A literalidade bate

Terceira segunda-feira da temporada que João Barisbe está fazendo este mês no Centro da Terra e desta vez seu Turismo Inventado nos conduziu às mesmas canções que apresentou nas duas outras noites – quando foi acompanhado primeiro de sopros e depois por cordas – desta vez puxando o naipe de percussão. E assim, acompanhado de Charles Tixier na bateria, Beto Angerosa nas percussões, Pedro Abujamra no piano e Arthur Decloedt no contrabaixo acústico, João, com seu sax, guiou uma noite de ritmo e pé no chão que quase sempre partia do jazz funk para novos lugares musicais que explorava à entrada ou solo de cada músico no palco. Além destes, João pode contar com dois vocalistas – que também tocaram guitarra em suas participações -, que, mais que conduzir canções, soltaram palavras e textos que, musicados, tornavam-se canções, mas que habitavam mais a prosa poética do que letras de música. Primeiro veio Pedro Pastoriz, conjecturando sobre conexões feitas entre pessoas na terra e no céu (literalmente, a partir de aviões), seguido mais tarde por Sophia Chablau, cuja poesia cantada nos levava a cidades reinventadas em suas rotinas, até finalmente concluir a terceira noite destas apresentações com a épica “Cometa Javali”, que veio pela segunda vez com letra e, como as outras incursões vocais da apresentação, nos induzia à literalidade das descrições para mais uma vez nos soltar no abismo de imaginação e possibilidade, amarrando tudo para a próxima segunda-feira, última noite da temporada, quando o maestro reúne os naipes que trouxe nas primeiras noites em sua própria pequena orquestra. Vai ser imperdível.

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Sophia Chablau ♥ Felipe Vaqueiro

Essa duplinha acaba de anunciar que no primeiro dia do mês que vem formalizam sua parceria para além de singles e shows, quando lançam o álbum em dupla Handycam. Os santos de Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro, líderes de duas das principais bandas da nova geração, já tinham batido faz tempo, mas ao transformar a parceria em disco, reuniram uma cozinha inacreditavelmente foda (Bielzinho na batera e Cabral no baixo, além de contar com a participação do pai da Sô, Fabio Tagliaferri) e registraram esse encontro no estúdio Canoa, aos auspícios do grande Gui Jesus Toledo, que mixou o disco e lança pelo seu próprio selo, o Risco, que está tendo um 2025 muito foda, ao lançar alguns dos melhores discos do ano: Arnaldo Antunes, Jadsa e Pelados. E parece que vem mais coisa boa por aí – a própria Sophia que avisou! Veja a capa do disco abaixo:  

Valentim Frateschi ♥ Sophia Chablau

Baixista dos Fonsecas, Valentim Frateschi vem crescendo como músico das bandas de vários nomes em ascensão da atual cena paulistana (tocando com Nina Maia, Kim e Dramma, o projeto Maria Esmeralda, Monch Monch e Francisca Barreto, entre outros), ele aos poucos vem acalentando uma carreira solo que começou com o single “Falando Nisso”, em 2023 (com a participação da Nina), e revelou-se neste mês, quando anunciou o lançamento do álbum Estreito no próximo mês ao lançar um segundo single, a faixa que abre e batiza o disco e que conta também com Nina, desta vez fazendo coro. Além dela, também participam do disco, que será lançado dia 3 de setembro, outros colaboradores de Tim em outros projetos, como Caio Colasante, Thales Hashi, Amanda Camargo, Antônio Neves, Otto Dardenne, Gael Sonkin, Thalin, Quico Dramma, Francisca Barreto, entre vários outros, além de Sophia Chablau, com quem ele divide vocais no blues torto “Mau Contato”, que ele antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo. “Conheci a Sophia nas reuniões do Grêmio da escola, quando eu tava no sexto e ela no nono ano”, lembra o baixista. “Ela já tocava, compunha, bem na fase que eu tava descobrindo que eu também queria fazer isso e desde aí eu sou fã. Quando compus ‘Mau Contato’, em 2022, eu brincava de ficar cantando a melodia dela uma oitava acima, bem agudo, de onde veio a ideia de que precisava ter uma voz junto com a minha. Fiquei cozinhando a ideia de quem seria – eu já pensava muito nela – e em 2023, quando estava gravando as bases do álbum, ela respondeu algum stories que eu postei no estúdio e na hora tive certeza que era pra chamar ela pra dividir a faixa comigo. Gravamos os takes dela um ano depois, e além da interpretação da canção, aquela melodia linda e cheia de fuzz no final da música é a voz dela – uma linha dela ali, na hora”, conclui, reforçando que após essa gravação que ele descobriu que o que vinha gravando não era um EP e sim um álbum propriamente dito. Muito bem…

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #840: Direto ao assunto

Vem.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #839: Sem muita conversa

Vamo lá.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #832: Só com música de 2025

Tava devendo, mas tá aí.

Ouça abaixo:  

Tranquilo ou Aflito?

O Picles sempre se supera e para realizar o primeiro show da dupla Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro após o lançamento de seu primeiro single, reuniu Luiza Brina e Bruna Lucchesi para apresentar-se antes da dupla, inaugurando uma nova noite e um novo conceito: o AFLITO SP, numa tiração de onda com a versão paulistana do Tranquilo, transformando seu neon motivacional “ouvidos atentos, corações abertos” num slogan que tem mais a ver com o portal interdimensional no coração de Pinheiros – “pernas inquietas, corações disparados”. A primeira edição acontece dia 16, mas pelo jeito vai longe. Coisa fina, daquelas que só o Picles faz pra você. Os ingressos estão à venda neste link.

Clara Bicho vem com a Sophia Chablau

A nova safra indie brasileira está vindo à toda e há artistas novos surgindo em todos os lugares – e não é diferente em Belo Horizonte, terra da Clara Bicho (já tinha falado dela no ano passado), que lança mais um single nesta terça-feira e antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. O delicioso groove minimalista de “Cores da TV” também marca sua parceria com Sophia Chablau e o primeiro degrau de seu EP, que será lançado ainda neste semestre. “Um dia compartilhei que gostava muito de uma música da Sophia e nunca tínhamos conversado antes”, lembra a compositora mineira, que conheceu o trabalho de Sophia com sua banda Uma Enorme Perda de Tempo há uns três anos. “E ela me respondeu dizendo que curtiu meu trabalho, me mandando uma mensagem logo em seguida me convidando para a gente fazer alguma música juntas”. Clara lembra que “sempre me chamou atenção a forma como ela compõe, como escreve, como usa as palavras e cria as melodias – de alguma forma me identifiquei.” Marcaram de se conhecer quando Clara veio a São Paulo, mas, por motivos de saúde, as duas só puderam se conhecer quando Sophia foi para Belo Horizonte. Ao perguntar pra Sophia como ela foi convidar alguém que mal conhecia para compor juntas e “ela me disse que antes tinham falado de mim para ela e que ela ‘tinha que me conhecer e nos daríamos bem'”. Tanto deu que eis aí a colaboração, ouça abaixo:  

Sophia Chablau, Felipe Vaqueiro e o começo de uma nova era

Eis a capa do primeiro trabalho solo de dois vocalistas de duas das novas bandas mais importantes desta década, em primeira mão para o Trabalho Sujo. O compacto que reúne as faixas “Nova Era” e “Ohayo Saravá” lança as carreiras solo de Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro transformando-os em uma dupla, que está junta desde a turnê que fizeram juntos com suas respectivas bandas, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Tangolo Mangos. “Eu gosto muito das composições dele e sempre quis fazer alguma coisa junto”, me explica Sophia por áudio de WhatsApp, comemorando o lançamento o compacto, que será lançado na próxima quinta, numa parceria do selo Risco com o selo português Cuca Monga. “Foi muito gratificante porque além de eu ser muito fã das composições dele, fiquei muito fissurada no jeito que ele toca violão”. Os dois já vinham tocando as duas músicas nos shows que fizeram juntos no ano passado ou separadamente – Sophia tocando “Nova Era” em seus shows solo e Vaqueiro tocando “Ohayo Saravá” com sua banda, mas o resultado em disco fica longe das versões ao vivo, por conta da produção e dos músicos que entraram na dança. Os dois produziram o single ao lado do capo do selo Risco Gui Jesus e contaram apenas com Marcelo Cabral e Biel Basile tocando baixo e bateria, em ambos casos abrindo novas dimensões para as duas canções – “Ohayo” especificamente deixou de ser um rock frenético para assumir um instigante e improvável ar jazz. E a brincadeira não para nessa música, como Sophia reforça: “Esse é o começo de um novo projeto, de uma nova organização, de se pensar música e fazer música”.

Inferninho Black Lodge

Calhou de fazer o primeiro @inferninhotrabalhosujo no Porão da @casadefrancisca no mesmo dia em que David Lynch foi para o plano imaterial e o cenário não poderia ser mais adequado para celebrar a importância do mestre, com pesadas cortinas vermelhas e o ladrilho contínuo do chão da casa transformando o Inferninho num black lodge involuntário. Pois essa bênção etérea deu o tom da noite, que começou com o primeiro encontro público de Olívia Munhoz e Sophia Chablau no projeto Lembrancinha, em que as duas cantarolaram suas respectivas canções abusando de efeitos elétricos nas guitarras e nos pedais, alternando entre a melodia e o noise com direito a respectivos momentos solo, quando uma deixava o palco para a outra brincar sozinha. Tudo sob a supervisão sônica da carabobina Alejandra Luciani, terceiro elemento (ainda) invisível do projeto, que de vez em quando chegava perto do palco para fazer suas intervenções. A noite continuaria com o show frenético do Ottopapi.

Depois foi a vez de Ottopapi invadir aquele black lodge. Prometendo gravações de suas canções ainda para esse ano, ele reforçou que suas jovens hinos underground (“Bala de Banana”, “Controle”, “Pó Poeira”, entre outras joias) só podem ser ouvidos em seus shows e acompanhado por um quinteto de ouro (Thales Castanheira, Vitor Wutzki, Gael Sonkin, Bianca Godói e Danilera) conseguiu ligar a química do Inferninho ao fazer o público, que estava assistindo ao show anterior sentado, levantar e dançar juntos esse rock de linhagem velvetundergroundiana, puxando a linhagem nova-iorquina de um rock paulistano que vai ser bastante ouvido em 2025. A noite seguiu essa linha na discotecagem que eu, Pérola e Bamboloki fizemos juntos – e que mais tarde descambou até pra latinidades, numa primeira edição quente do Inferninho na Casa de Francisca. Quem foi sabe.

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