Um golpe ao som do jazz

, por Alexandre Matias

É uma pena que o melhor filme desta temporada não esteja recebendo a devida atenção. Mais do que Anora, Conclave, Brutalista, Babygirl, Nosferatu, Substância, A Verdadeira Dor, Nosferatu e até Ainda Estou Aqui, o inacreditável Trilha Sonora para um Golpe de Estado, com suas duas horas e meia de duração, é sessão obrigatória para quem gosta de cinema, música e política – e para quem quer entender o estado das coisas do mundo atual. Escrito e dirigido pelo multiartista, curador e diretor belga Johan Grimonprez, é uma aula de história política internacional, que mira no coração da África no auge da Guerra Fria (especificamente a partir da independência do Congo) para falar sobre como a política cultural dos EUA ajudou a aumentar as tensões políticas do país depois que este livrou-se da Bélgica para, como diz seu título, dar um golpe de estado (como é de praxe na política estadunidense). O que transforma este documentário numa aula eletrizante é a forma como Grimonprez usa o elemento cultural da vez – a outra parte do título, a trilha sonora – para dar uma dinâmica de tirar o fôlego para sua história, usando o melhor jazz norte-americano, personificado em ícones como Louis Armstrong, Dizzy Gillespie, Nina Simone, Miriam Makeba, John Coltrane, Duke Ellington, Charles Mingus, Ornette Coleman, entre inúmeros outros, para dar um ritmo à edição de cenas, que em sua enorme maioria, são imagens de arquivo – e reunindo alguns dos principais nomes da política internacional do período, de Fidel Castro a Malcolm X. Poucas imagens foram captado para a realização do documentário, a enorme parte das imagens são cenas e falas que já existiam, ordenadas de uma forma magistral, intercalando trechos com imagens e textos (além de dois flashes curtos, quase comerciais sobre o século 21 que parece ter começado a partir daquela exploração colonial) e começando e terminando o filme com a cantora Abbey Lincoln e o baterista Max Roach liderando uma invasão no Conselho de Segurança da ONU para protestar contra o assassinado do primeiro ministro Patrice Lumumba. É muito foda.

Assista ao trailer abaixo:

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