Muito bom o papo que o Sesc Avenida Paulista puxou nesta quarta-feira, ao convidar Thiago Torres, o Chavoso da USP, o Dayrel Teixeira dos Funkeiros Cults e o Thiago de Souza, do Canal do Thiagson, para a mesa Funk na Cabeça – Desconstruções a Partir do Gênero. O evento, gratuito, reuniu tanta gente que no começo da noite, que só restou ao Sesc abrir as portas da discussão para todos em vez de simplesmente impedir a entrada das pessoas – e tudo correu muito tranquilamente. Como puxava o tema, os três discorreram sobre como o funk foi, nos três casos, uma forma de contato com a questão do racismo estrutural do país, do embranquecimento forçado que criou a categoria “pardo” na escala de preconceitos por aqui, da higienização do funk para ser cooptado pelo sistema, do papel da universidade na biografia dos três e como o próprio sistema educacional funciona para restringir o acesso à educação, além de referências contínuas à aula magna proferida pela professora Sueli Carneiro no programa de entrevistas de Mano Brown. Foi muito bom ver a grande maioria dos presentes levantando a mão quando @chavosodausp perguntou quem era da quebrada. Uma discussão valiosíssima que poderia ir muito além das duas horas propostas pela instituição e que deveria estar mais presente quando falamos sobre cultura brasileira.
A história da música é racista, classista, machista e colonialista. Esse é o pressuposto básico do qual parte o professor Thiagson para falar especificamente sobre o funk brasileiro do ponto de vista da musicologia acadêmica. Dentro da universidade ele foi aos poucos percebendo o quanto a música popular era colocada em segundo plano como uma forma de disfarçar uma série de preconceitos e privilégios a partir de conceitos como “beleza”, “grande arte” ou “música boa”. A partir de sua própria paixão adolescente – o funk que originalmente nasceu no Rio de Janeiro mas que se espalhou por todo o Brasil – ele começou a quebrar estas barreiras dentro da academia e aos poucos ganhou as redes sociais discutindo questões que devem ir para além dos muros da escola. E ele antecipa em primeira mão o primeiro livro de funk escrito por um músico!