Sónar e tecnologia

, por Alexandre Matias

Na edição de segunda do Link também entrevistei Ricard Robles, um dos fundadores do Sónar, sobre o papel de um festival de música em tempos digitais.

Palco, web e público
Fundador do festival de música e tecnologia Sónar, que acontece em São Paulo esta semana, discute impacto da internet no hábito de ouvir e curtir música

Criado há 18 anos na Espanha, o festival Sónar chega pela segunda vez ao Brasil no próximo fim de semana (a primeira edição foi em 2004), quando reúne, na sexta e no sábado, alguns dos principais expoentes da música pop contemporânea no Anhembi.

Diferente da maioria dos festivais, que chamam artistas de apelo popular para atrair um grande público, o Sónar sempre optou por atrações pouco conhecidas ou que estejam em ascensão, se firmando, em quase duas décadas de atuação, como farol para as novas tendências do mercado da música.

Mas como a música vem passando por uma transformação brutal, que envolve desde os processos de criação e distribuição, até a forma como a música é consumida e curtida, qual é o papel de um festival que sempre levantou a bandeira das novas tecnologias? Quem responde é um dos criadores do festival, o espanhol Ricard Robles, que esteve no País há poucas semanas, para acompanhar os preparativos do evento de música.

“Você tem razão quando diz que um evento que se ampara em apresentações ao vivo sofre pouco impacto frente às mudanças que estamos vendo – afinal, a natureza deste tipo de evento é anterior mesmo à era da música gravada”, explica. “Mas as transformações recentes mostram que há uma mudança crucial na forma como as pessoas consomem música. Hoje, graças à onipresença da internet, de computadores e de celulares, ouvir música está se tornando uma atividade cada vez mais solitária, individual. A importância do Sónar reside em proporcionar um momento de comunhão palpável para uma geração que não tem nem mesmo alguma referência física no que diz respeito à música. Não há mais CD, nem capas de discos. A música tornou-se uma experiência”, conclui.

Ele ressalta a importância do painel Sónar Pro, dedicado a palestras e discussões sobre o mercado da música, que sempre existiu no festival, mas que ganhou relevância nos últimos anos. “Começou como uma vitrine, mas hoje se tornou uma parte importante do festival para discutirmos o futuro deste mercado”, comenta.

Mas, com todas as mudanças, o formato palco-público ainda obedece à antiga fórmula, separando o artista da audiência, uma tendência que tem sido demolida na medida em que os meios digitais se popularizam. Será que é possível pensar em um festival que contemple a participação do público?

“Acredito que sim, e isto já vem acontecendo, mas acho que é uma dúvida que vai ser solucionada pelos artistas”, conta, citando o produtor Richie Hawtin como um exemplo prático. “Ele colocou uma pessoa para twittar em seu perfil quais músicas que estava discotecando. Ainda é um rascunho do que acho que vamos assistir no futuro, mas tais experimentações tem de partir dos autores, dos compositores”, conclui o espanhol.

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