Tudo misturado

, por Alexandre Matias

Dodô esteve na Gente Bonita, viu com seus próprios olhos e conta como foi…

O Resgate do Soldado Óbvio

A gente faz festa pra gente dançar, né? Para gente se divertir, né?E a gente dança e se diverte quando a música é dançante e divertida, né? Timbaland é dançante e divertido, né? Jorge Ben é dançante e divertido, né? Polytechnic é dançante e divertido, né? Bullet Proof é dançante e divertido, né? Led Zeppelin é dançante e divertido, né? Né? Né? Né?

É Óbvio, né?

Então porque as pessoas têm que, para dançar e se divertir ao som de Timbaland, Jorge Ben, Polytechnic , Bullet Proof e Led Zeppelin em lugares como São Paulo, Londres, Paris, Tokyo e Nova Iorque tem que ir ao clube de hip-hop pra ouvir o Timbaland, ao clube de música brazuca pra ouvir Jorge Ben, ao clubinho indie pra ouvir ao Polytechnic, a uma balada Psy-Trance pra sacudir ao som do Bullet Proof ou para um clube de mecânicos de Harley-Davisons para curtir o Led Zeppelin?

E se dá vontade de um Stevie Wonder? Uma pilha de Nação Zumbi? Uma saudade de The Cure? O que a gente faz? Passa 15 minutos em cada clube numa noite? Gasta essa grana toda?

Porque quanto mais cosmopolita a cidade, mais provincianos são seus hábitos de diversão? Porque isso de não poder Psy-trance com indie, Jorge Ben com Led Zeppelin? Se é óbvio que isso tudo é dançante, divertido e você sai a noite pra… dançar e se divertir?

Porque o cosmopolitismo é uma guerra. De um lado, estímulos midiáticos pra se comportar assim. Do outro, semioticidades dizendo que o bacana é se comportar assado. Perdido, feito cego no tiroteio, está o nosso pobre Private Óbvio.

Sábado desses fui do RJ que, por causa do mar, é provinciano e por isso com hábitos de diversão cosmopolitas, onde o mais fácil é você encontrar festas que tocam de PJ Harvey a Nina Simone, até São Paulo, zona de guerra, ver como o Matias, Alexandre Matias, que dispensaria ser linkado aqui se apenas paulistanos estivessem lendo este post, estava se saindo com essa missão: O Resgate do Soldado Óbvio.

A São Paulo para o 1o evento de Lançamento de livro – o DJ Pessoal – e tocar em…

Sua festa, Gente Bonita em Clima de Paquera, atraíu, de ínicio, patricinhas de verdade. Elas estavam atrás de Gente Bonita e do Clima de Paquera. Algumas, assustadas com o despojamento do clube e dos frequentadores da festa como ela de fato é, nunca mais voltaram. Outras, seduzidas pelo canto da sereia, tornaram-se habitués.

O Canto da Sereia, o grito de “James Ryan! James Ryan!” do Matias são os mashups. Cristina Aguilera cantando sobre base de Sonic Youth. Britney Spears sobre a base dos Beastie Boys. Remix do Maximo Park. Tudo misturado.

Tudo misturado.

Toquei a primeira hora: Jackson 5, Pixies, Justin Timberlake e Artic Monkeys. E pela primeira vez vi em São Paulo, na pista, pessoas peladas. Nada de roupa de indie, nada de roupa de mano, nada de roupa de patricinha. Todo mundo nu. Procurando diversão e dança. O óbvio estava lá, seguro. E a fila dobrava o quarteirão.

Duas da manhã pedi um drink que era um mashup de Screwdriver com Frozen Margarita. Nessa hora, na pista, estava todo mundo, misturado, dançando um drink, uma batida de Nelly Furtado com Michael Jackson e, se não me engano, uma dose de Amarulla.

No banheiro unissex, um mashup de homens e mulheres.

Um grupo de pernambucanos massa comemorava o aniversário de uma amiga querida. Diversão: o óbvio. O técnico de som paulistano se oferecia pra ajudar com a desinstalação do meu computador. Profissionalismo: o óbvio. Matias, natural de Brasilia, perguntava se eu estou bem, à vontade, coisa e tal. Educação: o óbvio. Eu respondia em carioquês. Mashup de sotaques. Em São Paulo, o óbvio do óbvio.

O Mashup é uma arma para a guerra paulistana. E hoje, finalmente influenciadas pela linha editorial do Gente Bonita, são vários os DJs e clubes pela cidade que se juntaram à causa. Morte aos cães infiés que esqueceram o soldado Óbvio no meio do fogo cercado do faça isso e nunca fique pelado, mantenha a distância daquilo e vista um cachecol. Ao tentar acabar com uma atitude de comportamento paulistano, Matias e compania criaram algo ainda mais paulistano. Talvez a coisa mais paulistana que eu tenha visto desde os anos 00.

Este texto é um mashup. Vocês, claro, notaram. Óbvio. Por causa do mar. À vontade, coisa e tal. Imaginem quando os DJs começarem a fazer mashup de Caetano com M – Kraft, de Clementina com Bjork? No banheiro unissex, sotaques, clima de paquera, uma pilha de Nação Zumbi, uma saudade de The Cure, e hoje, finalmente, dançando Marguerita. Nu, carioquês e de cachecol. “Nina!”, “Nina!”, seduzida pelo canto

Se você pede um drink novo e nota que ela

Fogo

Música

Noite

pra… dançar e se divertir? Ao tentar acabar

Notaram.