Se a perspectiva de um filme do Super-Homem feito por Zack Snyder ainda parece indigesta mesmo ele já tendo provado que não sabe direito lidar com filmes de super-heróis (muita estética vazia, pouco tutano – parecem os quadrinhos da Image nos anos 90), você nem queira cogitar o que poderia ser o filme do alienígena mais famoso da cultura pop caso caísse nas mãos de Tim Burton. Mesmo que muita gente leve em consideração os dois filmes do Batman dirigidos pelo criador de Eduardo Mãos-de-Tesoura (eu os considero pavorosos e frustrantes, em diferentes níveis), Burton poderia descer ainda mais profundamente caso pusesse as mãos num filme sobre o krytponiano.
Esse é o tema do documentário que Jon Schnepp decidiu lançar online, abrindo um filão para filmes sobre filmes – e outras obras de arte – que não saíram do papel. O filme de Burton chegou a estágios que chegaram até a testar um bisonho uniforme prateado num cabeludo Nicolas Cage, num filme que até contou com Kevin Smith entre os roteirista. A premissa de Burton era estranhíssima e além de jogar fora toda a mitologia do super-herói para recriar outra (que incluía até mesmo espécies da fauna de Krypton na Terra, pqp) mantendo “a essência do personagem”, seja lá o que isso quisesse dizer para o diretor. Superman Lives, que estava programado para estrear em 1998, contaria a história da morte do super-herói, sua reencarnação no ventre de Lois Lane e seu crescimento ultrarrápido em três semanas para se tornar o herói que conhecíamos antes de sua morte, mais uma vez. Um WTF tão gigantesco que torna-se tímido quando vemos as imagens que o documentarista desenterrou com Cage vestido como o icônico personagem americano, que colocou em seu trailer.
O filme The Death of “Superman Lives”: What Happened? já está à venda pelo site do diretor, em várias versões com muitos extras
Com Tim Burton na direção e Michael Keaton e Winona Ryder no elenco, a continuação mais inútil da história deve acontecer mesmo em breve – como voltou a confirmar o próprio Burton à MTV:
Get More:
Music News
Lana Del Rey mostrou essa semana suas duas faixas inéditas que estarão na trilha do novo filme de Tim Burton. A cinebiografia Big Eyes (a segunda feita pelo diretor, a primeira foi a do cineasta trash Ed Wood) conta a história da pintora Margaret Keane, autora de pinturas com os “grandes olhos” do título, ela ficou sempre à sombra do marido, que comercializava suas obras e a escondia da fama. O casal é vivido por Amy Adams e Christoph Waltz e, pelo trailer, pode ser que Burton tenha acertado em cheio (coisa que ele não faz desde… Big Fish?):
As músicas de Lana, no entanto, são apenas regulares, nada que se destaque em sua própria discografia. A primeira é a faixa-título, “Big Eyes”:
Em seguida, “I Can Fly”:
O filme estréia nos EUA no natal e está programado para chegar ao Brasil em fevereiro.
O estudante de cinema holandês Kees van Dijkhuizen jr. faz curtas para celebrar a obra dos principais cineastas do século em que vivemos, veja abaixo:
Minha coluna no Caderno 2 ontem foi sobre o Wikileaks.
O futuro do segredo
Wikileaks e a geração digital
A lista de documentos distribuídos pelo site Wikileaks foi o principal assunto da semana passada, quando uma série de arquivos antes confidenciais causaram uma crise diplomática mundial sem precedentes – transformando seu porta-voz, o jornalista australiano Julian Assange, no nome mais importante do mundo agora.
Mas fora a polêmica instantânea, há implicações nesta história que dizem muito mais respeito a como o mundo funcionará no século que começa. É uma questão que não fala somente a estadistas e governantes, mas também para cada um de nós.
“Imagina se tivesse um Wikileaks revelando DMs, e-mails e SMSs de qualquer pessoa que você escolhesse? Na boa, o mundo acabava em meia hora”, twittou o escritor Antonio Prata, colunista do caderno Metrópole. Não acho que o mundo acabaria (mais provável que ele se tornasse uma mistura de filme de Woody Allen com Ingmar Bergman, numa discussão sobre relacionamentos global interminável), mas, por baixo da brincadeira de Prata, repousa uma mudança que já está acontecendo na cabeça da geração digital.
Lembra quando, nas festas da sua época da escola, alguém trazia uma máquina fotográfica? Quem não queria ser fotografado sumia – e o fotógrafo era acompanhado à distância por quem quisesse ficar longe de seus registros. Que eram mínimos: o melhor filme permitia apenas 36 fotos, que custavam caro para serem reveladas.
A geração eletrônica, no entanto, anda com câmeras nos bolsos. Toda ela – afinal, hoje em dia qualquer celular tira foto. E as fotos são instantâneas – como não é mais preciso revelá-las, basta clicar e subir para a internet de onde quer que você esteja. Fotos são tiradas o tempo todo e parte delas aparece online, nos Orkut e Facebook da vida. O mesmo vale para registros de áudio e vídeo – e assim temos uma geração que passou toda sua vida no holofote, mesmo que particular.
Há quem aposte que o futuro será assim e cada uma de nossas vidas será um reality show pronto para ser assistido por quem se dispuser a nos procurar. Google e Facebook são os primeiros a levantar essa bandeira, com seus respectivos CEOs (Eric Schmidt e Mark Zuckerberg) afirmando categoricamente que a privacidade acabou.
É claro que essa é uma discussão interminável, mas com vidas publicadas em blogs, YouTube e redes sociais numa ponta e o Wikileaks na outra, uma coisa está ficando cada vez mais clara: será muito difícil manter segredos nos anos que vêm por aí. Não que isso seja especificamente ruim…
Narrativa 2.0
Tim Burton brinca com o Twitter
No fim de novembro, o diretor Tim Burton propôs a seus fãs uma experiência conjunta: escrever uma história no Twitter. Criou o site BurtonStory.com, que redireciona todos os tweets marcados com a hashtag #BurtonStory para lá. O tweet de abertura, escrito por Burton, dizia que “Stainboy, usando sua óbvia expertise, foi chamado a investigar a misteriosa gosma brilhante no chão da galeria” – e daí em diante, a história seguiria em modo 2.0. E sempre que uma parte é aprovada pelo autor, ela aparece no site, dando gancho para uma nova leva de sugestões.
E Alice é pior – e melhor – do que eu esperava. Consegue mostrar que Tim Burton, quando quer, não fala nada com nada, passa o filme inteiro delirando na possibilidade vazia de um diretor de arte assumir a direção de um filme. Visualmente Alice é lindaço, delírio psicodélico vitoriano detalhista, quase artesanato digital. Mas cadê a história? Em vez de nos importarmos com os personagens e com o que acontece com eles, tem-se a sensação de estar num parque temático sobre Alice no País das Maravilhas – e na versão Disney, só que humanizada. Se na Fábrica de Chocolates Burton já tinha exagerado no açúcar ao misturar sua história com a do filme, em Alice dá pra sentir a gana do merchandising em cada flor falante, em cada bicho colorido que aparece do nada. Pelo menos a minha queria Mia Wasikowska não compromete, como eu havia lido por aí.
Mas vou falar melhor do filme depois, estou terminando de ler algo que tem a ver com o assunto do filme e achei melhor falar dos dois ao mesmo tempo. Em breve…
A combinação acima apareceu num post do Freaky Show Business, que ainda incluía um Dom Casmurro desses “filmes brasileiro pós-retomada” que só crítico de cinema suporta. Mas pense bem: Narizinho = Alice? Seria Rabicó um coelho branco dos trópicos? E a Cuca? A Rainha de Copas? Se o Chapeleiro Maluco é o Visconde, logicamente o Gato é Emília – e é só enfileirar os personagens de cada lado e deixar a imaginação fazer a correspondência biunívoca. O problema é que se você pára pra pensar, lembra do Lost Girls do Alan Moore (em que ele faz uma relação entre as viagens de Alice, Dorothy e Wendy com a puberdade feminina) e é inevitável achar que o Sítio é uma grande parábola sobre a iniciação sexual de dois irmãos adolescentes…
Mais uma da trilha do novo do Tim Burton. Mas por que essa menina grita tanto, hein?
Já imaginou a triiiiiiiiiiste “A Very Good Advice” do Alice original cantada pelo dono do Cure? Não imagine: ouça. Tá na trilha do Alice do Tim Burton: