Centro da Terra: Setembro de 2023

Vamos para mais um mês de atrações no Centro da Terra? Além da temporada de segunda-feira e dos shows de terça, neste mês teremos música ao vivo também às quartas, por isso são mais quatro shows durante o mês que começa na semana que vem. E é com maior satisfação que apresento o dono das segundas-feiras do mês: boogarinho Dinho Almeida, que começa a investigar seu trabalho solo na temporada Águas Turvas, primeiro tocando sozinho no palco (no dia 4 de setembro), depois acompanhado de Bebé e Felipe Salvego (dia 11), da dupla Carabobina, Desirée Marantes e Bruno Abdala (dia 18) e finalmente ao lado de sua irmã, Flavia Carolina (no dia 25). A primeira terça do mês, dia 5, traz mais um novo projeto de Thiago França, que volta-se ao free jazz acompanhado de Marcelo Cabral e Welington Pimpa, apresentando seu Thiago França Trio. No dia seguinte, a primeira quarta do mês (dia 6), é a hora de conhecer o trabalho autoral da instrumentista brasiliense Paola Lappicy, que antecipa seu primeiro disco solo no espetáculo Que Mágoa é Essa?, ao lado de Dustan Gallas, Caio Chiarini, Leandrinho, Léo Carvalho e Luciana Rosa. Na terça seguinte, dia 12, é a estreia do conjunto Comitê Secreto Subaquatico, formado por João Barisbe, Helena Cruz, Clara Kok Martins, Lauiz Orgânico e Fernando Sagawa, que apresentam-se no espetáculo Perigosas Criaturas Amigas. Na segunda quarta do mês, dia 13, Maurício Takara encontra-se com Guizado em uma noite de improviso livre chamada Hábitos Generativos. Na outra terça, dia 19, o palco do Centro da Terra recebe o encontro das bandas Bike e Tagore no espetáculo MPB ou LSD?, em que contam a história da psicodelia no Brasil desde os anos 60 até hoje, desenhando uma genealogia da qual as duas bandas fazem parte. Na quarta, dia 20, é a vez de Marília Calderón fazer terapia no palco no espetáculo Que Cida Decida, acompanhada de Felipe Salvego. Na última terça-feira do mês, dia 26, o baiano Enio e o pernambucano Zé Manoel misturam seus trabalhos autorais no espetáculo Encontros Híbridos seguido, no dia 27, do espetáculo Canta pra Subir, em que a cantora paulistana Sophia Ardessore, acompanhada de Nichollas Maia, Abner Phelipe, Fi Maróstica, Matheus Marinho e Lucas Alakofá dão passos além de seu primeiro disco, Porto de Paz. Um bom mês, diz aí. Lembrando que os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda neste link.

Mais capas expandidas por inteligência artificial? Desta vez de artistas contemporâneos…

Tá achando que tinha acabado? Agora o Caramuru resolveu fazer capas expandidas por inteligência artificial a partir de discos independentes brasileiros… E acho engraçado que as pessoas pegam birra de algo só por ter virado tendência, sem perceber que as implicações desta nova ferramenta vão além da própria tendência em si…

Tem mais aí embaixo:  

Vida Fodona #749: Feliz 2022!

Encerrando 2021 com muita música brasileira e muita reflexão sobre esses dias.

Ouça aqui.  

Os 50 melhores discos de 2021, segundo a APCA

É sempre assim: dezembro chega e com ele as listas de melhores do ano, mas a lista com os melhores de 2021, feita pelo júri de música popular da Associação Paulista de Críticas de Arte (APCA, da qual faço parte ao lado da Adriana de Barros, José Norberto Flesch Marcelo Costa, Pedro Antunes e Roberta Martinelli) só será revelada no início de 2022. Por enquanto, antecipamos os 50 indicados à categoria Melhor Disco, mostrando como, mesmo com todas adversidades do caminho, foi intensa a produção de música neste ano que chega ao fim. Confira os indicados a seguir.  

Vida Fodona #746: Consegui descansar

Demorei, mas tô aqui.

Ouça aqui.  

Vida Fodona #722: A porta tá aberta

Chega mais…

Ouça aqui.  

As 75 melhores músicas de 2020: 57) Tagore + Boogarins – “Drama”

Foto: Bruna Valença (Divulgação)

“Meu coração vai endurecer ou me entortar”

Vida Fodona #638: Será que vai virar regra?

vf638

Mais um programa gravado ao vivo.

Tagore + Boogarins – “Dramas”
Ava Rocha – “Caminando sobre Huesos”
Nightmares on Wax – “Les Nuits”
Darondo – “Didn’t I”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good at Being in Trouble”
Céu – “Arrastar-te-ei”
David Bowie – “V-2 Schneider”
Velvet Underground – “There She Goes Again”
Serge Gainsbourg – “La Ballade De Melody Nelson”
Girls – “Alex”
Letuce – “Quero Trabalhar com Vidro”
Luiza Lian – “Geladeira”
Air – “Kelly Watch the Stars”
Kraftwerk – “The Hall of Mirrors”
Kali Uchis – “Venus as a Boy”
Angel Olsen – “More than This”
Weyes Blood – “A Lot’s Gonna Change”
Def – “Alarmes de Incêndio”
Legião Urbana – “Giz”

Tagore 2020: “Do que vale o tempo sem te ver?”

Foto: Bruna Valença (Divulgação)

Foto: Bruna Valença (Divulgação)

“Tou começando a enlouquecer, tou esquecendo de me amar, meu coração vai endurecer ou me entortar”, canta o refrão da primeira música que o pernambucano Tagore mostra de seu próximo disco, o sucessor do ótimo Pineal, de 2016. Cada vez mais psicodélico, Tagore Suassuna também teve sua programação de lançamento afetada pela pandemia, o que lhe fez antecipar a ordem dos lançamentos, mostrando “Drama”, que gravou ao lado dos Boogarins, como primeira amostra do novo álbum. “Nutríamos há algum tempo a vontade de lançar um feat.e com a crise que estamos atravessando, resolvemos antecipar e inverter um pouco a ordem dos lançamentos, priorizando essa parceria com os Boogarins, com quem temos uma longe relação de carinho e admiração mútua”, ele explica, falando da música que lança em primeira mão no Trabalho Sujo. O single chega às plataformas digitais nesta sexta, mas já pode ser ouvido abaixo.

O novo álbum, que chama-se Maya, deverá ser lançado apenas no segundo semestre e foi produzido por Pupillo Oliveira, que também toca bateria no disco, composta em parceria com o guitarrista da banda goiana, Dinho Almeida. “’Drama’ é um grito no espelho, um pedido de ajuda ao seu próprio reflexo, em busca de forças pra encarar as desventurar da existência, entre elas, os desamores”, continua.

“Iniciamos o processo de gravação em maio de 2018, em São Paulo, logo após participarmos do SXSW e Lollapalooza em sequência”, ele continua contando sobre o disco e fala sobre sua convivência com a quarentena. “”Estou num sítio em uma montanha chamada Taquaritinga do Norte, interior pernambucano. Trouxe todo meu equipamento e estou aproveitando pra registrar material novo e me aprofundar nos estudos de mixagem e masterização. Estamos planejando estratégias alternativas para o lançamento do disco, focando principalmente no suporte visual, com sessions acústicas, mais cruas, clipes e ilustrações.”

Tudo Tanto #35: PicNik em Brasília

picnik

Minha coluna Tudo Tanto na edição de agosto deste ano da revista Caros Amigos foi sobre o festival candango PicNik.

Crescer pra quê?
O festival brasiliense PicNik aposta no médio porte para se tornar autossustentável e agradável ao mesmo tempo

No horizonte, impávida, a Torre de TV de Brasília parece ainda maior pela ausência de construções ao seu redor e por estar constantemente avistando os frequentadores do festival PicNik abaixo. Circulando ao redor do espelho d’água em frente a ela, o evento que começou a partir de uma inquietação e sem muitas expectativas reunia dezenas de expositores e vendedores agora era um enorme de pequenos produtores que trabalham com comida, moda, artesanato, decoração, saúde, bem estar e recebia milhares de pessoas durante os dois dias em que aconteceu no final de junho na capital federal.

Ao fundo, no final dos corredores e tendas de lojas e barracas de alimentação, camas para massagem, fumódromos de narguilê e até uma máquina que cortava discos de vinis de shows gravados na hora, uma tenda de circo cobria um pequeno palco em que a banda FireFriend apresentava-se. Liderada pelo casal Yuri Hermuche (guitarra e vocais) e Julia Grassetti (baixo, vocais e teclados) ao lado do baterista Pablo Oruê, o trio indie paulista funcionava perfeitamente naquele ambiente, a tarde fria e ensolarada de um sábado de outono reunia uma quantidade boa de gente para ver o grupo tocar. Não estava cheio mas não estava vazio e muitos dos que paravam para assistir ao show tinham ido apenas para fazer compras – ou apenas passear, já que o festival é gratuito.

Embora adequado para a proporção do FireFriend, aquele palco parecia pequeno para receber os artistas que ainda tocariam naquela edição do evento, como o trio O Terno, a cantora Ava Rocha e os dez integrantes do grupo Bixiga 70. Não o tamanho do palco em si, mas sua distância em relação à audiência, a altura e ausência de fosso entre artista e público. Mas o que a princípio parecia discrepante, na verdade é estratégico. Porque o PicNik quer crescer, mas não crescer demais.

“Nós não temos interesse em tornar o evento maior do que já é, e sim de entender como criar filtros para manter dentro do evento um público saudável e interessante, que interaja positivamente com nossa ferramenta, seja comprando dos expositores, vendo uma palestra, curtindo um show, fazendo aula de ioga, trabalhando como voluntário”, me explica Miguel Rodrigues Galvão, que idealizou o evento ao lado da publicitária Julia Hormann. “Algumas pessoas que estiveram nos primeiros anos não frequentam mais o PicniK e estamos vendo uma nova geração abraçando uma proposta: o desafio agora é contextualizar essa galera de que existem princípios e motivos para o projeto acontecer, que não somos apenas uma grande farra aberta.”

O festival começou como um bazar coletivo criado de uma hora pra outra, sem planejamento, aproveitando o momento. “Em 2012, uma amiga que trabalhava na administração de Brasília – uma espécie de prefeitura local -, me procurou para pensar uma ocupação diurna ao Calçadão da Asa Norte, espaço recém-inaugurado mas que era desprezado pela vizinhança e já se via tomado por marginais”, continua Miguel. “Na mesma época, morava com uma menina, a Dani, que estava muito envolvida com a vibe de brechós e percebi que tinha uma onda muito legal envolvida nessa movimentação. Juntamos as pontas e pensamos: se a gente trazer um público legal para esses expositores, será que eles nos ajudam a pagar a conta de nosso encontro? Daí, olhamos para uma data que parecia ideal para lançar a proposta: o aniversário de Brasília, que à tempos não tinha uma celebração que envolvesse a galera alternativa da cidade.”

Miguel conta que a ideia do evento já estava em sua cabeça há mais tempo, mas ele não via como viabilizá-la. “Estava muito desiludido com esse meio da cultura noturna alternativa – em que atuava ativamente – e vislumbrava a criação de uma plataforma de vibração de dia, onde as pessoas interessantes e diferentes da cidade poderiam se encontrar para interagir sem as ‘máscaras’ da noite, que propusesse um break, mesmo que momentâneo, dessa intensidade virtual a que somos submetidos, valorizando a realidade presencial acima de tudo”, explica. O nome veio a partir da sensação de que ele queria passar para o evento – algo leve, diurno, pra cima e para todas idades.

Esta preocupação também estava refletida na escalação das bandas. Nada muito pesado, agressivo ou barulhento – a curadoria musical do festival PicNik caminha em direção à psicodelia, ao indie rock e à música brasileira, buscando artistas que ocupem as interseções entre estes estilos. Além de FireFriend, Bixiga 70, O Terno e Ava Rocha, o festival ainda contou com a banda califoniana Blank Tapes, o pernambucano Tagore, os paraibanos Glue Trip, os gaúchos dos Mustaches e os Apaches, os mineiros do Congo Congo e Teach Me Tiger e os brasilienses Transquarto, Brancunians, Supervibe, Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro e Cassino Supernova – estes últimos homenageando o jovem recém-falecido baixista Pedro Souto.

Outra peculiaridade bem-vinda do festival: deixar as atrações mais disputadas para o meio da programação – e não para o final. Assim, quando a última banda estava tocando, grande parte do público já tinha ido embora e o encerramento do evento não fica naquela suspensão de eletricidade coletiva característica dos shows para multidões, terminando naturalmente. Ponto para o grupo.