Beefheart – e outros – sobre Beefheart

“Ouçam, quietos, prestem atenção à música deste homem. Por que senão, poderão estar perdendo algo importante”
Frank Zappa

“Eu posso estar com fome, mas com certeza não sou esquisito”
Don Van Vliet

“A densidade convulsiva de ‘Flash Gordon’s Ape’, em Lick My Decals Off, Baby literalmente me assustava – até que eu fiz a conexão com o processo de compreensão e libertação codificados no caos magnífico do disco Free Jazz de Ornette Coleman e do solo de guitarra de Lou Reed em ‘I Heard Her Call My Name'”
David Frickle, editor da revista Rolling Stone

“Eu faço discos pra mim. Me satisfaz o fato que as pessoas que ficam chateadas me ouvindo gostam da música que me chateia”
Don Van Vliet

“Eu levei o Trout Mask Replica pra casa e coloquei pra ouvir. Era a pior coisa que eu já tinha ouvido na vida. Então pensei: ‘Frank Zappa produziu isso, vou ouvir de novo’. Toquei de novo e pensei: ‘Soa horrível, mas esta é a intenção deles’. Pela terceira ou quarta audição, ele começou a crescer em mim. Da quinta ou sexta vez eu já estava apaixonado. Pela sétima ou oitava vez eu o achava melhor álbum jamais feito. Ainda acho”
Matt Groening, criador dos Simpsons

“As pessoas gostam de músicas afinadas porque ouviram-na afinada o tempo todo. Eu quero romper com isso”
Don Van Vliet

“Eu não vejo como você pode ouvir este disco (Trout Mask Replica) e não sair com a sensação de ter sido mudado, se você deixar. Não dá pra entender – tentar compreender a música de Don é como tentar compreender a coreografia de uma abelha. Mas está lá para se admirar e pensar e esperançosamente levar um pouco daquela luz consigo”
Tom Waits

“Um pouco de paranóia funciona como bom propulsor”
Don Van Vliet

De Tom Waits para Bob Dylan

O blog Carnival Saloon compilou as participações especiais de Tom Waits no programa de rádio de Bob Dylan – o Theme Time Radio Hour, que já está em sua terceira temporada. Waits começou a participar do programa enviando fitas sobre temas aleatórios, até que a produção passou a antecipar os temas do programa para que ele lhes enviasse mais fitas com suas palavras de sabedoria. Eis cinco trechos (em inglês, não vou traduzir – se alguém traduzir eu até posto aqui), em que o garganta fala com a maior seriedade sobre assuntos da maior seriedade.


Tom Waits – “Body Parts


Tom Waits – “Birds


Tom Waits – “Jewish Curses


Tom Waits – “Numbers


Tom Waits – “RX Sign

Vida Fodona #146: Como é que foi de carnaval?

Hoje temos Beck tocando Dylan, muita psicodelia e algum samba, dub de Franz Ferdinand, nova do Yeah Yeah Yeahs, Olivia Tremor Control ao vivo, b-side do Elliott Smith, Tom Waits com os Stones, Frank Jorge, White Stripes, Jorge Ben em Paris e Phantom Band.

Mussum & Os Trapalhões – “Descobrimento do Brasil”
Of Montreal – “Alter Eagle”
Yeah Yeah Yeahs – “Dull Life”
Franz Ferdinand – “Feel the Pressure”
White Stripes – “We’re Going to Be Friends”
Rômulo Fróes – “Amor Antigo”
Frank Jorge – “Não Espero Mais Nada”
MGMT – “The Youth”
Olivia Tremor Control – “Holiday Surprise”
M. Ward – “Shangri-La”
Elliott Smith – “Suicide Machine”
Jupiter Maçã – “Beatle George”
Led Zeppelin – “Ten Years Gone”
Tom Waits & Rolling Stones – “The Ghost of Tom Waits”
Jorge Ben – “Caramba… Galileu da Galiléia”
Beck – “Leopard-Skin Pill-Box Hat”
Papercuts – “Future Primitive”
She & Him – “I Put a Spell on You”
Phantom Band – “Crocodile”

Vamo?

Bob Dylan e Tom Waits

Esses curtas que o Seth McFarlaine tem feito são muito melhores que suas séries habituais (American Dad ou Family Guy), porque eles vão no ponto em que ele esmerilha: cenas isoladas de qualquer contexto que mostrem o absurdo e o nonsense que é isso que nós chamamos de realidade. Tem um monte no user de YouTube dele.

N.A.S.A. – The Spirit of Apollo

Zé Gonzalez já vive a ponte aérea entre a América do Sul e a América do Norte há mais de dez anos, mas só agora efetiva seu primeiro lançamento intercontinental, chamando o produtor Sam Spiegel, irmão de Spike Jonze, que também assina como Squeak E. Clean, para lançar o projeto N.A.S.A. Mas o primeiro disco da dupla, The Spirit of Apollo, sofre da síndrome da festa V.I.P., em que o número de celebridades parece exceder o próprio conhecimento dos convivas. Pra que tanto convidado assim? Contando apenas os facilmente reconhecíveis, temos uma lista que inclui Seu Jorge, quase todo Wu-Tang Clan, Santogold, Lovefoxxx, George Clinton, Del Tha Funkee Homosapien, Tom Waits, John Frusciante, David Byrne, Chuck D, Spank Rock, M.I.A., Kanye West, Sizzla, KRS-One e a Karen O do Yeah Yeah Yeahs, fora outra lista com nomes que inclui boa parte do escalão do hip hop americano atual. E o que esse povo todo acrescenta ao disco? Ou são samples humanos? Sendo assim, esse monte de artista acaba travando as possibilidades em vez de amplia-las, comprometendo o fluxo do disco com obviedades e pura encheção de lingüiça.

Mesmo com suíngue calibrado, o refrão de “Money” (“money is the root of all evil”) não consegue ser mais clichê, enquanto “Way Down”, com John Frusciante, soa como genérico de trip hop. A dobradinha Tom Waits/Kool Keith em “Spacious Thoughts” é totalmente dispensável e até a participação de George Clinton é trivial. Ainda mais quando se compara esse lado de The Spirit of Apollo com o em que ele acerta. São poucos hits, mas que, quando batem, pegam muito bem. A primeira faixa a ser revelada, “Gifted” (que reúne Santogold, Lykke Li e Kanye West) continua sendo a faixa mais bem resolvida do disco, que ainda tem outros bons momentos. “Watchadoin?”, que junta M.I.A., Santogold e Spank Rock (este último põe quase tudo a perder, soando tão vazio quanto a Fergie), cogita a possibilidade do Clash ter descoberto o funk carioca na época de Sandinista!, “Strange Enough” transforma Karen O num Mick Jagger (mas precisava do Ol’ Dirty Bastard e do Fatlip? Não precisava) e “A Volta” mostra que Lovefoxxx funciona até no ragga.

E quando sai do mundo de celebridades pop, a música do N.A.S.A. torna-se verdadeiramente inspirada, talvez por serem justamente quando Zé se sente mais em casa – seja ao lado do Babão dos Inumanos, quando deixam o samba comer bonito na vitrola em “O Pato”, que no caso, não é o de João Gilberto, mas o Donald, e em alguns momentos isolados (“N.A.S.A. Music” seria tão melhor se fosse instrumental ou a aparição de Miguel de Deus e da metaleira de Lincoln Olivetti no meio de “The Mayor”). Talvez a solução fosse deixar Zé Gonzalez ter mais peso no disco e na dupla – boa parte dos convidados apareceram graças aos contatos de Sam no meio publicitário, onde também bate cartão. Mas só o fato do fato da dupla chamar-se N.A.S.A. (que, apesar de vir da junção de North America com South America, ainda é a agência espacial estadunidense) diz muito sobre o resultado. Quem sabe, Zé está só esperando o momento certo para seu próprio disco.

N.A.S.A. – The Spirit of Apollo

N.A.S.A. – “O Pato