Três bandas em ponto de bala

, por Alexandre Matias

Foi lindo o Inferninho Trabalho Sujo que fiz com a Porta Maldita nessa sexta-feira na Casa Rockambole. A ideia, que começou como uma oportunidade de fazer um grande evento para o lançamento do disco de estreia da banda Boca de Leoa, evolui para um encontro de três bandas promissoras da nova cena de São Paulo, todas engatilhando momentos distintos de suas carreiras, mas sempre espalhando uma vibe alto astral e dançante durante todos os shows. A noite começou com uma apresentação precisa da Tietê, usina de som que mistura elementos jamaicanos, paulistanos, latinos e outras groovezeiras e que ainda adia o lançamento de seu segundo álbum, gravado desde o ano passado – e que, em tese, sai ainda em 2025. O entrosamento dos músicos é patente e embora não haja uma liderança musical, o grupo gira em torno do pulso determminado pela baterista e vocalista Rubi e pelo carisma e versatilidade da vocalista e saxofonista Dodó. As duas impulsionam o volume de som do resto da banda, que atravessa o público como um trator grooveado em câmera lenta e acaba de anunciar seu primeiro show num Sesc, quando tocam, no próximo dia 11, no Sesc Belenzinho.

Depois foi a vez das estrelas da noite mostrarem que não estão pra brincadeira. É incrível a desenvoltura e a solidez musical mútua da Boca de Leoa, algo que só se constrói com muito show, trabalho que elas vem fazendo sério há uns dois anos. E mesmo felizes por estar lançando seu No Canto da Boca em grande estilo, é possível perceber o quanto elas já evoluíram em relação à banda que gravou o disco no ano passado – e sua química conjunta é tão empolgante quanto a postura individual de cada uma delas: Be Cruz está esmerilhando na bateria, sempre mantendo o pulso firme que conduz o grupo, a baixista Duriu traz peso e leveza aparentemente contraditórias ao seu instrumento, enquanto Nina Goulios nasceu para ser guitar heroine e Duda Martins domine o público com seu carisma inabalável e vocal que ainda está mostrando sua força. Elas ainda contaram com participações especiai, quando tiveram Rubi e Dodó da Tietê tocando percussão e sax em várias músicas, chamaram o flautista Vitor de Biagi e o acordeonista Pedro Zatz para acompanhá-las em outras e até mostraram uma música nova – um rock (!) composto dois dias atrás que fez o público abrir uma improvável roda de pogo. Ao convidar Luíza Villa, da Orfeu Menino, para o bis (que contou com todas as outras participações especiais), usaram seu primeiro hit “Vem Moreno” como uma forma de transformar a Casa Rockambole em uma quadrilha junina. Showzaço que mostra que elas estão só começando.

E a noite fechou com o melhor show da Orfeu Menino até hoje. Além de composições novas e uma única versão para música alheia (“Tudo Joia”, do Orlandivo, que só surgiu porque o público pediu bis), ainda contou com a transformação do tecladista Pedro Abujamra em showman, que saiu de trás do seu instrumento para brincar com a plateia sem deixar o groove cair. A cozinha formada por Tommy Coelho e João Ferrari segue tanto firme quanto dançante, enquanto o guitarrista João Vaz, que entrou para a banda no início do ano, pinga gotas de rock e blues no mapa musical de jazz brasileiro e MPB dançante dos anos 70 do grupo completamente à vontade. À frente de todas, o furacão Luíza Villa, explodindo seu vocal arrebatador, seu corpo performático numa eterna dança e seu carisma inabalável para deixar o público enlouquecido. Todas essas qualidades se juntaram ao humor inerente dos cinco na inédita “Hondureña”, irresistível música caricata latina em que Luíza encarnou uma aeromoça em portunhol conduzindo o público para uma utopia caribenha enquanto tocava um agogô que por vezes soava como um cowbell, outras caía pro groove, que ainda teve Abujamra conduzindo uma “cuenga humana” com o público, colocando-o para dançar numa fila em plena Rockambole, encerrando a noite com o astral lá em cima. Noitaça.

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