É isso aí: uma das bandas mais importantes da cena pós-punk inglesa volta ao Brasil depois de quase 30 anos. O Public Image Ltd. – ou apenas PiL, para os fãs – confirmou que sua turnê This Is Not The Last Tour, que começou em maio deste ano, passará pelo Brasil no início do ano que vem, quando o grupo fará uma única apresentação no Terra SP, no dia 8 de abril de 2026 (e os ingressos já estão à venda). O PiL foi uma reação quase impulsiva – e agressiva – que o vocalista dos Sex Pistols, o emblemático Johnny Rotten, tomou ao perceber que sua banda havia se tornado um ímã de problemas, especialmente após a famigerada turnê que fizeram pelos Estados Unidos. Querendo negar tudo que o punk estava pregando, Rotten abandonou seu pseudônimo artístico, assumiu seu sobrenome de batismo e como John Lyndon arregimentou anti-heróis musicais daquela cena, como Keith Levene, Jah Wobble e Richard Dudanski, para participar de seu experimento estético e político. O grupo liderou a transição do punk para uma cena a princípio indefinida chamada pós-punk, que foi berço para grupos tão diferentes quanto Gang of Four, Wire, Cure, Echo & the Bunnymen e U2, e até o início dos anos 90 manteve-se ativo e provocador, como é da natureza de seu criador. Lyndon encerrou a banda em 1992 depois de lançar clássicos como o disco de estreia (First Issue, de 78), o básico Metal Box (de 79), The Flowers of Romance (1981), Album (1986) e Happy? (1987), este último sendo o disco que o grupo veio mostrar no Brasil quando apresentou-se no Canecão, no Rio de Janeiro (que teve imagens registradas pelo clássico programa independente carioca Realce, assista abaixo), e no Projeto SP, em São Paulo. A banda retomou as atividades em 2005, quando Lyndon chamou o guitarrista Lu Edmonds (que já passou pelo The Damned, pelos Mekons e pelo próprio PiL nos anos 80), o baixista Scott Firth e o baterista Mark Roberts para voltar a gravar discos e fazer shows, formação que mantém-se até hoje. 2026 promete!
O Supergrass coroou um incrível mês de agosto com um show que será lembrado como o mais perto de uma apresentação de rock clássico que muitos dos presentes irão ver. Por mais que a tônica do grupo enfatizasse os elementos divertidos de seu primeiro disco, que comemorava aniversário e segurava mais da metade do repertório da noite, era evidente a devoção do quarteto à geração de ouro do pop britânico, ecoando Beatles, Kinks, Who, Stones e T. Rex, com acenos para diferentes concentrações de rock direto e fugaz encontradas em momentos específicos das carreiras de outros de seus conterrâneos, como David Bowie, Queen, Led Zeppelin, Clash, Black Sabbath, Cure, Roxy Music, Pink Floyd, Jam, Deep Purple e Smiths. Uma aula de rock mas sem a fleuma acadêmica (ou setentista), justamente por basear-se na cama elástica que é a vibe de I Should Coco. Escrevi sobre o show em mais uma colaboração para o Toca UOL.
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Mais um golaço da Balaclava, que traz agora em agosto o trio Supergrass para o Brasil tocando seu álbum de estreia, I Should Coco, que completa 30 anos este ano, na íntegra! O grupo formado por Gaz Coombes, Mick Quinn e Danny Goffey baixa no Brasil no dia 31 de agosto, no Terra SP (aquele que fica na sul, pra lá de Santo Amaro), e os ingressos já estão à venda neste link. Alem do disco de 1995 (grande ano!), a banda mais divertida do britpop inevitavelmente tocarão outros hits da carreira.
Foi excelente o show que o King Krule fez em São Paulo neste sábado. O jeito displicente e quase tímido que Archy Marshall se aproxima do microfone disfarça um maestro de melodia e ruído que usa sua guitarra como batuta, conduzindo sua banda entre o transe e a catarse, para delírio do público que lotou o improvável Terra SP. O grupo, composto de baixo, bateria, guitarra, teclado e sax, preenchia silêncios com camadas de microfonias e golpes de barulho, permitindo que as canções do inglês ganhassem uma profundidade ainda mais complexa que nos discos. E nisso a cumplicidade com o público, que conhecia todas as músicas e cantou quase todas as letras junto, era essencial. Show de rock sem os vícios do gênero e abrindo para inesperadas massas amorfas de eletricidade sonora que misturava improviso jazz, explosão noise, melancolia indie, letras balbuciadas como rap e melodias acridoces, acalentadas por uma pequena multidão – e como tinha gente conhecida entre aquelas milhares de pessoas. Talvez o único ponto negativo do show tenha sido o local, que ao menos não comprometeu o som da apresentação. Mas o Terra SP, além de ficar em Ohio (Ohio que o parta, tenho que manter vivo o humor infame que meus pais me passaram – a casa fica a 20 quilômetros do centro de São Paulo), comprometia a visão da audiência mesmo tendo espaço de sobra. O lugar é uma espécie de Áudio quadrado misturado com um Espaço das Américas de menor lotação e, com dois mezaninos, teoricamente teria ótimas opções para se assistir ao show. Mas duas pilastras no meio da casa criava bolsões vazios nos três andares atrás destas, que impediam o público de ver o palco e obrigando a acotovelar-se ao lado de espaços vazios para conseguir ver toda a banda. Mas, como comentei, isso felizmente não comprometeu a apresentação e marcou mais um golaço na trajetória da Balaclava Records, que ainda aproveitou para tirar sua onda ao anunciar, discretamente, que irá trazer o Tortoise tocando seu disco TNT no Brasil esse ano.
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