Nem sempre dá certo. Depois do show desta terça-feira no Centro da Terra corri para ver se pegava um pouco do show que Juliano Gauche estava fazendo no Teatro da Rotina, mas entre a demora do táxi chegar e pequenos imprevistos no percurso, cheguei a tempo de ver literalmente os minutos finais da apresentação que fazia acompanhado de Klaus Sena (nos teclados) e Victor Bluhm (na bateria eletrônica). Mostrando mais uma vez seu Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, que ele lançou no ano passado e experimentou o formato antes de lançá-lo no próprio Centro da Terra, pude ter uma ideia do que ele havia me contado no dia anterior sobre seu próximo álbum, inclusive me citando como referência. E me lembrou de quando lançou seu disco Afastamento em 2018 no Centro Cultural São Paulo, quando fui curador de lá, num show que lembro até hoje por ele não ter dito uma palavra para o público além das letras das canções, numa provocação estética pesada. Perguntei pra ele depois do show sobre isso e ele mencionou que havia sido intencional, bem como o fato de praticamente não tocar a guitarra que levava pendurada no corpo, usando-a mais como um acessório cênico do que um instrumento. E lembro de ter comentado pra ele não propriamente tocá-la, mas apenas usá-la como fonte de ruído. Ele disse que vinha pensando nisso quando começou a cogitar o álbum que deverá gravar no ano que vem e que o novo formato do show já trazia um pouco disso. Não pude ver nenhuma música completa nem as participações de Tatá Aeroplano e Pélico (que, inocente, foi pego de surpresa pelo convite do amigo depois de ter feito exatamente isso no dia anterior), mas pelo menos deu pra entender que a lógica noise começa a habitar a musicalidade de Gauche. Agora quero ver esse disco novo…
Ana Spalter e Felipe Távora entrelaçaram instrumentos, vozes e repertórios nesta quarta-feira, ao fazer a primeira apresentação em dupla no Teatro da Rotina. Com a casa lotada, os dois passearam pelas próprias canções, encontrando pontos em comum entre melodias e temas e reduzindo os arranjos quase sempre a um violão e um teclado, pilotados respectivamente por Felipe e Ana, que também encontraram-se no bom humor (com algumas piadas infames) com o qual conduziram a noite. Numa apresentação minimalista e delicada, os dois cativaram o público presente, fazendo-os cantarem trechos de músicas que sequer conheciam. E além das próprias composições, passearam por músicas de Gilberto Gil (“Drão”) e Edu Lobo (“Zum-zum”), esta última dividida com a voz fantástica de Luiza Villa. Os dois encerraram a apresentação cantando “Gosto Meio Doce”, música de Távora que foi imortalizada pela dupla Nina Maia e Chica Barreto.