Tricky finalmente no Brasil

, por Alexandre Matias

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Conversei com o Tricky, um dos papas do trip hop, que finalmente põe os pés no Brasil durante o festival paulistano Nublu, que acontece neste fim de semana no Sesc Pompéia. Confira a entrevista lá no meu blog do UOL: http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/03/28/tricky-como-antidoto-ao-lollapalooza/

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Se você não tem pique nem paciência para encarar as dezenas de horas e artistas que desfilam pelo Lollapalooza Brasil neste fim de semana, uma alternativa de porte menos adolescente é o Nublu Jazz Festival, que chega a sua quinta edição neste fim de semana, com apresentações em unidades do Sesc em São Paulo (no Sesc Pompeia) e em São José dos Campos.

O Nublu é um pequeno clube de jazz em Nova York que realiza festivais itinerantes na cidade, em São Paulo e em Istambul na Turquia, cidade-natal de seu seu dono, o saxofonista Ilhan Ersahin. Ele é o idealizador do evento que reúne titãs do groove do passado e novos talentos da música brasileira. Em edições anteriores desfilaram, lado a lado, nomes como Headhunters, o DJ Nuts, a Sun Ra Arkestra, Tulipa Ruiz, o trio Marginals, o baterista Karriem Higgins, Kassin, Guizado, Roy Ayers e o Marcos Paiva Sexteto, além dos projetos de Ersahin, como Love Trio e Wax Poetics.

A grande atração deste ano, no entanto, não vem propriamente do jazz. Desconhecido pelo seu próprio nome, Adrian Thaws é um dos pioneiros da cena de música urbana negra que começou a despontar em Bristol, na Inglaterra, no final dos anos 80. Entre o início do jungle e um hip hop cada vez mais desacelerado, com acento no jazz e funk dos anos 70 e larga reverência à toda a música jamaicana, esta cena deu origem ao soundsystem Wild Bunch que, influenciado pela nova cena dance do segundo verão do amor londrino, virou o Massive Attack. Adrian começou a rimar e participou do primeiro disco do Massive Attack, o clássico Blue Lines, de 1991. À época ele já assinava seus trabalhos como Tricky.

No ano seguinte deixou o Massive Attack e em 1995 lançou seu primeiro disco, Maxinquaye, batizado a partir do nome de sua mãe, e atingiu o nível dos mestres, fechando, ao lado do Massive Attack e do Portishead, a santíssima trindade do trip hop. O gênero, que evolui da desaceleração da acid house dos anos 90 e da absorção de referências mais orgânicas serviu como contraponto à cada vez mais veloz música eletrônica daquela década.

Vinte anos depois de Maxinquaye, Tricky finalmente chega ao Brasil, um ano após lançar um disco batizado com seu próprio nome, o festejado Adrian Thaws. “Sempre quis ir para o Brasil e algumas vezes quase fui”, me conta em entrevista por email. “Eu tenho muitos amigos que estiveram aí e me dizem que é um lugar incrível, por isso estou realmente animado de conhecer e descobrir. Não tenho nenhuma expectativa, série, só quero eu mesmo ver, sabe.” Uma ponte já foi feita, pois o rapper regravou a canção “Something in the Way”, que havia gravado com Francesca Belmonte no ano passado, com a brasileira Mallu Magalhães. Ele comentou sobre a parceria e seu último disco, entre outros assuntos, na entrevista abaixo.

Seu último disco tem seu próprio nome.
Sabe, eu venho usando o nome Tricky por anos e meu primeiro disco foi lançado com o nome da minha mãe, então é como se eu fechasse um ciclo, voltasse ao começo. Tirei cinco anos de folga quando fui morar em Los Angeles, então estou de volta agora. É como se fosse o próximo capítulo. Maxinquaye me pariu e também pariu a minha carreira, porque foi a base de toda a minha carreira. Minha mãe me deu, Adrian Thaws, a luz, e com isso eu fecho o ciclo e começo o segundo capítulo.

Como serão seus shows no Brasil?
Todo tipo de música, velha, nova, um pouco de tudo. Sou eu, minha vocalista Kamila Bleax, um baterista e um guitarrista.

Você gravou uma música com a Mallu Magalhães. Vai gravar mais algo com ela?
Sim, eu adoraria. Ela tem uma voz incrível. É tão… delicada. Uma voz linda. Desta vez ela me mandou os vocais, mas eu adoraria ir para o estúdio com ela. Seria ótimo.

O que você gosta na música pop atual?
Sabe, tudo é muito comercial. Mas tem um cara, Sam Smith. Eu não curto essa música muito comercializada, mas Sam Smith está trazendo a música pop de volta, dando um nome ao pop. Ele não é um Sam Cooke, não me entenda mal, não é um Bob Marley, nada desse tipo, mas ele tem canções lindas. Ele é bom para o pop, acho. Prefiro ele que o Justin Timberlake.
Eu escuto muito hip hop velho, quase nada novo. Muito do hip hop atual é música pop e eu não curto isso. Sabe, quando escuto hip hop eu não quero ouvir pop. Eu não quero ouvir o 50 Cent. Eu ouço hip hop underground, ou mais hardcore. Nunca gostei de música pop.

E como você escuta música atualmente?
Eu escuto CDs ou ouço no YouTube, com fones de ouvido. Quando escuto música, tenho que ouvir muito alto – ou com fones. Não tem meio-termo. Música pra mim é como uma conversa, é uma coisa muito pessoal.

E o que você tem achado deste novo cenário da música digital?
É bom, mas também é ruim. Por exemplo, se as pessoas baixam música de graça. Sabe, tem gente que não entende, mas é assim que você tira seu sustento, como você consegue fazer sua música. As pessoas deviam ao menos apoiar isso. Sabe, podem até baixar músicas de graça, mas então apoia de alguma outra forma, compra algumas músicas no iTunes ou coisa do tipo, sei lá…
As pessoas deviam apoiar mais os artistas. Eles têm a ilusão que os artistas estão ganhando dinheiro o tempo todo. Quer dizer, se você é enorme, você ganha sim. Mas aí, pra começar, você tem que que tocar no rádio. Eu não toco no rádio, não sou milionário nem nada. Se quiser baixar de graça, baixa a Madonna. Não é um grande problema pra ela, ela tem tanto dinheiro que não precisa. Mas artistad como eu, que colocam tudo em seu próprio trabalho, acho que deveriam ser apoiados.

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