Um outro Lau e Eu

, por Alexandre Matias

“Parece OK, pode ser que seja legal”, desliza Lau e Eu no refrão de “OK, Legal”, primeiro single de seu novo trabalho, que tira a melancolia da fase anterior para abraçar uma groovezeira perfeita para esse calor do verão de 2022. “Lembro de uma conversa que tivemos em 2019 numa sorveteria em Perdizes que eu havia comentado que tava entrando em uma vibe R&B, e soul”, ele me explica por email a partir de um papo que tivemos sobre shows no Centro da Terra em 2020. “Essa nova onda começou com a paixão por gêneros e artistas mais groovantes, mas por outro lado já fazia um tempo que não tava mais curtindo os temas e as repetições das minhas composições. Precisava dar férias a esse ‘eu adolescente’ que escreve músicas tristes”, explica, antes de mostrar a música nova, que será lançada nesta sexta, em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.

Ouça abaixo.

“Mas ainda assim, foi difícil fazer a transição de linguagem, porque me parece óbvio sublimar neuroses e angústias em composições com acordes menores, até mesmo pq toda minha obra até o momento gira em torno dessa proposta”, ele continua. “Por isso, até chegar em ‘Ok, Legal’ – e em tantas outras composições que estão por vir – foram três ou quatros anos pesquisando a discografia de artistas como Cassiano e Prince, entendendo os joguetes harmônicos, escolhas de palavras e acima de tudo esse ‘ethos’ mais descompromissado e descentralizado.”

A música ainda conta com vocais da Laura Lavieri, guitarra de Pedro Bienemann (coautor da canção), synths e clarinete de Leon Sanchez, Moog de Thiago Legal, baixo de Everton Santos e bateria de Pedro Lacerda, além de synths de Fernando Rischbieter, capo do selo Matraca, que lança o single e também produzirá o próximo disco.

“Quando o Fernando propôs gravar um single nos estúdios da YB, eu já tinha o álbum-demo destas músicas mais groovantes, mas todas elas estavam amarradas à concepção do álbum, de maneira que precisei compor algo novo, introdutório, que desse uma letra mais geral”, Lau continua explicando. “Na época eu não tinha esse single, o tempo era curto, quando procurei Pedro Bienemann para compormos uma música nesses moldes: “funky”, dançante e introdutório. A composição ficou pronta na quinta, no sábado já estava no estúdio gravando, no domingo o arranjo estava pronto.”

“Essa é outra grande novidade dessa onda, sinto que o nível de elaboração mudou”, ele continua falando sobre a nova fase. “Hoje em dia penso mais no todo que nas partes, ainda que as tenha em perspectiva a todo momento. Imagino a obra, mais do que as músicas em si. Acho que é a maneira que encontrei de lidar com o esquema neo-liberal repetido à exaustão para e por todos nós em todos os aspectos de nossa existência, e que consequentemente coloniza nossa subjetividade, artística ou não. Entendi que faço obras de arte ao invés de lançamentos, que essa é a minha vida e não minha carreira, é a partir daí que quero construir esse outro caminho a partir de agora.”

Ele não tem previsão de shows ou do lançamento do disco. “Pra mim, show é um lance super delicado e trabalhoso, que demanda recursos que no momento não estão ao meu alcance, quero apresentar esse ‘outro estar’ da melhor forma possível”, segue confabulando. “O disco também é uma pergunta sem resposta. Ele existe, só precisa ser gravado e ainda não sabemos como ele vai acontecer. Mas é fato é que vai acontecer e que será maravilhoso.”

Começando bem assim, não duvido.

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