O novo projeto de David Lynch é um disco da atriz Chrysta Bell

E ao que tudo indica, o anúncio que David Lynch agendou para este cinco de junho não é de uma obra propriamente sua, já que parece antecipar apenas o novo disco da cantora e atriz Chrysta Bell, produzido pelo próprio Lynch. Cellophane Memories é o sexto disco da cantora norte-americana, que conheceu Lynch em 1998 e só foi colaborar com ele quase dez anos depois, quando o diretor incluiu uma parceria dos dois na trilha sonora de seu Império dos Sonhos. Depois, em 2011, Lynch produziu um disco em parceria com ela (This Train), em que a cantora musicou seus poemas, colaboração que continuou quando ela cantou “Sycamore Trees”, da trilha de Twin Peaks, na abertura de uma mostra australiana em homenagem ao diretor em 2015, chamada David Lynch: Between Two Worlds, e depois no EP Somewhere in the Nowhere, em 2017. Seus discos seguintes foram produzidos por John Parish e Chris Smart, mas a parceria com Lynch continuou quando ele a convidou para participar da terceira temporada de Twin Peaks fazendo o papel da agente do FBI Tamara “Tammy” Preston. O novo disco de Bell, que agora assina Chrystabell, é mais uma parceria com Lynch e será lançado no dia 8 de agosto e um link para o serviço de streaming da Apple na Nova Zelândia acabou entregando que o disco será anunciado nessa quarta-feira, provavelmente com o anúncio do primeiro single, que parecer ser a última faixa do disco, “Sublime Eternal Love”. Além da data de lançamento, também apareceram a capa do disco, o nome das músicas e um link com o áudio do primeiro single, que mantém aquele climão típico das cenas de encerramento de alguns episódios-chave da série. Resta saber se o single terá um clipe e se este será dirigido por Lynch, que prometeu na semana passada que algo que estava vindo para ser visto e ouvido. A capa do disco, o nome das músicas, Bell cantando “Sycamore Trees” e o link para “Sublime Eternal Love” podem ser vistos abaixo:  

Piper Laurie (1932-2023)

A atriz de 91 anos que morreu neste sábado começou sua carreira na era de ouro de Hollywood fazendo papel de garota inocente ao lado dos galãs da época, como Ronald Reagan, Rock Hudson e Donald O’Connor, até ganhar sua primeira indicação para o Oscar de melhor atriz ao contracenar com Paul Newman em Desafio à Corrupção, de 1961. Após isso, ela aposentou-se do cinema por considerar que sempre fazia o mesmo papel, até retornar às telas nos anos 70 vivendo outros tipos de personagem, como a mãe da protagonista do filme Carrie – A Estranha (1976), de Brian de Palma, em sua performance mais intensa, que lhe rendeu mais uma indicação, agora de atriz coadjuvante, para o Oscar. O retorno lhe garantiu outros papéis memoráveis, em especial no filme Filhos do Silêncio (1986), que lhe valeu outra indicação para o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Quatro anos depois, estrearia na TV vivendo a executiva Catherine Martell, na série Twin Peaks.

Cinco anos depois do inacreditável Episódio 8 da terceira temporada de Twin Peaks

Lembro-me como se fosse hoje: há cinco anos eu chegava do show das Rakta no festival PikNik, em Brasília (que inclusive acontece neste fim de semana), e sintonizava, como toda madrugada de segunda, no oitavo episódio de Twin Peaks. Ninguém estava preparado para o que David Lynch mostrou naquele 25 de junho de 2017. Depois de puxar um fio da meada em que a versão do mal do Agente Cooper passa por outra transformação – e por uma música gigantesca do Nine Inch Nails ao vivo -, o cineasta joga a história do entretenimento para junto da vídeo-arte, quebrando de vez a fronteira entre a televisão e a pós-modernidade. Fiquei tão impactado que assisti ao mesmo episódio pela segunda vez e escrevi um texto no blog que tinha no UOL na época ainda na madrugada, texto que reproduzo abaixo.  

“Dreams of loneliness like a heartbeat drives you mad…”

Agora é a vez de Kyle Kyle MacLachlan encarnar o agente Cooper e levar boas vibrações do Fleetwood Mac para Twin Peaks…

“Diane…”

O verdadeiro significado de Twin Peaks

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Em uma análise em vídeo de quatro horas e meia duração, o youtuber Rosseter, do canal Twin Perfect, dissecou toda a extensão de Twin Peaks numa análise de tirar o fôlego. Antes mesmo da terceira temporada ter sido lançada, ele já havia traçado pontos em comum entre os mistérios das duas primeiras temporadas e do filme dirigido por David Lynch, Os Últimos Dias de Laura Palmer, apenas para perceber que, com a nova safra de episódios, ele tinha razão em sua análise: Twin Peaks é um comentário que David Lynch faz sobre a banalização da violência na televisão e como ela tem nos deixado menos sensíveis e mais rudes, como espectadores e cidadãos. O vídeo, em inglês, merece ser revisto mais de uma vez, tamanha a complexidade da análise e dos acertos levantados pelo youtuber:

De quebra, o podcast Twin Peaks The Return: A Season Three Podcast entrevistou-o sobre sua pesquisa, onde ele dá mais detalhes sobre a busca e como fez para chegar em alguns pontos mais importantes deste longo e valioso ensaio audiovisual.

Feliz natal!

Como assim, quarta temporada de Twin Peaks?!

“Está acontecendo de novo!”

twinpeaks

Começou com um tweet nostálgico de David Lynch, lembrando do lugar onde filmou sua clássica série, no meio do mês passado:

“Caros amigos do Twitter, eu amo as pessoas em King County. Amo as locações em King County. Arrumamos um lugar perfeito para filmar Twin Peaks e as pessoas perfeitas para trabalhar com a gente. Tanto Dow Constantine quanto Kate Becker são ótimos! No fim das contas, isso tornou filmar Twin Peaks ali um sonho.”

Mas daí que, no dia 29 de setembro, surge este tweet do Hollywood Horror Museum, que dizia:

“Alguém que nós conhecemos que ‘está por dentro’ deixou escapar algo bem interessante sobre o futuro de Twin Peaks. Se for verdade, estaremos rindo e excitados com 2020!”

E continuava:

“Não queremos meter ninguém em apuros (apenas por ser estúpido o suficiente para nos contar!). Então não podemos falar mais até que ELES falem, mas isso não é só um boato.”

E mais:

“Tudo que podemos dizer é que as pessoas que cuidam disso estão preparando algo grande pra 2020. Até que elas falem disso, teremos que ficar quietos.”

Não custa mencionar que filha de Lynch, Jennifer, faz parte do conselho deste museu do horror em Hollywood, Los Angeles. No dia seguinte, dia 30, o ator Michael Horse, o xerife Hawk, publica uma foto de seu personagem nos anos 90 vendo um pedido para manter silêncio em sua conta no Instagram.

E no dia seguinte, dia 1° de outubro, Kyle MacLachlan, o eterno Agente Cooper, twitta o seguinte:

“Amo este terno elegante, mas estou pensando em donuts nesta manhã.”

Neste domingo, dia 6 de outubro, completam exatos cinco anos que David Lynch e Mark Frost anunciaram a terceira temporada de sua série, algo que era considerado impossível e inconcebível e se revelou a grande obra de arte do século 21 até agora. Será que veremos a quarta temporada em 2020? Um filme? Uma versão em realidade virtual? Ou em ASMR? Ou é só um truque pra vender mais uma edição deluxe do Blu-ray?

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ESTÁ ACONTECENDO DE NOVO!? SERÁ POSSÍVEL?

17 de 2017: 12) Twin Peaks

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A grande obra de 2017 foi a inesperada e inacreditável terceira temporada de Twin Peaks, negação da nostalgia da série antiga, talvez a grande obra (e epitáfio final?) de David Lynch e ainda mais revolucionária que a primeira vinda. Com seu final estarrecedor, a volta do agente Cooper à cidade que lhe deu fama foi a viagem mais pesada e psicodélica do ano. E quem embarcou junto com ele sabe que o estrago deste filme de dezoito horas vai ser sentido durante todo o século. Uma obra-prima.

Os melhores filmes de 2017

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O UOL reuniu seus colaboradores para escolher as melhores produções do ano – e estes são os meus cinco escolhidos:

1) Twin Peaks: O Retorno
A terceira temporada da série que moldou a atual era de ouro da televisão faz o caminho inverso e ergue-se como um ousado e ambicioso filme de 18 horas, que certamente já mudou os rumos da produção audiovisual deste século. Se foi vaiado em Cannes há vinte e cinco anos ao lançar seu então incompreendido Os Últimos Dias de Laura Palmer (um de seus filmes mais aterradores e consistentes, além de peça-chave na versão 2017 de sua obra-prima), David Lynch dá o troco ao estrear uma produção de emissora de TV com distribuição via Netflix no mesmo festival francês, numa obra que critica inclusive os efeitos colaterais da nostalgia e dos remakes na produção cultural atual. E como não amar o agente Cooper?

2) Corra!
Um filme de terror em que o monstro não é sobrenatural e que coloca o racismo como uma psicose social tão assustadora quanto a dos piores serial killers, Corra! tem camadas e camadas de entendimento e percepção e consegue fundir diferentes gêneros cinematográficos para criar uma obra que é ao mesmo tempo leve e divertida quanto pesada e perturbadora.

3) No Intenso Agora
João Moreira Salles continua dissecando a própria biografia para expor os contrastes e contradições de nossos tempos, desta vez com foco em como o ano de 1968 aconteceu em diferentes partes do mundo. Não é tão brilhante quanto seu Santiago, lançado há dez anos e talvez sua obra-prima, mas fala tanto sobre as expectativas e frustrações dos anos 60 quanto o momento político e social que vivemos hoje.

4) Em Ritmo de Fuga
Edgar Wright esmera-se ao derrubar barreiras entre gêneros cinematográficos, fundindo comédia, filme de ação, musical, policial e romance em seu melhor filme, provando que já se apropriou do bastão cinematográfico inglês que um dia foi de Danny Boyle. E o novato Ansel Elgort prova que é mais do que um ator juvenil em ascensão.

5) Blade Runner 2049
Denis Villeneuve conseguiu fazer o impossível três vezes: materializou a tão aguardada continuação do épico de Ridley Scott, tornou-a palatável e ao mesmo tempo tão complexa quanto a produção original e ampliou a estética de cores frias e ambientes fechados para tomadas amplas a céu aberto com cores quentes. Não é, no entanto, nem de longe a melhor ficção científica do século (título que ainda é de Filhos do Amanhã, de Alfonso Cuarón, de 2006) nem seu melhor filme (A Chegada, do ano passado, é muito mais ousado e mais intenso), embora mantenha o legado do Blade Runner original intacto.

A relação completa com todos os filmes do ano escolhidos pelo UOL está aqui.

O porquê de Dougie Jones

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O podcast Now It’s Dark discute sobre o papel do terceiro alter ego de Kyle MacLachlan no novo Twin Peaks.

O sentido de Twin Peaks 2017

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Mike e Tim do podcast de cinema Now It’s Dark comentam sobre a terceira temporada de Twin Peaks como uma crítica à decadência cultural norte-americana.