Tony Sheridan (1940-2013)

Tony Sheridan

Se você não conhece a obra musical ou mesmo nunca tinha ouvido falar no nome de Tony Sheridan, que morreu neste sábado, na Alemanha, aos 72 anos, não se culpe. Ele é um dos inúmeros personagens das milhares notas de rodapé na carreira dos Beatles. Roqueiro inglês no final dos anos 50 – quando isso era um espécime raro, ainda mais na Inglaterra -, Tony foi conseguir consolidar uma carreira quando mudou-se para a Alemanha, tocando rock nos puteiros de Hamburgo com a banda que conseguia reunir. Conhecido pela falta de profissionalismo (chegava tarde, bêbado, sem a guitarra, faltava…), no entanto, ele conseguiu uma certa fama naquela vida noturna a ponto de uma gravadora investir em sua carreira num disco. E quando precisou de músicos para tocar como sua banda, chamou a banda de uns certos adolescentes de Liverpool que estavam também fazendo sucesso naquela zona alemã. Mas como o nome dos Beatles lembrava a palavra “pidels” (o plural para “pau”, em alemão), Sheridan os apresentou como Beat Brothers. Juntos, gravaram quatro músicas: “My Bonnie”, “The Saints”, “Ain’t She Sweet” (com vocal do John Lennon) e “Cry for a Shadow” (esta última instrumental e de autoria dos Beatles). Só as duas primeiras foram lançadas em um compacto que é o primeiro registro gravado da história dos Beatles. Eis o grande trunfo histórico do homem que morreu neste sábado: ele estava na primeira sessão dos Beatles em estúdio que foi lançada comercialmente. Não é o caso de sair acendendo vela, vestindo luto nem baixando torrent com discografia. Ouça as músicas abaixo:

 

O disco dos Beatles com o Tony Sheridan e o início do cinquentenário dos anos 60

Muitos já devem ter se ligado que, nos próximos dez anos, vamos começar a rever toda a mítica década de 60 em forma de documentários definitivos edição 50 anos. Talvez seja a última grande chance de presença que os protagonistas daqueles dez anos mágicos tem de voltar ao imaginário coletivo. E puxando essa tendência, inevitavelmente, vêm os Beatles, cuja primeira gravação cinquentenária volta às prateleiras de disco – as gravações que o grupo fez em Hamburgo, como banda de apoio do ilustre desconhecido Tony Sheridan. O disquinho tem pérolas com essas:

E isso é só o começo… Os anos 60 começam pra valer a partir de “Love Me Do”, que é do final de 62 (embora alguns localizem esse começo também na Inglaterra, mas no Profumo Affair e outros ainda, claro, no assassinato de Kennedy) – e aí aguente uma saraivada de documentários e caixas de discos e shows e sites especiais e perfis no Facebook e coleções deluxe e capas de discos e peças de teatro e exposições sobre cada um dos discos – compactos inclusive – dos Beatles, só pra começar…

Talvez o cinquentenário dos anos 60 venha ser o último suspiro da mídia física, da cultura enquanto produto táctil à venda – ou pelo menos nos parâmetros dos últimos 50 anos.