gás numas de fazer matérias pra revista semSemente, e também gravar um documentário. Mas era a Cannabis Cup, a gente ficava chapado o tempo todo, e todos nossos possíveis personagens estavam ou super ocupados ou super chapados também.
Foi quando a gente teve essa idéia: fazer um programa de turismo apresentado pelo Macoñero Mascarado. Mas nem isso a gente conseguiu fazer direito. Aí o material ficou arquivado por dois anos quando a gente resolveu pegar pra editar de novo, dublar a porra toda e fazer a magia do cinema acontecer. Um pouco antes da gente lançar, fui ao México de férias, levei a máscara e gravei umas doideiras lá. Mês passado quando fui cobrir a Marcha da Maconha de BH também levei a máscara e daí surgiu o terceiro episódio, em “Brumadim”. A gente também tá fazendo sem pressa um episódio no Rio e um em SP, aonde a gente já gravou uma baldada lá no volume morto da Cantareira…
Agora, o que eu quero com isso? Essa pergunta é dificil. Acho que é dar continuidade ao que eu sempre fiz com a Tarja Preta, que é informar, mas sem perder o bom humor jamais.
O Narcoturistas é só você e o Daniel?
Ele é meu sócio na jogada. Ele é cartunista, co-editor da Tarja Preta e músico, toca na Orquestra Voadora, no Marofas Grass Band, no Luisa Mandou um Beijo e uma porrada de outras bandas daqui do Rio. Então nós dois fazemos praticamente tudo: dirigimos, atuamos, dublamos, filmamos e roteirizamos. Aí tem o DJ Babão que faz a mixagem e sonorização, e o Daniel Tumati que faz os gráficos, efeitos visuais e animações. Mas a gente vai envolvendo mais gente aos poucos: no segundo episódio tem desenho do MZK e no terceiro do Daniel “Etê” Giometti, dos Muzzarellas. No segundo episódio, também contei com a importante parceria do diretor mexicano Julio Zenil, que já fez clipes de várias bandas mexicanas como o Control Machete e é quem fundou a Marcha da Maconha de lá. Se a gente conseguir alcançar a meta do Catarse a idéia é despachar ele pro Uruguai também.
O quanto o Brasil já evoluiu no que diz respeito ao trato das drogas?
O discurso tá evoluindo, sobretudo depois da decisão do STF de 2011 que declarou inconstitucional o crime de apologia às drogas. No entanto o Brasil é um dos países que mais tem gente presa por crimes relacionados à droga. A maioria são pequenos traficantes, usuários muito pobres e alguns cultivadores. E mesmo após essa decisão do STF (ADPF 187), ainda tem gente sendo presa por vestir camisetas com folhas de maconha ou mesmo por cantar músicas sobre maconha – como aconteceu com o Cert da Cone Crew algumas semanas atrás -, sendo que ambas as situações foram explícitas como inconstitucionais no voto do ministro Celso de Melo na ocasião.
O Brasil é muito complicado, pois ao mesmo tempo que você vê uma expansão do que é a cultura canábica e os negócios canábicos, a maioria dos políticos e acadêmicos que defendem a legalização não sacam nada de cultivo ou mesmo de experiências de legalização em outros países, nem mesmo do nosso vizinho Uruguai. Ao mesmo tempo o STF deve votar a inconstitucionalidade do crime de uso de drogas no inicio de agosto, o que é um puta avanço. Mas que se não for acompanhado de alguma forma de regulamentação do cultivo/produção, distribuição e venda das drogas não resolve muito.
Há uma safra de produção audiovisual brasileira que trata sobre o tema. Qual a importância do cinema nisso?
Muito importante. Sobretudo quando esses filmes têm repercussão na grande mídia, como foi o caso do Quebrando o Tabu e do Ilegal, que tiveram trechos exibidos no Fantástico. No caso do Ilegal o filme conseguiu sensibilizar a população de um jeito que dobrou a Anvisa que regulamentou o CBD em tempo recorde, ainda que longe do jeito ideal. Tem também o Cortina de Fumaça do Rodrigo MacNivem que é muito bom.
Além do documentário, você é ferrenho ativista da causa. Como anda a Sem Semente? E que mais você está aprontando?
Sim, eu frequento a Marcha da Maconha desde 2002, e passei a organizá-la no Rio a partir de 2007, nesse meio tempo inspirei o Capitão Presença, e no meu trabalho como fotojornalista, seja na Bizz ou na Vice, sempre tentei levar essa pauta. A semSemente enfrenta os mesmos problemas que qualquer publicação independente com baixo orçamento no país, então a gente tá numa fase de reestruturação. Queremos passar para um formato semestral a partir do próximo semestre. Agora no Uruguai, além de um novo episódio do Narcoturistas também pretendemos gravar um documentário responsa.
Nos últimos dias tive a oportunidade de conhecer o chefe do Instituto Regulador da Canabis do Uruguay e o ex-chefe da junta de drogas de lá, então se prepara galera que vem coisa boa aê. Mas para executar o projeto em sua excelência temos primeiro que bater a meta do Catarse.
Então solta um trocado aê maaaan!!!
A mordida que o jogador uruguaio Suárez deu no italiano Chiellini já é um dos marcos desta Copa do Mundo, mas o Globo Esporte manchetou a reação do presidente uruguaio Mujica sobre a mordida dando a entender que ele concordava com o comportamento animalesco do jogador. Mas a entrevista em vídeo que o Estadão fez com o melhor presidente do mundo hoje mostra que não é bem assim – e que Mujica não concorda com o uso de gravações para determinar punições que deveriam ser dadas em campo, o que é uma oooutra história.
Agradeço ao Flavio, que deu a dica do vídeo via Facebook.
Não é (só) a maconha. A atitude de Juan “Pepe” Mujica em relação à droga ilícita mais popular do mundo – legalizando-a e estatizando-a – é apenas uma das várias mudanças que nosso pequeno vizinho está proporcionando ao inconsciente coletivo global. E não é (só) o aborto ou o casamento gay (nem o oferecimento de uma saída para o mar para o Paraguai). Acho que a principal contribuição do atual presidente do Uruguai para o resto do mundo está em possivelmente esfacelar o garbo fake que paira sobre nossos representantes políticos (resumido magistralmente em uma frase dita em uma entrevista à Folha: “o pior de ser presidente é a parafernália fedal que sobrevive na república” e posto em prática menos de um mês depois, quando o presidente – “oh!” – compareceu a uma solenidade oficial – “oh!” – de chinelos – “OH!”). E por mais insignificante que o país possa parecer, Mujica foi à Assembléia da ONU em setembro e fez um discurso que deverá ser lembrado por muitos anos (a transcrição traduzida segue abaixo) – se você não o viu/ouviu/leu, leia antes que 2013 acabe, pra começar 2014 com a cabeça certa:
Não foi à toa que a revista Economist escolheu o Uruguai como sendo o melhor país de 2013. Mujica pra presidente do mundo!
Hoje é um dia histórico: o começo do fim da guerra contra as drogas.
Excelente essa entrevista que o presidente uruguaio, José Mujica, deu à TV Folha, cheia de verdades que muitos vão achar difíceis ouvir (e não apenas sobre maconha):
Dilma falou bonito, mas o Mujica… Ah, o Mujica… Tire esses 40 e poucos minutos para ouvir o inspirador discurso do presidente uruguaio na ONU nesta terça-feira. Um monte de coisa que todo mundo já sabe, mas dita com uma clareza rara no cenário político internacional. Sem rodeios, sem trololó.
A transcrição o discurso (feita pelo jornal uruguaio República) segue abaixo. Se alguém se dispor a traduzir pro português, é só colar na área de comentários que eu atualizo aqui depois. Me mandaram a tradução feita pela Fernanda Grabauska para a Zero Hora, que copio abaixo:
Então tá:
Um passo histórico, as futuras gerações nos agradecerão por este dia. Não será o único.
(Atualização: Falta senado e aprovação do presidente, mas é questão de tempo)