Mais um show vindo para o Brasil antecipado pelo jornalista José Norberto Flesch, que crava: a dupla Tears for Fears tocará no país em 2024 provavelmente no meio do primeiro semestre do ano que vem, entre maio e junho. Não há informações sobre em quais praças Roland Orzabal e Curt Smith passariam e qual é a quantidade de shows que fariam por aqui, mas pude vê-l0s em 2017, quando tocaram pela última vez por aqui num Rock in Rio, e as vozes dos dois segue excelente – fora que é um rosário de hits, além das músicas novas do disco mais recente, The Tipping Point, lançado no ano passado e o primeiro disco de inéditas desde Everybody Loves a Happy Ending, de 2004. Maravilha, hein!
Você iria num festival que acontece em um único dia e reúne New Order, Tears for Fears, B-52’s, Echo & the Bunnymen, Soft Cell, Human League, Devo, Violent Femmes, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Psychedelic Furs e X? Houve um tempo em que os anos 80 eram associados apenas à cafonice e suas principais referências visuais e sonoras eram ridicularizadas em contextos modernos com a única intenção cômica, desprezando toda a revolução cultural daquele período único da história apenas como mera breguice. Mas as transformações artísticas dos 80 (dos videogames ao cyberpunk, passando pela new wave, o pós-punk e o hip hop) formam a base da cultura pop deste século, ainda que o mercado da música trate as bandas que são marcos deste período como curiosidades pitorescas, mais do que os novos clássicos que são. Mas aos poucos isso está sendo revisto (como podemos ver na turnê de retorno dos Titãs, entre vários outros exemplos cada vez menos isolados) e a escalação do festival norte-americano Darker Waves, que acontece na Califórnia em um único dia, é um bom termômetro desta reavaliação estética desta década ao reunir atrações que, em festivais passados, eram tratados apenas como nomes que ainda eram comerciais o suficiente para preencher lacunas específicas. Além dos nomes já citados, o festival, que acontece no dia 18 de novembro deste ano, também traz bandas mais recentes que conversam com a estética do período, como a banda bielorrussa Molchat Doma (do meme da Wandinha Adams fase preto e branco dançando um dance gótico), She Wants Revenge, Cardigans e a volta dos †††, a banda do vocalista do Deftones Chino Moreno, entre outros nomes menos conhecidos. Os ingressos começam a ser vendidos a partir do dia 23 no site do festival. Fico imaginando uma versão brasileira deste evento (que é bem provável que já esteja sendo bolada)… Quem viria?
A festa é neste sábado, no Cineclube Cortina, vamos?
Encerrando a cobertura que fiz do Rock in Rio para o UOL, segue a lista dos cinco melhores shows do segundo finde do festival, que postei lá meu blog no portal.
Passei os dois últimos fins de semana andando feito um camelo pelo Rock in Rio, submetido a uma maratona de shows uns épicos, outros insuportáveis e mesmo que a exaustão final ainda se abata, é possível lembrar dos grandes momentos do festival. Havia publicado a lista com os cinco melhores shows do fim de semana anterior neste link, abaixo refiro-me aos cinco melhores do fim de semana passado.
1) The Who
O melhor show de todo o festival e uma apresentação que já entrou para a história tanto do festival quanto dos grandes shows internacionais no Brasil. Pagando uma dívida de meio século sem nunca ter vindo ao país, os remanescentes do grupo original – seu vocalista Roger Daltrey e o guitarrista Pete Townshend – mostraram-se em plena forma mesmo com mais de setenta anos de idade.
2) BaianaSystem
O melhor show do Brasil atualmente não se conformou com o espaço reduzido do Palco Sunset e misturou o climão de carnaval de rua ao de festas jamaicanas e show de punk rock, inflamando o público como poucas apresentações durante todo o festival. A presença da MC angolana Titica, flerte que o grupo já acalentava há anos e que o Rock in Rio conseguiu proporcionar, apenas temperou a massa sonora com uma pimenta estética forte, bem ao gosto da conexão Salvador-Luanda.
3) Tears for Fears
Ninguém poderia prever o arrebatamento emocional causado pela dupla formada por Roland Orzabal e Curt Smith, mesmo com a quantidade de hits no repertório. Uma apresentação precisa, cujo timbre cristalino dos vocalistas ajudou o público a lembrar porque eles foram uma das principais bandas pop dos anos 80, fazendo aquilo que os Pet Shop Boys deveriam ter feito no fim de semana anterior.
4) Ceelo Green
Que vocalista, que showman, que carisma! Metade da dupla Gnarls Barkley, Ceelo conquistou o público apenas com sua presença, chacoalhando seu corpo compacto enquanto alcançava vocais agudos que arrebatavam as canções para um nível acima. Com uma banda da pesada, ainda recepcionou a brasileira Iza em dois duetos (entre eles uma canção de Michael Jackson) e a vocalista quase roubou a cena, encantando a todos com sua presença magnética. O melhor ficou para o fim, quando o saxofonista da banda roubou o holofote para tocar a melodia do hit carioca “Deu Onda” pouco antes de cair numa versão arrasa-quarteirão para “September”, do grupo Earth Wind & Fire.
5) Alice Cooper
A idade só faz bem para Alice Cooper e longe de acelerar sua decadência artística, a transforma em trunfo: o vocal mais grave, o rosto mais cheio de rugas e a presença mais ranzinza no palco só ajudam a aumentar a personalidade insana do pai do rock de horror. Os elementos cênicos certamente são metade do show e toda a banda que o acompanha (incluindo aí a sensacional guitarrista Nita Strauss e uma palhinha bem-vinda do aerosmith Joe Perry) também não faz feio, mas todo o show está concentrado no contato visual e vocal do público com Cooper, que rege expectativas e refrãos como um maestro do inferno. Que figura!
Tirei a Raquel no amigo oculto da firma
Human League – “Don’t You Want Me”
Pet Shop Boys – “West End Girls”
Fleetwood Mac – “Dreams”
Zizi Possi – “O Amor Vem Pra Cada Um”
Pepeu Gomes – “Mil e Uma Noites de Amor”
Alceu Valença – “Morena Tropicana”
Men at Work – “Down Under”
Elvis Costello – “Watching the Detectives”
Police – “Spirits in a Material World”
Genesis – “Turn it On Again”
Joe Jackson – “Steppin’ Out”
Titãs – “Toda Cor”
Daryl Hall & John Oates – “Private Eyes”
Metrô – “Cenas Obscenas”
Lobão – “Cena de Cinema”
Sempre Livre – “Fui Eu”
Pretenders – “Back on the Chain Gang”
Simples Minds – “Don’t You Forget About Me”
Telex – “Só Delírio”
Kiko Zambianchi – “Rolam as Pedras”
Zero – “Quimeras”
Cure – “Just Like Heaven”
INXS – “Need You Tonight”
Buggles – “Video Killed the Radio Star”
Tokyo – “Humanos”
Tears for Fears – “Head Over Heels”
Crowded House – “Don’t Dream It’s Over”
Fine Young Cannibals – “She Drives Me Crazy”
Wang Chung – “Dance Hall Days”
Echo & the Bunnymen – “Lips Like Sugar”
Alphaville – “Big in Japan”
Peter Schilling – “Major Tom”
Bangles – “Manic Monday”
Spandau Ballet – “True”
Berlin – “Take My Breath Away”
David Bowie + Queen – “Under Pressure”
Depeche Mode – “Enjoy the Silence”
Erasure – “Chains of Love”
Blondie – “Call Me”
Level 42 – “Something About You”
Lulu Santos – “Adivinha O Quê”
Wham! – “Wake Me Up Before You Go-Go”
Kenny Loggins – “Footloose”
Michael Sembello – “Maniac”
Phil Collins + Philip Bailey – “Easy Lover”
Kim Wilde – “You Keep Me Hanging On”
Bon Jovi – “Livin’ On a Prayer”
Dire Straits – “Walk of Life”
Leo Jaime – “A Lua e Eu”
Podem falar mal o quanto for dos Tears for Fears – o fato é que Roland Orzabal e Curt Smith sabem fazer uma canção pop. Especialmente em seu período mais fértil, no final dos anos 80, quando emplacaram músicas que todo mundo conhece de cor mesmo sem gostar. Seus hits foram dissecados em recente apresentação para o Spotify quando, tocando para uma pequena platéia, contaram as histórias por trás de seus grandes hits – inclusive que surrupiaram “Seeds of Love” de “I Am the Walrus”, dos Beatles.
Além do vídeo, eles também gravaram em áudio sua já conhecida versão para “Creep”, do Radiohead.