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A benção, Tom Zé!

“Ninguém me retira do Bom Retiro!”, Tom Zé começou o show que deu nesta quinta-feira celebrando o bairro em que a unidade do Sesc onde se apresentou fica instalada. Para receber a quase nonagenária lenda viva da música brasileira – o baiano acaba de completar 89 anos! -, o Sesc Bom Retiro preferiu fazer o show fora de seu teatro fechando a área livre da unidade para comportar mais gente, num espetáculo cujos ingressos esgotaram-se rapidamente. E a alegria contagiante do protagonista da noite começou quase instantaneamente, mesmo que tenha preferido ir de forma comedida, chamando um novo músico a cada nova música no início da apresentação. Mesmo em apresentações mais intimistas (quando dividiu “A Boca da Cabeça” apenas com o guitarrista Daniel Maia e depois quando fez “Curiosidade” com Andréia Dias, que está cantando na banda do mestre). Quando toda banda subiu no palco, pode passear, sem regras pré-estabelecidas, diferentes fases de sua carreira, emendando “Nave Maria” com “Jimmy Renda-se”, “Um ‘Oh!’ e Um ‘Ah!’” com “Jingle do Disco”, sua “2001” composta com Rita Lee com “Tô” e “Hein?” com “Politicar”. O público, boa parte formada por fãs de Tom, não fez cerimônia e fez coro em várias músicas, deixando Tom Zé à vontade para colocar todo para cantar. E dançar! Tão empolgante quanto vê-lo sorrindo enquanto canta é notar como Tom Zé mexe com seu corpo continuamente, sempre entregando-o à música, fazendo a própria dança parte de sua sonoridade. A idade pareceu pedir para encurtar o show antes da hora, mas Tom Zé voltou animado para um bis não apenas como uma, mas duas músicas, quando emendou a envolvente “Xique-Xique” com a implacável “Parque Industrial”, uma música que parece fazer ainda mais sentido em 2025 do que no ano em que foi lançada, 1968. A benção, Tom Zé!

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E se o Tom Zé tocasse com o Tortoise 25 anos depois?

Já garantiu seu ingresso pro show de 25 anos do TNT que o Tortoise irá fazer nesta quinta-feira no Cine Joia? Se não, deu mole: os ingressos estão esgotados! Resta saber se o grupo de Chicago convidará para a apresentação o velho mestre com quem dividiu palcos há um quarto de século, quando apresentou-se, primeiro nos EUA e depois no Brasil ao lado de Tom Zé. O velho tropicalista vivia o ápice de sua popularidade após ser redescoberto por David Byrne no início dos anos 90 quando foi apresentado ao Tortoise por um amigo do grupo, o professor Christopher Dunn, da Universidade de Louisiana, nos EUA, que na época escrevia um livro sobre música brasileira. Levou o baiano, que na época estava lançando o disco Com Defeito de Fabricação, para os EUA e uma das apresentações está na íntegra no canal do YouTube do próprio Dunn (assista abaixo). Depois da passagem pelos EUA, o grupo de Chicago veio para a América Latina e além de shows por Buenos Aires e Santiago, também passou por Belo Horizonte e São Paulo, quando dividiu o palco com Tom Zé. Pude assistir às duas apresentações realizadas em dezembro de 1999 no teatro do Sesc Pompéia e foram momentos únicos para quem gosta de música, independente de rótulos, uma vez que o grupo de jazz rock experimental norte-americano entrosou-se bem com o mestre de Irará, que tocou um esmeril usando capacete e óculos de seguraça enquanto as faíscas espalhavam-se pelo palco. Bem que o Tom Zé podia subir no palco do Cine Joia por apenas uma música, celebrando aquele primeiro encontro.

Assista à íntegra do show em Chicago abaixo:  

Ave Tom Zé!

Não consegui assistir à estreia de Tom Zé na Casa de Francisca no mês passado, mas felizmente (e graças a um bem-vindo ingresso em cima da hora, valeu Leoni!) pude ver o mestre em ação num dos palcos mais emblemáticos da cidade nesta quinta-feira, em sua segunda aparição num dos palcos mais emblemáticos de São Paulo. E como o mestre baiano cai bem naquele lugar. Mais à vontade do que na média de seus shows, ele aproveitou a intimidade com o público para esticar longas conversas sobre assuntos mais diversos entre – e às vezes durante – suas músicas. Sem um show recente específico, Tom Zé passeou por pérolas de seu repertório que passeiam tanto por clássicos de sua discografia quanto discos mais recentes, acompanhado da mesma banda que reuniu depois que conseguimos sair do pesadelo da pandemia, com o guitarrista Daniel Maia, a tecladista e vocalista Cristina Carneiro, o baixista Felipe Alves, o baterista Fábio Alves e a vocalista Andreia Dias, todos atentos ao velho mago entre suas estrepolias e causos contados no palco. Ele abriu o show lembrando do desfile do bloco de carnaval em sua homenagem, o Abacaxi de Irará (e cantou a música que deu origem ao nome do bloco), que sai neste sábado e aproveitou para lembrar histórias do tempo em que sua cidade tinha só três mil habitantes, enquanto percorria por pérolas como “Hein?”, “Não Urine no Chão”, “Jimi Renda-se”, “Xique-Xique”, “Tô”, “2001”, “Não Tenha Ódio no Verão”, “Jingle do Disco”, “Menina Amanhã de Manhã”, “Aviso Aos Passageiros”. “Politicar” e “Amarração do Amor”, antes de reverenciar Adoniran Barbosa em duas músicas que diz ter se inspirado no clássico sambista paulistano, “Augusta, Angélica e Consolação” e “A Volta do Trem das Onze”, e nesta última Tom Zé puxou uma longa conversa sobre sua infância e sobre a ausência de ferrovias no Brasil. Sério e austero quando começava a falar, parecia estar passando um pito no público que só queria se divertir, mas logo em seguida derretia-se em gingado e sorrisos assim que começava a cantar, uma usina de energia que o tempo todo nos faz esquecer que ele está com quase 90 anos de idade. Um patrimônio vivo da cultura brasileira. Ave Tom Zé!

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Assista abaixo:  

Os 50 melhores discos de 2022 segundo o júri de música popular da APCA

Eis a lista com os 50 melhores álbuns de 2022 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do qual faço parte. A seleção reflete o quanto a produção musical brasileira ficou represada nos últimos anos e esta seleção saiu de uma lista de mais de 300 discos mencionados por mim e pelos integrantes do júri, Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Eis a lista completa abaixo:

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