Uma das melhores séries de todos os tempos, Sopranos teve um final abrupto e inusitado em 2007 que até hoje pode ser considerado um dos mais ousados da história da TV. Se você não assistiu à série, volte para fazer seu dever de casa ou só continue a leitura sabendo que após a foto do protagonista Tony, há a possibilidade de estragar a surpresa do final.
Se você continuou lendo, agora é por sua conta e risco: em uma entrevista feita com o autor David Chase para o livro The Soprano Sessions, lançado no ano passado, o criador da série sem querer entregou o que todo mundo supunha – que a última cena marca a morte de Tony Soprano. A entrevista não foi parar no livro, mas vazou recentemente, segundo o jornal inglês Independent. Eis o trecho, conduzido pelos autores do livro Alan Sepinwall e Matt Zoller Seitz:
Sepinwall: Quando você disse que não havia um final, você não se referia ao Tony no Holsten’s (lanchonete onde se passa a cena final do seriado), você estava dizendo que talvez não tivesse material que valesse mais dois anos de histórias.
Chase: É, acho que pensei na cena da morte dois anos antes do final… Tony seria chamado para encontrar-se com Johnny Sack em Manhattan e ele pegava o túnel Lincoln para este encontro e a tela ficaria preta e você nunca mais o veria voltando, criando a teoria que algo ruim aconteceu no final do encontro. Mas não fizemos assim.
Seitz: Você percebeu, claro, que você acabou de se referir à cena como a cena da morte.(Uma longa pausa em silêncio)
Chase: Ah, vão se fuder.
A bem da verdade., no próprio livro, os autores colocaram outra declaração de Chase sobre o acontecimento: “Ele poderia ter sido assassinado na lanchonete. Todos nós podemos ser assassinados em uma lanchonete. Este era o ponto daquela cena”. O fato é que a cena foi analisada à exaustão (eu mesmo falei dela há um tempão) e a morte de Tony é considerada o ponto final da série, mesmo que Chase nunca desse certeza disso. Até agora.
Ah, você quer se acabar de dançar na quarentena? Então segura essa mixtape que o mestre francês Breakbot pinçou pra gente espantar os fantasmas deste 2020 deslizando e requebrando na sala de estar. Groove finíssimo: soul anos 80, funk anos 70, house fino, R&B e disco music tudo misturado de um jeito que é impossível ficar parado. Sente só:
Um trecho da série Sopranos
The Jones Girls – “Let’s Hit It” (intro)
Finesse – “I Can’t Help Myself”
Rufus & Chaka Khan – “Live In Me”
Fern Kinney – “Groove Me”
The Jones Girls – “Life Goes On”
Donald Byrd – “Love Has Come Around”
Ann C. Sheridan – “Sing it Low”
Breakbot – “Be Mine Tonight (feat. Delafleur)”
Barbara Roy – “If You You Want Me”
Magoo – “Funktime (feat. Eddie Craig)”
Gemini – “Something Special”
Con Funk Shun – “Da Lady”
AM KO – “Just Chilling’ Out”
Dynasty – “Groove Control”
Cerrone – “Soumission”
Breakbot – “Why (feat. Ruckazoid)”
Rhythm Heritage – “Disco Derby (Take Me Dancin’)”
Earth Wind & Fire – “Sing A Song”
Strange Affair – “Love Is A Strange Affair / Fantasy”
Frisky – “You’ve Got Me Dancing In My Sleep”
Carrie Lucas – “I Gotta Keep Dancing’”
Lemon – “A-Freak-A (Remix)”
Paper Doll – “Get Down Boy”
El Coco – “Afrodesia”
Alicia Myers – “I Want To Thank You”
Duncan Sisters – “You Give Me Such A Feeling”
Yuksek – “The Only Reason (feat. Breakbot & Irfane)”
A trilha sonora da série Sopranos é um dos pontos altos de sua narrativa – não apenas da produção, já que seu criador, David Chase, que escolhia pessoalmente as músicas, resolveu reservar parte do orçamento para conseguir os direitos de músicas que custariam caro para uma simples série de TV – coisa que Sopranos está longe de ser. São muitos os momentos em que a musica certa invade uma cena completando-a perfeitamente, como esta, logo no início da segunda temporada:
Por isso imagino o desafio da loja canadense SCR Vinyl em selecionar apenas 14 músicas para compor uma versão em vinil duplo com a trilha sonora da série, que ela começou a vender no fim do mês passado. Eis as músicas que entraram:
Lado A
Alabama 3 – “Woke Up This Morning”
R.L. Burnside – “It’s Bad You Know”
Frank Sinatra – “It Was A Very Good Year”
Lado B
Bob Dylan – “Gotta Serve Somebody”
Little Steven & The Disciples Of Soul – “Inside Of Me”
Cream – “I Feel Free”
Them – “Mystic Eyes”
Lado C
Bruce Springsteen – “State Trooper”
Bo Diddley – “I’m A Man”
Elvis Costello & The Attractions – “Complicated Shadows”
Nick Lowe – “The Beast In Me”
Lado D
Los Lobos – “Viking”
Wyclef Jean – “Blood Is Thicker Than Water”
Eurythmics – “I’ve Tried Everything”
E das tantas músicas boas que ficaram de fora (“Goin’ Down Slow” do Howlin’ Wolf, “Blur” do Aphex Twin, “Moonlight Mile” dos Stones, “One of These Days” do Pink Floyd, “The Blues is My Business” da Etta James, “I (Who Have Nothing)” do Ben E. King, “I’m Not Like Everybody Else” dos Kinks, “Kid A” do Radiohead, “My Lover’s Prayer” do Otis Redding e “Don’t Stop Believing” do Journey – como é que não entrou?) a ausência que mais sinto é a de “You Can’t Put Your Arms Around a Memory”, do Johnny Thunders.
Que música. Que série.
O funeral de James “Tony Soprano” Gandolfini – cuja morte completa um mês nesta sexta – foi realizado no fim do mês passado e reuniu não apenas sua família de sangue, mas também de TV. E a cerimônia foi um momento para reunir nada menos que todo o elenco original da série que lhe eternizou, como dá pra sacar nas fotos do Daily Mail – separei algumas aí embaixo. Um momento de tristeza, respeito e homenagem:
Putaqueopariu, o eterno Tony Soprano morreu hoje, na Itália, vítima de um ataque cardíaco. Com apenas 51 anos! 🙁
Quais são as melhores cenas de Sopranos? Mandaí links de cenas clássicos, vamos celebrar esse grande protagonista.
Falei outro dia de como o David Chase pode voltar a visitar os Sopranos no tempo em que o pai do Tony era o bambambam de Nova Jérsei e esqueci de linkar essa paródia que o Saturday Night Live fez outro dia:
O Paulie tá incrível.
Liv conversou com o criador dos Sopranos, David Chase, sobre seu novo filme (que ele considera apenas “OK”, Not Fade Away), sua primeira obra desde que encerrou a aclamada série da HBO, em 2007. Na entrevista, ela aproveitou para, inevitavelmente, cair do assunto principal da carreira do produtor e diretor, a vida e o trabalho do carismático Tony Soprano, e além de comentar a possibilidade de voltar àquele universo, mas em outra época (“Às vezes penso em fazer um preâmbulo dessa história. Algo sobre o pai do Tony Soprano e a juventude do Tio Júnior. Não descarto essa possibilidade”), Chase também foi categórico para voltar a afirmar sobre o que acontece no enigmático final de sua obra-prima:
“Eu sempre digo que, para mim, há um final fechado.”
Ele fala mais sobre isso na entrevista (neste link), contando alguns possíveis spoilers. Mas, convenhamos, a série da HBO terminou há mais de cinco anos e desde antes de seu estarrecedor último episódio, já era considerada um dos grandes feitos da televisão na história recente. É item obrigatório no cardápio de qualquer um que queira se considerar sintonizado com seu próprio tempo, aquele momento em que a produção cultural norte-americana começou a ser mais intensa na televisão do que no cinema. Por isso, não sei se dá pra falarmos em spoilers de Sopranos a essa altura do campeonato.
Dito isso, aproveito a deixa para falar sobre o final da série. Se você ainda não a assistiu, meta o rabo entre as pernas e vá fazer o seu dever de casa. Esqueça os pré-conceitos que você pode ter sobre uma “série sobre a máfia” e embarque em uma jornada emocional de um macho alfa em estado bruto, estremecido pela mudança de época que vivemos – tudo isso com direção, elenco, roteiro e trilha sonora afiadíssimos, e momentos de muita tensão emocional. É muito sintomático que, na abertura das três primeiras temporadas, o World Trade Center apareça visto do retrovisor para, depois do atentado em 2001 (que aconteceu quatro dias antes da estréia da quarta temporada da série), sumir do horizonte de Tony Soprano à medida em que ele sai de Nova York rumo à sua Nova Jersey, no início de cada episódio. Sopranos não é uma história sobre crime organizado e valentões do mal que fazem parte do funcionamento da sociedade moderna, mas sobre a crise desta sociedade, sobre como as tensões que vieram com o novo século estremeceram alguns conceitos básicos de cada um de nós, tanto individualmente quanto como civilização.
Não por acaso a série começa com a ida de Tony Sopranos à psicóloga, às escondidas, pois poderia pegar mal para sua reputação. Sim, é um preceito idêntico ao infame Máfia no Divã, mas tratado com doses excessivas de realismo, principalmente no que diz respeito às relações familiares. É uma questão mais ou menos parecida com a de Freaks and Geeks (contemporânea de Sopranos), mas o ponto de vista adulto é assumido no primeiro plano e não numa infantilização dos dramas da maturidade (Freaks and Geeks se passa em 1980 e fala da adolescência dos adultos que a produziram, na virada do século). A carga dramática ajuda a pesar para diferentes lados, seja nas relações que misturam família e trabalho ou na violência crua da rotina no crime, enquanto assistimos à ascensão de um jovem player rumo ao trono do crime organizado na costa leste dos EUA.
A partir de agora, vem os spoilers. Por isso, se você não assistiu à série, volte depois.
Em mais um capítulo da atual saga da Liga Extraordinária – 2009, com lançamento agendado para o fim do mês que vem -, Alan Moore nos soterra com referências a cada quadrinho. Nesta página, uma das várias antecipadas pelo Bleeding Cool, há referências a Lost (a banda Driveshaft, no poster), Sopranos (o rapper Massive Genius) e The Wire (Stringer Bell e Slim Charles no penúltimo quadrinho), entre outros…
Quem acha a atual musa do pop nesta cena do melhor seriado do século? Quem achou foi a Entertainment Weekly.